sábado, 31 de julho de 2010

Tootsie


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Filme estadunidense de 1982, é considerado a 2ª melhor comédia de todas pela AFI (American Films Institute). Levou Oscar em “melhor atriz coadjuvante”, Globo de Ouro em “melhor filme”, “melhor ator” e “melhor atriz coadjuvante”, BAFTA de “melhor maquiagem” e “melhor ator”, Prêmio César de “melhor filme estrangeiro”, Prêmio Bodil de “melhor filme não-europeu” e Prêmio WGA de “melhor comédia escrita para o cinema”.

Em Nova York, 90 a 95% dos atores estão desempregados e Michael Dorsey (incrivelmente interpretado por Dustin Hoffman) se encontra como um deles. Apesar de ser um bom ator, é incrivelmente chato e grosseiro, entrando na lista negra de NY até Hollywood.

Ele encontra a sua solução ao usar seu dom da interpretação para se vestir como mulher e tentar um teste numa novela. E ele consegue o papel, por se diferenciar das outras mulheres. Assim, ele passa a conhecer o mundo de preconceitos e assédios que, diante os olhos dos homens, são perfeitamente aceitos, mas são injustos e inadequados.

Antes solitário e egoísta, Dorothy (Michael travestido) passa a ser uma pessoa educada e segura de si mesmo, aprendendo a respeitar as mulheres e a apreciar (de forma fraternal) os homens. Ao mesmo passo, se torna uma estrela muito conhecida e seu contrato se renova.

Como sempre, o que chega para quebrar a nova vida não é nada menos que o AMOR. Sua melhor amiga, Sandy, apaixonada por ele, passa a acreditar que o mesmo é gay. E a pessoa por quem Michael se apaixonou, Julie, é atriz da mesma série que ele e acredita que o mesmo seja mulher. Por um deslize, Dorothy beija Julie, e assim, Julie se afasta dela, por achar que a mesma é lésbica. No mesmo momento, Les, pai de Julie, pede Dorothy em casamento e o velho ator da novela tenta estuprá-la.

Assim, na primeira oportunidade que teve, ao vivo, Dorothy mostrou o verdadeiro Michael Dorsey que era, num discurso de vingança em nome das mulheres. Não é uma completa mentira, mas também não era verdade. O amor falou mais alto, e esse amor aconteceu pelo respeito e entendimento que aprendeu a ter pelas mulheres. O que importa é que no final, como uma boa comédia, Michael ganha fama e recupera a confiança daqueles que lhe eram próximos. Afinal, não é sempre que um final Hollywoodiano é ruim, certo?

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Cats


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Esse é um musical de Andrew Lloyd Webber e foi lançado pela primeira vez em Londres no ano de 1981. Não é realmente um filme, mas sim uma peça de teatro. Uma das mais prestigiadas da broadway e talvez a que se mantém a mais tempo em cartaz pelo mundo afora. Essa peça foi filmada para a TV, se tornando, de certo modo, em um filme.

A história se baseia na vida dos gatos Jellicles, que se reúnem para escolher qual gato  renascerá na nova 'vida jellicle'. Por algum tempo, se imagina esse 'prêmio' seja a formação de uma nova liderança dos gatos, mas não, é na verdade a liberação da vida para ir para um 'céu de gatos' (heavyside layer, como eles chamam).

Em meio aos gatos, se destacam algumas personalidades que são facilmente perceptíveis em nossa vida. E cada um deles se mantém em nossa memória por suas maneiras peculiares.

Há a mãezona que cuida dos incuráveis (ratos e baratas, no caso), torcendo sempre pela vitória dele, por mais que os mesmos não parem de fracassar; Tem o jovem  desobediente, teimoso e contraditório, que apesar de ter tudo que quer, quer o que não tem e renega o que tem; Há a velha e solitária gata, que apesar da feiura atual, foi a mais bela quando jovem, mas que envelhecer trouxe a destruição de toda uma vida; Há também o aristocrata rico, vaidoso e guloso, como um lorde inglês, é educado e elegante, mas não passa de um comilão ocioso; os irmãos ageis e preguiçosos que são unidos e fariam qualquer coisa pelo outro; Por fim, há o velho ator do teatro, que ao envelhecer, se tornou ultrapassado, e para não esquecer de sua antiga paixão (que era atuar) se tornou porteiro do próprio teatro.

Para a solução da escolha, os gatos chamam o mago Mistofelles para encontrar o mais antigo de todos os gatos: Deuteronomy. E ninguém irá vencê-lo, nem o rei do crime Macavity, o qual todos temem. No encerramento, Deuteronomy faz a sua escolha, a velha gata que já foi bela um dia. Ela já havia vivido o purgatório que era a sua vida por muito tempo. Já era hora dela partir (literalmente). E todos concordam com isso (até com certo alívio, por saber que ela iria embora pra sempre).

Em meio a uma coreografia dinâmica (onde mistura o clássico e o moderno constantemente) o instrumental chama atenção pela sua impecabilidade. Há uma falta de 'conflito' na história, mas percebe se que, no final, a peça era uma mensagem clara: Cuide bem de seu gato.

sábado, 10 de julho de 2010

Coco antes de Chanel

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Coco Avant Chanel

Filme francês de 2009, é uma biografia de Gabrielle Chanel antes de ela ser o maior nome da moda mundial. Antes do império Chanel, Gabrielle era uma menina órfã e pobre cujo sonho era se tornar cantora. O fato dela saber costurar nunca foi motivo de orgulho e nem era considerada uma boa aptidão dela nesse assunto. Na verdade, Chanel não entendia nada de moda.

“Perdi meu cachorrinho Coco! Alguém viu o Coco? Meu Coco que adoro?”

O nome Coco veio de uma música (“Qui qu'a vu Coco”) que Gabrielle cantava com sua irmã em Montparnasse (em Paris, França). Foi nesse mesmo lugar que Coco conhece Balsan e sua irmã conhece o barão com a qual se junta mais tarde (ascendendo na sociedade, apesar de nunca ser realmente aceita nela). Sozinha e descontente com o fato de ser uma simples costureira, se muda para a casa de Balsan (convencendo-o de ficar por lá por um tempo, tempo esse que foi se arrastando).

“Falo quando tenho algo para dizer.”

Balsan era o herdeiro de uma tradicional e riquíssima família. Apesar de grosseiro, é a primeira pessoa a entender as ‘excentricidades’ de Coco e talvez seja o que mais a amou durante toda vida. Em meio às festas e bailes, Coco passa a conhecer a alta sociedade parisiense. E apesar de criticá-la, achando-a ridícula, cria certa atração por ela e pela sexualidade que ela trazia. Nunca concordou com a moda da época pelo simples fato que não eram confortáveis. Demoravam-se horas para vestir as roupas, impediam os movimentos mais soltos das mulheres e as deixavam muito expostas. De certo modo, Coco era até conservadora, por preferir que as mulheres preservem suas partes corporais e se libertem do machismo de ter que usar algo para agradar o homem.

“A pele é igual em todos os corpos.”

Na casa de Balsan, ela conhece Emilliene, uma atriz de teatro da alta sociedade e amante do próprio Balsan. Apaixonada pelos chapéus singelos e confortáveis de Coco, Emilliene se tornou a primeira “cobaia” para a mente criativa de Coco, que modificava aos poucos a maneira de se vestir. Em uma dessas festas, Coco conhece Artur Capel, um milionário inglês, amigos de negócio de Balsan. Com o apelido de Boy, passa a se aproximar de Coco e a incentivar a nova moda que ela começava a criar. É em uma viagem com ele que ela cria o famoso “pretinho básico”, usado até hoje. É com ele, também, que ela decide voltar a Paris e criar uma chapelaria (criada com o dinheiro dele) abandonando Balsan e seu pedido de casamento.

“Sempre soube que não seria de ninguém.”

Por mais estranho que pareça, quando Coco descobriu que Boy tinha uma noiva e iria se casar, a relação com eles se fortaleceu (apesar de todos os problemas de viverem distantes um do outro). Mas, pouco antes de passarem as férias juntos por um mês, Boy sofre um acidente de carro e morre, trancando o coração de Coco para sempre. Usando sua força e firmando seu rosto firme e carrancudo, Chanel passa a criar modelos de roupas e a vendê-las em sua loja, criando seus desfiles. Assim inicia a era Chanel e acaba o filme. E como ele é muito mais olhar e diálogo, a última cena não deixa de passar em seus olhos vazios e profundos o futuro conturbado que ela terá.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Barra 68 - Sem perder a ternura


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Documentário brasileiro feito em 2000. Retrata a decadência da UnB e o sofrimento dos estudantes brasilienses, que chegou ao ápice em 1968. Dirigido por Vladimir Carvalho, se tornou em uma das cinematografias mais relevantes sobre a ditadura militar brasileira. Apesar da falta de apuro técnico, o conteúdo fez com que a obra tenha valor inestimável. Esse filme nasceu com a declaração de Darcy Ribeiro, que tinha como sonho construir uma universidade completamente moderna e diferenciada. Sonhos esses que foram interrompidos pela era ditatorial.

A UnB nasceu para ser uma universidade autônoma, com pensamentos originais e críticos. Infelizmente ela nasceu em 1962, dois anos antes do Golpe Militar e seis anos antes do AI-5, que arrasou qualquer direito civil e individual que existia até a época. E, claro, minou o futuro de qualquer geração que existia até aquele tempo (e as futuras, como o filme pode comprovar).

A universidade não sofreu como as outras instituições durante a ditadura. Não, ela foi uma das que MAIS sofreram. Sendo invadida pelos militares desde o começo, fez com que quase 90% dos professores se demitissem como uma forma de protesto coletivo. Além disso, muitos estudantes foram presos e humilhados, sendo aprisionado em quadras de basquete e no Teatro Nacional. A crise na UnB fora tão forte que ela se tornaria uma das principais responsáveis pela implementação do AI-5. No filme é mostrado também como a UnB se fortaleceu como ensino público, mas que perdeu todo seu ideal de criação, deixando de a tal universidade moderna que ela tinha potencial de ser.

O filme também conta com registros de imagens e sons feitos na época, raros no dia de hoje. Certa parte foi encenada para chamar mais a atenção do espectador, mas apenas os registros e depoimentos das pessoas que viveram o momento já são mais que suficientes. É uma jóia para o cinema Brasileiro. Uma jóia que fala criticamente, mostrando todos os podres abertamente, mas sem acusar. Assim como devia ter sido a universidade desde que ela nascera.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

UP - Altas Aventuras

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

UP

Animação criada em 2009 pela Disney. Foi a 1ª a ser 3D da Pixar. O personagem idoso Carl foi parcialmente baseado no ator hollywoodiano Spencer Tracy. Para o prêmio de “melhor animação” e “melhor trilha Sonora” levou um Globo de Ouro, Oscar e BAFTA. No Annie Awards levou dois prêmios: “melhor animação” e “melhor direção de longa-metragem”. Up também foi a segunda animação a concorrer um Oscar de “melhor filme” (a primeira foi Bela e a Fera, em 1991).

“A Aventura está lá fora.”

Fazendo o uso de personagens “clichês” (um velho amargurado com a vida e um jovem desastrado desiludido e carente), o filme conseguiu se reinventar por fazer uso de uma idéia simples (redescoberta da vida e busca de seus próprios sonhos) com tanta emoção e realismo. Pode-se dizer que essa animação foi criada direcionada mais aos adultos que as crianças, para que eles possam entender que a vida não acaba quando envelhece. E que, mesmo velho, pode-se ser útil com os novos.

A história então se baseia na desilusão de Carl ao ver a esposa morrer de velhice bem no momento em que ele compra a passagem para ir ao Paraíso das Cachoeiras. Com o mundo se modernizando à sua volta, conseguem obrigá-lo a sair da casa que tanto amava. Ele, em um gesto teimoso, pendura a casa e muitos balões e a carrega para o tal paraíso das cachoeiras, levando assim a Ellie (que seria representada na própria casa).

“Acabei de te conhecer e te amo.”

O filme fala do amor puro e simples. Carl e Ellie se amaram intensamente apesar de nunca terem conquistado o sonho de conhecerem o Paraíso das Cachoeiras (inspirado no Salto Angel, cachoeira mais alta do mundo que fica na Venezuela). Russell acaba se afeiçoando ao velho por causa da vontade de ajudá-lo (e assim, ganhar a medalha de escoteiro) e por causa da viagem inesperada, é claro. Kevin, o pássaro raro se apaixona por Russell e passa a tratá-lo como filhote (ainda mais depois de experimentar o chocolate e ter recebido ajuda dele na fuga). Dug é o cachorro treinado para capturar Kevin, mas que, por causa do seu grande coração, se apaixona por Carl, não se importando mais com o pássaro, mas sim com a felicidade de seu mestre.

“Conheci o ídolo da minha infância e ele quer me matar. Essa é boa.”

Charles Muntz aparece como o alter-ego de Carl, aquele que Carl seria se não fosse por Russell, Dug e Kevin. Se isolando do mundo ao ver sua fama ser malfadada por não conseguir comprovar a descoberta do pássaro (Kevin), Charles cria os tais cachorros falantes e não se preocupa em ser sem escrúpulos para conseguir o que quer, chegando a queimar a casa de Carl e a prender o jovem Russell. Tudo por causa de um pássaro.É nesse momento que Carl confronta sua própria personalidade e, apesar de seus esquivos, toma uma posição honrosa.

“É só uma casa.”

Ao descobrir que o sonho de Ellie não era mais conhecer o Paraíso das Cachoeiras, mas sim viver ao lado de Carl por toda a vida, ele percebe que o mais importante está nos momentos bobos e chatos, com aquelas pessoas que estão sempre presentes. E as que querem estar presentes. Ao ser confrontado, Carl abandona seus objetos e a casa e enfrenta o seu ídolo pelo bem de seus novos amigos. No final, ele percebe que a amizade não necessita que estejam juntos sempre. Ellie morreu mas estaria sempre com eles. Kevin voltou para a sua vida no Paraíso das Cachoeiras e Carl adota Dug como seu cachorro e Russell como seu protegido, iniciando, assim, uma nova vida cheia de aventuras e sonhos. Mas para falar a verdade, a redenção do filme foi ver a casa de Carl e Ellie no lugar que eles sempre sonharam, aos pés da cachoeira do Paraíso das Cachoeiras.

“Eu sei que parece chatice, mas são as coisas mais chatas que eu lembro.”