quinta-feira, 29 de abril de 2010

Diários de Motocicleta


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.


 
Filme lançado em 2004, é dito como Argentino, mas foi produzido também pelo Brasil, Reino Unido, Chile, Estados Unidos, Cuba, Alemanha, Peru e França. Levou o Oscar de “melhor canção”, BAFTA em “melhor filme em língua não inglesa”, Prêmio Goya em “melhor roteiro adaptado”, “melhor filme”, “melhor estréia” no Independent Spirit Awards e recebeu o Prêmio Anthony Asquith pela música. No Festival de Cannes, levou o Prêmio François Chalais e o Grande Prêmio Técnico enquanto no Festival Internacional de Cine di Donostia - San Sebastian, levou o Prêmio do Júri. A canção “Al outro lado del rio” foi a primeira em espanhol a concorrer e ganhar o Oscar. O filme foi dirigido pelo Walter Sales (diretor Brasileiro que também dirigiu o “Central do Brasil”).

“O que tínhamos em comum: nossa inquietude e espírito sonhador... E paixão pela estrada.”

O filme foi inspirado nos verdadeiros diários da primeira viagem na América Latina de Ernesto Guevara de La Serna e Alberto Granado. Apesar de o filme ser sobre Guevara, não é sobre o Che Guevara, mas sim sobre a sua transformação e os passos iniciais que o levaram a ser o famoso guerrilheiro comunista que ele foi. Essa viagem foi feita em 1952 quando Guevara ainda estava na faculdade de medicina. Ele se juntou com Granado, seu grande amigo de infância, e partiram para uma viagem espontânea na moto Norton 500, que foi batizada de “La Poderosa”. Essa moto iria quebrar no meio do caminho, os obrigando a terminar a viagem por meio de caronas e amizades. Com essa viagem, ele é capaz de conhecer os problemas sociais e os preconceitos que rodeiam a América Latina. Depois dessa viagem, Guevara e Granado só se reencontrariam novamente oito anos depois em Cuba (dominada por Fidel Castro e Che Guevara).

“Em seus olhos moribundos, mil pedidos de desculpas e uma súplica desesperada de consolo, que se perde no vazio, como logo se perderá o seu corpo na enormidade do mistério que nos rodeia.”

Guevara, na época, era um jovem sonhador. Havia feito medicina exclusivamente para ajudar aos outros. Totalmente romântico, ele chegou a dar uma cachorrinha à sua namorada e a batizou de “Comeback”, como uma forma de garantia que ele voltaria para buscar a cadelinha e ficar para sempre com essa namorada. No meio do caminho ela iria abandoná-lo. Granado, seu amigo, é sempre visto como um cara safado que adora os prazeres da vida, mas que tem sim, um coração amoroso e está disposto a ajudar as pessoas que necessitam dele. O filme passa o tempo todo, a idéia de liberdade, refletindo constantemente sobre a vida. Por várias vezes, nos faz lembrar a história de Dom Quixote (na qual o Quixote seria o Guevara, um filósofo sonhador e Granado seria o seu fiel escudeiro, que alterna entre as filosofias e o mundo de prazeres real). Mostrando sempre o lado humano, o filme faz certa apologia ao ideal de comunismo que levou o Guevara a ser quem ele foi. Foi no meio da viagem, em Lima, no Peru, que eles começaram a ter contato com os ideais de revolução.

“Tem que lutar por cada sopro de ar e mandar a morte para o inferno.”

Os dois passaram por muitas situações que fariam qualquer um querer cortar os pulsos. Entre eles estão os trabalhadores de minas, que, em sua grande maioria, são comunistas, mas que o governo não liga (para esses especificamente) por seus trabalhos serem muito perigosos e os indígenas que vivem em seu eterno paradoxo de terem muitas terras, serem obrigados a ceder suas terras e terminarem sem terra nenhuma. O ponto alto da viagem é a chegada deles ao Machu Picchu, no qual eles se dão conta da real beleza que há na natureza e na simplicidade. Mas o ponto de amadurecimento seria no hospital para leprosos de San Pablo, no Peru. Lá eles conviveriam com pacientes realmente carentes que vivem sob uma rígida administração religiosa (que se mostrou, por muitas vezes, inflexível e preconceituosa). Eles adquiriram a capacidade de se aproximar dos seus pacientes (mesmo que isso quebrasse regras importantes e o fizessem passar por grandes apertos) e começaram a se livrar de julgamentos preconceituosos de qualquer tipo, levando os a uma crença de uma única raça mestiça que desceria do México até o Estreito de Magalhães. A parte mais simbólica do filme é a travessia do rio: antes ele era apenas um jovem tímido indignado com o mundo, depois ele se torna um homem maduro, responsável e capaz de proteger todos aqueles que necessitam dele. E é nessa pessoa que ele se tornará anos mais tarde. Para bem ou para o mal.

domingo, 25 de abril de 2010

O Enigma de Kaspar Hauser e sua análise de acordo com Stuart Hall

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Jeder für sich und Gott gegen alle (título original do filme)
O filme foi lançado em 1974 pela Alemanha Ocidental e tem como diretor o célebre Werner Herzog. A história é verídica, mas até hoje os motivos do assassinato são um mistério. O título original é “Jeder für sich und Gott gegen alle” e significa “Cada um por si e Deus contra todos”. E é a partir da idéia desse título que o filme se desenrola.

Kaspar Hauser era um menino de 15 anos que, em 1828, fora encontrado em uma praça de Nuremberg. Ele havia sido submetido ao confinamento por toda a sua vida e nunca teria tido algum contato com nenhum ser humano (seu alimento era colocado através da porta enquanto dormia). Por causa desse confinamento a que foi submetido durante toda sua vida, Hauser ignorava qualquer idéia de lar, educação, ciência e religião (as quais a sociedade considera, no mínimo, importantes para a sua própria sobrevivência). Depois de 4 anos, sob os cuidados de um professor interessado na sua formação, foi assassinado no jardim de sua casa.

Stuart Hall é o escritor do livro “A identidade cultural na pós-modernidade”. No livro, Hall faz a análise da crise que estaria acontecendo com a identidade cultural, focalizando no sujeito, na sociedade e na nação e o processo de globalização. No mesmo, é mostrado as três concepções de identidade do sujeito: do iluminismo; do sociológico e do pós-moderno. Ao desenrolar do livro, é perceptível certas ligações entre o livro e o filme de Kaspar Hause.

Das três concepções de Hall, Hauser se encaixa no sujeito do iluminismo. Ao crescer isolado da sociedade, não foram dirigidas a ele valores, sentidos e símbolos, o distanciando daquilo que chamamos de cultura, ou seja, seu eu real não é formado e modificado por elementos exteriores, então ele não poderia ser um sujeito sociológico. Por não participar do processo de formação do sujeito soiológico, ele não possui identidades contraditórias, como diz o sujeito pós moderno. Por fim, sua personalidade se torna individualista, centrada e unificada, fazendo o uso do núcleo interior durante seu desenvolvimento. Isso dura até no momento que ele entra em contato com a sociedade, que tenta modificá-lo de todas as formas possíveis.

Seja com a religião tentando fazê-lo crer em Deus, a ciência fazer testes de lógica que não serviam para ele e a nobreza usá-lo como uma peça excêntrica e única, nada se encaixou com a personalidade dele, tornando-o um ser completamente deslocado, enxendo-o de tristezas que lhe faziam rever cada vez mais seus conceitos criados por toda uma vida sozinho.

Na sociedade moderna, é criada a figura do indivíduo isolado, exilado ou alienado em meio a uma multidão de pessoas. Essa figura se encaixa perfeitamente em Kaspar Hauser. Por mais que ele seja localizado e definido na sociedade moderna (seja como uma peça excêntrica, cobaia ou mais um cordeiro de Deus), isso não o integrou à sociedade, mesmo com toda a sua segurança e auto confiança. Isso reverteu o ciclo factual, que mostra o indivíduo com seu interior fragmentado enquando a sociedade se integra cada vez mais, por seus diferentes elementos e identidades que podem serem conjuntamente articulados. Hauser não tinha seu interior fragmentado (apenas pertubado por não entender o funcionamento de uma sociedade) e não se integrou a sociedade.

Hauser, apesar de tirar grande proveito da globalização, que são os processos de mudanças que atravessam suas fronteiras (ao sair do calabouço e se encontrar com o mundo de novidades), ele não criou uma identidade de cultura nacional, até por nunca ter tido uma antes. Como poderia ele se enxergar como parte de algo maior (como nós, que nos sentimos parte de um povo e uma nação) se ele nunca o teve? Para ele, a única coisa que importava era aquilo que ele dizia ao ser encontrado em Nuremberg:

“Quero ser um cavaleiro como o meu pai.”

ps: Esse filme e a análise através o livro de Stuart Hall foram partes de um trabalho feito para a minha faculdade de jornalismo. Não o tenho na minha coleção, mas ele foi tratado com a mesma atenção que os outros.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Hair


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Filme estadunidense lançado em 1979. É inspirado no espetáculo musical homônimo da Broadway. Ganhou o prêmio David di Donatello de “melhor diretor de filme estrangeiro” e “melhor trilha sonora de filme estrangeiro”. Sofreu muita censura no mundo inteiro, inclusive o Brasil (que estava na ditadura militar) pelas cenas de nudez e recebeu muitas criticas do EUA pelo desrespeito à bandeira americana.

“Daremos início à Era Aquário.”

Sendo o maior ícone de contracultura dos anos 60 e 70, suas músicas são alegres e contagiantes. Facilmente se tornaram ícones culturais, como a “Let the sunshine in” e “Aquarius”.

“Pai, por que essas palavras soam tão mal?”

Mostrando os hippies de uma maneira muito poética (contrariando as falsas imagens geradas pela mídia, mas também a realidade cruel que a eles foi submetida), abordou os questionamentos que perduram até hoje, sendo o principal deles o: quem tem capacidade de comandar a própria vida? Os jovens com sua coragem e abusos ou os velhos com suas experiências e preconceitos? A música “Hair” mostra a importância simbólica em manter o cabelo grande e natural, como se isso permitisse que você fosses a pessoa que você quiser ser (partindo do princípio que, se você não tem direito de ter o cabelo que quiser, como irá comandar a própria vida?). O filme tem como o maior objetivo mostrar a importância de você ser você mesmo sem ter medo de ser reprimido. Mas esqueceu de avisar as suas conseqüências.

“Eu estou evoluindo através das drogas que você rejeita.”

Essa frase deixa bem clara a importância da rebeldia na juventude. Para ser melhor que seus próprios pais, muito das coisas que lhe são proibidas são feitas. Isso inclui a liberação sexual, e a sua inconsequência perante a gravidez (quebrando assim, todas as regras de família que são impostas), o uso das drogas (trazendo uma literal fuga da realidade que não lhes agrada) e protestos. Fazendo uma grande sátira à crítica dos adultos que dizem que “ouvir essas músicas é coisa do inferno”, a música é sempre mostrada como desestabilizadora da disciplina (como mostra na cena em que os militares são obrigados a ouvirem um rock’n roll). E jogando o preconceito na cara de todos, uniu o pior e o melhor para os conservadores americanos ao mostrar os militares como gays (na qual eles cantam a famosa música “White Black Boy”).

“Acredito em Deus. E acredito que ele acredita em mim.”

Essa frase trás de volta a idéia de que o importante é que você seja quem você quiser, não importando qual posição você se encontra. A elite é mostrada de forma muito clássica e inflexível, sendo muitas vezes estúpidos e covardes. Apesar de não ser fiel à realidade, é interessante ver a forma de reação dessa elite diante as ações dos hippies (muito deles reagem com uma educação fora de contexto ou ficam simplesmente parados, recebendo ofensas com passividade).

“Como podem não ter coração? É fácil ser frio.”

Muito dos hippies, ao se preocupar com as injustiças mundiais, esquecem as que cometem dentro de casa (isso é perceptível na cena em que o hippie rejeita e humilha a mulher e o filho). Na verdade, o único que parece não ter reais defeitos e se mostrar como um idealizador ingênuo é o Berger. Ele é quem ajuda a todos sem temer as conseqüências e no final acaba por morrer, ao trocar de lugar no quartel militar com seu próprio amigo, que é um conservador crente, o Bkowisky. Isso mostra que é possível que um lute pelo outro, apesar de ter graves consequências (ou não). Berger, ao caminhar para a sua morte, deixa uma pergunta no ar:

“Para onde vou? Que me digam por que vivo e morro. Para onde me levam?”

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Moulin Rouge! - O amor em vermelho


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Moulin Rouge!
Filme australiano/estadunidense lançado em 2001, é inspirado na ópera de La Boheme e La Traviata. Venceu o Oscar de “melhor direção de arte” e “melhor figurino”, BAFTA de “melhor som” e “melhor música” e Globo de Ouro de “melhor filme”, “melhor trilha sonora” e “melhor atriz”. O filme termina a trilogia do diretor Baz Luhrmann, começada por “Vem Dançar Comigo” e “Romeu + Julieta”. Hoje, o filme se encontra em duas listas da AFI (American Films Institute): 25 melhores musicais de todos os tempos e 100 melhores músicas dos últimos 100 anos.

“A coisa mais importante que você aprenderá é simplesmente amar e ser amado.”

O filme conta a história de um amor impossível (lembrando-nos Romeu e Julieta, um dos filmes anteriores do diretor) entre a cortesã mais bonita do Moulin Rouge e um escritor pobre que tinha como sonho participar da Revolução Boêmia. Christian, o tal escritor, foi inspirado no Orfeu da mitologia grega. Ele teria um dom gigantesco e se apaixonaria uma mulher que não era destinada a ser dele (no caso da mitologia, é a Eurídice, que morre jovialmente e ele desce até o inferno para buscá-la). Satine é aquela personagem forte, segura de si e ingênua, acreditando que seguindo o caminho de cortesã, poderá se tornar uma grande atriz. Zidler é o dono do Moulin Rouge, severo e muitas vezes cruel, apesar de ter uma boa alma. Ele que inicia toda a trama ao dar ao Duque a exclusividade de Satine para que invista em seu querido Moulin Rouge.

“Um beijo na mão é bonito e sotisficado, mas os diamantes são os melhores amigos da mulher.”

Muitas músicas usadas e famosas de filmes anteriores foram usadas e modificadas para esse filme. “The montains are alive” de Noviça Rebelde, “Sparkling Diamonds” de Os homens preferem as loiras (originalmente cantada por Marylin Monroe) e o “The show must go on” do All that Jazz (último musical de real sucesso no cinema).

“Meu presente é uma canção, e esta é para você.”

Uma das maiores realizações do filme foi fazer o uso de músicas conhecidíssimas e populares, mas adaptando-as magistralmente, como se fossem criadas para o filme. Entre as musicas está a “Like a virgin” de Madonna, “Nature Boy” de David Bowie, “Roxanne” de The Police e “In the name of Love” de U2. E são através da música que as paixões se manifestam, tanto as negativas (entre duque e a cortesã) e as positivas (entre o escritor e a cortesã).

“O amor nos eleva. É tudo que precisamos!”

Com a chegada do século XX, os boêmios tinham como objetivo viver seguindo os seguindo os seguintes conceitos: verdade, liberdade, beleza e amor. Desse objetivo saiu a crença do amor verdadeiro e a libertinagem sexual. O maior inimigo desse amor viria de dentro de nós. Seria o ciúme. Ele projetaria toda a raiva da nossa alma e acabaria com nossa saúde e amor. A peça criada pelos personagens no filme é um verdadeiro ensaio sobre o amor. E, assim, a peça mostra a condição que se encontra a cortesã e o escritor, num verdadeiro mundo de emoções e impossibilidades.

“O show tem que continuar. Somos criaturas do submundo. Não podemos nos dar o luxo de amar.”

Em 1900, Paris fervilhava com a Revolução Boêmia e Moulin Rouge era um dos maiores centros parisienses. Sua fachada é um verdadeiro moinho vermelho e foi uma das primeiras a ter eletricidade. O filme se mostra fiel ao fazer o quarto medieval e o elefante, que realmente existiam. Era a maior e mais luxuosa casa noturna da cidade e havia varias formas de lazer, como cabinas privativas, salas escuras, coretos, bares, etc. Uma das danças mais populares da casa era o Can Can, vista como altamente sensual e puramente erótica. Para reconstruir tudo isso e montar o filme, foram necessários dois anos. Para mostrar toda a movimentação da casa e da época, o filme é o tempo todo vibrante, colorido, exagerado, alucinado, barroco e histérico. É como se o inferno estivesse na terra explodindo de prazeres carnais, e do mesmo, surgissem as verdadeiras e belas paixões.

“No amor pela melhor oferta, não há confiança. E sem confiança, não há amor.”

Quando o duque descobre a paixão, ameaça matar o escritor. Quando Satine descobre isso e que está morrendo de tuberculose, afasta-o dizendo que não o ama mais. Nisso se inicia uma explosão de sentimentos que vão da depressão a raiva, na qual a posição de vítima e agressora é trocada constantemente. A cena clássica do filme é a peça final. Enquanto a platéia se diverte achando que tudo é uma verdadeira comédia e no final ficam minutos aplaudindo, nos bastidores acontece o maior drama, levando a tragédia final, na qual Satine não resiste e morre devido a doença. É com essa história de amor platônico que Christian escreve o seu tão sonhado livro. Antes, não fazia idéia de o quanto esse livro custaria à sua alma.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sétimo Selo

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Det sjunde inseglet

Filme sueco de 1956, é uma das obras primas do cinema. Dirigido por Ingmar Bergman, tem como plano de fundo a Idade Média no auge da Peste Negra. Feito quando a população mundial ainda estava profundamente traumatizada pela Segunda Guerra Mundial e pelo uso da bomba atômica, o filme mostra bem o medo e a espera do fim do mundo. Ganhou o “Prêmio do Júri” no Festival de Cannes, “melhor ator estrangeiro” no Fotograma de Plata e “melhor diretor” e “melhor filme estrangeiro” no Sindicato Nazionali Giornalisti Cinematografice Italiani.

“Quero perguntar ao Diabo sobre Deus. Ele deve conhecê-lo melhor do que qualquer um.”

O filme é um relato sobre a dúvida e a condição humana, fazendo dos problemas existenciais do passado, uma verdadeira cópia dos problemas atuais. A frieza das relações humanas e espirituais no filme é marcante. Deus e o diabo não se manifestam em nenhum momento, deixando as duvidas do cavaleiro (e de todos nós) sem respostas.

“É tão inconcebível tentar entender Deus?”

Ao voltar das Cruzadas, o cavaleiro e encontra sua terra natal devastada pela Peste e logo encontra a morte. Ao invés de simplesmente aceitar morrer, a chama para uma disputa de xadrez (mesmo sabendo que perderia) e ela aceita (mesmo sabendo que jamais iria perder), e é nisso que consiste a essência do filme: busca do significado da vida enquanto é rodeado pela morte. Todos os aspectos que envolvem a religião é visto com grande cinismo (Como as Cruzadas, que são consideradas inúteis e a visão da peste como castigo de Deus). Apesar de toda essa crueza, o filme foi capaz de unir o misticismo à realidade ao falar das pinturas que mostram a morte jogando xadrez e retratando a sua dança (que realmente acontece no final do filme).

“Eu vi a virgem Maria.”

No final, o único personagem que sobrevive é o artista ligado ao mundo espiritual e sua família. Ele tinha capacidade de ver seres místicos, como a virgem Maria e a própria morte. Ele e a família mostram o que há de melhor no mundo: bonitos, jovens, alegres, viris, simples, humildes e, acima de tudo, sabem amar com profundidade e honestidade. Salvar a vida deles era o que o cavaleiro precisava para achar que sua vida foi, de alguma forma, útil. É engraçado perceber que depois que todos morrem, no final o artista vê uma luz no horizonte que nos faz lembrar da esperança de um futuro melhor. É como se todos os personagens sujos da vida tivessem saído, dando espaço para um mundo melhor.

“Dizem que uma mulher pariu a cabeça de um bezerro.”

Durante todo o filme, a humanidade é retratada como desesperada e moribunda. Não havia esperança e todos eram atingidos por uma histeria coletiva. As pessoas estavam morrendo e todos estavam se corrompendo. O padre que rouba os mortos, a procissão dos flagelados, as pessoas do bar que se divertem torturando um artista, entre outros, mostram como o mundo já estava se transformando num verdadeiro caos. Os personagens em si são uma verdadeira amostra disso: o ferreiro ciumento e infantil, a esposa infiel e desleal, o artista que só pensa em dinheiro e mulheres e o escudeiro que age como um verdadeiro anti-herói (salva a todos, mas por motivos chulos e em troca de algo que lhe agrade).

“Estamos impotentes, pois vemos o que ela vê, e tememos o mesmo.”

A desilusão do cavaleiro cresce e se transforma em conformismo ao ver os olhos de uma menina, condenada à fogueira por se relacionar com o Diabo, quando ela descobre que na verdade, ela não via o Diabo, mas sim o medo. Com isso ele percebe que não adianta encontrar uma resposta racional para o mundo espiritual. Enquanto isso, o escudeiro alterna entre o mundo filosófico (as indagações do cavaleiro) e o real (bares, mulheres e brigas), nos fazendo lembrar (não por acaso) de Dom Quixote.

“Inútil, reze para que eu não peide e mande idiotas como você para o inferno, onde poderá sentar e declamar monólogos até que o Diabo fique louco.”

Apesar de toda a profundidade do filme, ele possui uma comédia marcante e bastante risível. Os confrontos verbais chegam a ser engraçados, mas nunca deixam de ter algum sentido filosófico. Contudo, a canção alegre sempre perde para a marcha fúnebre. E as brincadeiras sempre nos lembram que, no fundo, há uma realidade cruel nela.

“O amor é a pior de todas as pestes, mas morrer de amor seria um grande prazer.”

Dito e feito. Todos morreram em volta do amor. O ferreiro e sua esposa se conciliaram no final, o escudeiro encontrou a sua parceira, que ficou contigo até a hora da morte e a esposa do cavaleiro não o abandonou, mesmo ele tendo sumido por 10 anos e a peste a ameaçar. Todos morrem, mas todos souberam aproveitar a vida ao seu modo e fazer uso daquilo que mais nos torna humanos: o amor.

“Deus, que deve estar em algum lugar, tenha piedade de nós.”

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Hamlet


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.


Filme estadunidense de 1990, baseado no livro homônimo de Shakespeare, foi o primeiro da empresa Icon Productions, fundada por Mel Gibson, que atuou no papel do príncipe dinamarquês Hamlet. Franco Zeffirelli é o diretor do filme e ele já foi responsável por outro filme Shakespeariano de renome: Romeu e Julieta. Apesar de a história ter seu reconhecimento mundial na literatura e ter mais de 70 adaptações da mesma, esse foi o filme que melhor a retratou cinematograficamente. Muitos críticos dizem que o filme transformou um jovem cheio de dúvidas existenciais em um enlouquecido pela sede de vingança. Em minha humilde opinião, acredito que o personagem seja os dois, e foi retratado de maneira bastante fiel à história original.

“Ser ou não ser... eis a questão. Quer será mais nobre para a alma? Sofrer pedras e setas com que a fortuna, enfurecida, nos alveja... ou insurgir-nos contra um mar de desventuras e pôr-lhes fim. Morrer... dormir. Não mais. Imaginar que um sono põe remate aos sofrimentos do coração e aos golpes infinitos que constituem a natural herança da carne e a solução para almejar-se. Morre... dormir. Talvez sonhar.”

O filme, que é uma comédia e uma tragédia e não é um ensaio à melancolia e insanidade mostra Hamlet, um príncipe que, ao entrar em contato com o fantasma de seu pai, morto em pouco tempo, entra em uma dúvida constante sobre se deve ou não vingar o mesmo e aceitar as consequências disso, já que o assassino seria seu tio, novo rei e marido de sua mãe.

“O mundo está fora dos eixos. Ó maldita sorte!”

Numa trama onde os principais não sairão vivos, Shakespeare consegue retratar um reino com problemas e dilemas que perduram até hoje na vida das pessoas. A religião é posta em xeque no momento em que Hamlet fica entre vingar seu pai ou deixar tudo nas mãos de Deus. E quando Hamlet escolhe o caminho mais sangrento, tudo começa a desabar.

“Ninfa, em suas orações, recorda-te de meus pecados.”

Antes de todo o drama começar, Hamlet havia prometido se casar com Ofélia (apesar dos protestos do pai dela, Polônio). Ela é a representação perfeita de uma boa moça da época. Calma, meiga, bela, amada e devotada ao pai. Polônio sempre fez questão de lembrá-la que Hamlet a fará sofrer. E ele estava certo. No meio de toda a trama, Polônio crê que Hamlet fica louco de amor e pede para ela ajudá-lo a provar essa loucura ao rei. Hamlet, descobrindo toda a jogada, se faz de louco e, para castigá-la, a atormenta. Em meio a diálogos que mal dizia de homens e a mandava se internar num convento, ela afunda na tristeza. Em um ato de loucura, Hamlet mata Polônio achando que era o rei. Para Ofélia, isso foi a gota d’água. Enlouqueceu, perdendo toda a sua graça e, num acidente infeliz, morre afogada.

“Ninguém se casa com o segundo sem matar o primeiro.”

Apesar de o fantasma de seu pai ter pedido para que Hamlet não julgasse sua mãe, ele a insulta extremamente, deixando a destruída por dentro. Apesar disso, o amor de mãe foi maior e ela se manteve fiel a ele. Ela realmente acredita que ele está louco, mas ama o, mesmo sem abandonar o novo rei, que o odeia pelos ataques que têm sofrido de Hamlet.

“Seria, agora, capaz de beber o sangue quente e fazer tais horrores que o dia ficaria trêmulo, olhando-os.”

Hamlet, com sua inteligência afiada, prepara uma peça que retrata a morte do rei da mesma forma que seu tio matou seu pai. Nessa cena, a alma de seu tio manifestaria seu crime e ficaria assim provado que ele é o culpado. O plano dá certo e realmente comprova a culpa do rei, mas somente para Hamlet, pois os outros acharam que o rei estaria apenas indisposto. Sabendo que Hamlet sabia de tudo e que era adorado pela multidão, aproveita para mandá-lo ao exílio na Inglaterra (por ter matado Polônio), cria uma conspiração para matá-lo lá (a qual Hamlet já sabia e modificou toda a situação) e mata os amigos mais próximos dele.

“Olhos sem tato e tato sem vista.”

Há uma verdadeira sátira á morte no momento em que Hamlet pega, deslumbrado, o crânio do bobo do rei, que havia morrido a tempos e fora amigo de Hamlet na infância. A falta de pudor que o príncipe tem ao pegar, observar e declamar sobre o crânio dele, mostra que realmente havia um fio de loucura embaixo de todo aquele poço de conhecimento e educação real que recebeu.

“É possível que o juízo de uma donzela seja tão mortal quanto à vida de um velho?”

Laertes, irmão de Ofélia e filho de Polônio, chama Hamlet a um duelo de floretes, na qual seria encenada uma luta (ou seja, ninguém morreria). O rei, ao perceber que terá uma chance, aproveita a sede de vingança de Laertes para conspirar contra Hamlet. Os dois, então, envenenam o cálice de vinho de Hamlet e a ponta da espada de Laertes.

“Recorda-vos, amor. Os amores perfeitos são para o pensamento.”

No último momento, a trama se encerra... e ninguém sai com vida. A mãe de Hamlet, para saudar a vitória do filho, toma a bebida envenenada. Laertes, num ataque covarde, arranha o braço de Hamlet com a espada embebida de veneno. O príncipe, furioso pela covardia, toma-lhe a espada e o fura com o mesmo veneno. A rainha e Laertes ao morrerem, declaram a culpa do rei. Hamlet, mais furioso ainda, mata o rei e, em poucos instantes, morre. Nesse cenário de morte, um verdadeiro ensaio sobre a vingança e suas consequências. Talvez, se Hamlet tivesse escolhido o caminho da religião e deixasse tudo nas mãos de Deus, ninguém sofreria... Mas talvez, esse fosse o caminho que qualquer humano consciente escolheria. Fazer a justiça com as próprias mãos é muito recompensador. E se for mesmo, então Hamlet não tinha escolha... Esse seria o destino de todos e não havia nada que pudesse mudar isso.

“Que nome desgraçado virá depois que tudo isso for estranho?”

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Charlie, um grande garoto


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Charlie Bartlett

Filme estadunidense lançado em 2007, é uma comédia que reflete bem os sonhos, angústias e anseios dos adolescentes. Foi lançado diretamente em DVD no Brasil, mostrando que ele foi subestimado, pois é um filme capaz de mostrar a realidade de muitos jovens de classe média e alta.

“Oi. Meu nome é Charlie. Charlie Bartlett...”

Lembrando bem a frase-slogan de 007 (Meu nome é Bond. James Bond), talvez esse fosse o maior sonho de Charlie. Ser um herói, um salvador... E não ser apenas mais um no meio de tantos jovens. Num mundo onde não é necessário tanto dinheiro para que seus horizontes se ampliem tanto, a inconseqüência juvenil floresce facilmente. O filme é capaz de mostrar que dinheiro e boas notas não tornam o jovem um verdadeiro cidadão consciente.

“... e você não está sozinho.”

Na juventude, o medo de ser rejeitado é extremo. Fazendo o uso de estereótipos (punks violentos, drogados gays, nerds suicidas, retardados carinhosos, líder de torcidas ‘fáceis’ e mimadas e atletas reprimidos), o filme nos mostra o outro lado de todos os jovens. E que eles não são tão complicados. Charlie se aproxima dos outros apenas por ser capaz de ouvir e não julgar os problemas de seus colegas (mesmo eles sendo irrelevantes) e usa o seu senso de humor para ser feliz (ou, pelo menos, esquecer os problemas). No mundo de hoje, os jovens têm tão pouco tempo para serem crianças que acabam agindo como adultos muitas vezes. E são reprimidos por isso (tanto por serem crianças como por serem adultos – esse é o paradoxo).

“Juntar drogas psiquiátricas com adolescentes é como colocar uma barraca de limonada no deserto.”

Charlie consegue lucro vendendo drogas para suprimir as brigas e problemas psiquiátricos dos colegas. Então o filme mostra o sempre as drogas (comprimidos) como algo bom e que relaxa e faz você se soltar. Literalmente, é o único método encontrado para fugirem de uma realidade tão livre externamente e repressora internamente. Isso dura até o momento que um dos colegas tenta se matar com o uso das drogas. É nesse momento que Charlie percebe que a droga não é a solução e que se tornar popular lhe traz responsabilidades. Mesmo sendo mais respeitado que o próprio diretor da escola, ele soube ser humilde e ‘abdicar’ toda essa popularidade, quando percebeu que não poderia cuidar de todos. Afinal, ele ainda era uma criança.

A música tema do filme é esplendida. Deve ser ouvida sempre que possível. E lembre-se:

“Se você quiser cantar, cante. Se você quiser ser livre, seja.”

terça-feira, 6 de abril de 2010

Gran Torino



Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.


Filme estadunidense de 2008, foi dirigido, produzido e atuado por Clint Eastwood. De acordo com o mesmo, esse seria o último filme no qual ele faria papel de ator principal. Apesar de ser um filme tipicamente hollywoodiano, principalmente por exaltar o “American Way of Life”, vale a pena ser visto.

“Parece que você sabe mais sobre a morte do que a vida.”

Walt é um veterano da Guerra da Coréia, viúvo, racista, sem religião (muito menos fé) e conservador. O bairro no qual ele mora tem um grande aumento de moradores Hmons, imigrantes orientais vindos de Laos, Tailândia e China. O filme, que tem como tema central a redenção, mostra em seu plano de fundo, uma América suburbana com valores éticos cada vez mais em queda. O choque de cultura entre os Hmons e o típico americano que é o Walt, provoca uma grande mudança na mentalidade desses povos.

“As garotas vão para a faculdade e os garotos vão para a cadeia.”

A igreja com seu discurso alienante, os pais negligentes e passivos, existência de gangues divididas por etnias (negros, asiáticos e brancos). Walt como pai se tornou um pai tão desagradável e distante que os filhos não o suportam e muito menos o respeitam, querendo muitas vezes se aproveitar dos privilégios financeiros que o pai possui. Thao, caçula da família hmon, vizinha de Walt, é um garoto sensível e tímido que sofre por não ter o porte necessário para ser o “homem da casa” e também por não querer entrar em uma gangue. Na verdade, ele encarar a gangue e recusar a fazer parte dela levou a Walt ter um fim trágico.

“Quantos ratos cabem em uma casa?”

O encontro inevitável de Walt e Thao faz com que se tornem amigos. Walt possui um carro muito cobiçado por todos: um Gran Torino 1972 de traseira longa. Ele possui também uma labrador chamada Daisy, que nos faz perceber um pouco de humanidade embaixo da carcaça fria que é o Walt. O filme possui uma grande quantidade de expressões e ações machistas, na qual para um garoto se tornar um homem de verdade: ele deve falar como homem, trabalhar em coisas de homem e agir como um homem. Mostra-se também, o contraste entre uma família americana, que é dita como boa, apesar de muitas vezes ser dilacerada pelo dinheiro e pela frieza entre os parentes, e a família hmon, que é dita como ruim e supersticiosa, mas que possui uma união incrível entre os parentes.

O filme mostra, principalmente, a frieza com a qual Walt pratica suas ações. É perceptível desde o começo que a vida dele é uma verdadeira dança da morte, na qual ele não teria como sair vivo (e ele tinha plena consciencia disso). Tudo na vida dele já tinha acabado. E ele foi capaz de se sacrificar por aqueles que merecem, os hmon, mesmo que ele os conheça por pouco tempo. Foram mais próximos e o amaram mais que seus filhos e netos.

sábado, 3 de abril de 2010

O Informante

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

The Insider

Filme estadunidense de 1999, foi baseado em fatos reais e se aplica como um filme-denuncia. Tudo acontece em volta de Wilgand, ex-cientista da Brown & Williamson (a terceira maior empresa de tabaco americana) e o programa 60 minutes da CBS.


“É o poder que só você tem, Jeff.”

Em toda empresa, existe um contrato de confidencialidade entre ela e seus empregados, que continua a valer mesmo depois de eles serem demitidos. Esse contrato existe para manter a integridade da empresa e as proteger de suas concorrentes. Nesse contrato, tudo que se passou dentro da empresa (seus documentos, testes e ligações com outras empresas) deve ser mantido em silêncio. O “segredo industrial” é uma verdadeira manutenção do lucro, que vêm muitas vezes das inovações, mesmo que elas sejam prejudiciais à saúde, bem-estar e segurança da população.

Ao mesmo tempo em que o contrato de confidencialidade protege a empresa, acaba por manter no escuro s informações que são de grande valor para a população. Esse foi o caso de Jeff Wilgand, ex-cientista, que conseguiu explicar e comprovar a ligação entre a nicotina e o vício que ela proporciona ao fumante. Com essa informação, quebrariam todos os tabus da época e comprovaria que as empresas de tabaco têm responsabilidade pelas altas taxas de mortalidade que o cigarro produz.

“Pense nisso. Pense neles.”

Wilgand, para poder declarar a verdade em público, entra em contado com Lowell Bergman, produtor de 60 minutes , programa de jornalismo televisivo com maior credibilidade da época. Wilgand sobre todos os tipos de pressão da empresa e da família. Por medo, sua mulher se divorciou dele. A Brown & Williamson entrou com a “lei da mordaça” e pede pela prisão dele, se revelar os fatos. Bergman fica em seus ouvidos o lembrando sempre no bem que ele fará à população. E ele aceita passar por tudo isso e revelar tudo. Isso mostra a influência que os empregados da mídia têm sobre suas fontes, muitas vezes não se importando com quais situações elas terão que enfrentar. Sem contar também com a falta de proteção legal na quebra do contrato. Para quebrar a credibilidade profissional de Wilgand, a empresa faz uso de suas “quebras de conduta” pessoais (como uma mulher e filha fora do casamento, tentativa de furto, vicio no álcool, agressividade, etc.) e isso mostra o quanto que, na mídia, mais vale suas aparências do que a realidade propriamente dita.

“A fama dura 15 minutos. A infâmia dura um pouco mais.”

Feita a entrevista com todas as denúncias de Wilgand, o problema muda de lado. Não é mais a pessoa sendo ameaçada, mas sim a CBS, uma empresa bastante influente e respeitada. Isso mostra o quanto as pessoas são capazes de ir longe para se salvarem. A Brown & Williamson ameaça em colocar um processo multimilionário contra a CBS por “interferência de terceiros no contrato de confidencialidade”. Como a mesma estava à venda na época e um processo como esses poderia acarretar numa desvalorização bastante relevante, a entrevista de Wilgand foi abandonada, mesmo com o produtor Bergman lutando com todas suas forças para mantê-la. Nos dias atuais, um jornalista depende de uma empresa, que depende do fator econômico. Quando a base (dinheiro) é ameaçada, nenhuma notícia vale o risco, mesmo sabendo que vidas estão no meio. Quando Bergman ganha férias forçadas, ele percebe que não há como lutar contra a empresa. Ele não poderia ser demitido para não dar mais publicidade ao que tava acontecendo na empresa. Bergman, mesmo sabendo que poderia prejudicar a si mesmo e a empresa, lança em outros jornais as conversas e ameaças que têm acontecido na empresa, mostrando que não há lealdade quando seus interesses estão em jogo. O próprio âncora do programa, que havia concordado em cortar a entrevista, volta atrás ao perceber que estava dando atenção mais à empresa do que ao jornalismo essencial. Em meio tanta pressão que a CBS sofre, a entrevista é lançada.

A entrevista de Wilgand levou à indústria de tabaco a pagar mais de 245 trilhões em indenizações ao Estados Unidos. Bergman perdeu a total confiança na CBS, e mesmo no auge de sua fama, desiste da carreira jornalística, iniciando a carreira acadêmica. Nem Wilgand e nem a CBS foram processadas. No final, o real jornalismo venceu. E o lucro foi gigante, economicamente e socialmente.



ps: Esse filme é o único que não faz parte do meu repertório de dvds, mas como foi usado para um trabalho de faculdade, ele foi tão pesquisado quanto os outros.