segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Os excêntricos Tenenbaums



Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.
The Royal Tenenbaums
Filme estadunidense de 2001 dirigido por Wes Anderson. Tem como marca registrada a falta de sentimentos quase sociopata dos personagens e o elenco estelar envolvido na trama. Levou o Globo de Ouro para o “melhor ator” e o Prêmio Adoro Cinema para o “melhor comediante” e “melhor roteiro original”. 

Os Tenenbaums fizeram sucesso pela sua genialidade e pioneirismo, porém foram esquecidos após de 22 anos por causa de fracassos e traições internas. Não há um estudo psicológico dos personagens do filme, então seus atos não são explicados por seus traumas de infância, etc. Na verdade, seus atos não são explicados, tudo se baseia no que acontece no presente e no que sentem no momento em que estão praticando a ação. No geral, o filme é bastante detalhista, distante e característico (sem chegar a ser caricaturado, é claro). E o mais curioso do filme é o tal taxi cigano que os Tenenbaums sempre pegam.  É um filme cômico que não se ri. Ele não foi feito pra isso. Na verdade, é uma crítica clara à formação de uma família no estilo “American way of life”. As aparências não são o que realmente importam e a realidade é mais feia do que se parece.

Royal Tenenbaum (interpretado por Gene Hackman – ganhador dos prêmios) é o chefe da casa; pai de todos; o grosseirão que trai a mulher e não quer saber dos filhos. É também o cara que depois de muito tempo (e depois de perder todo dinheiro que tinha) resolve retomar o contato com a família, e para isso, usa um recurso clássico: fala que está morrendo. Assim, ele volta para casa da família. Ele é o personagem que quebra o hábito dos personagens de falarem tudo que vêm a cabeça (tão honestamente). Depois que a mentira é descoberta, volta para o hotel que morou por tanto tempo, só que como ascensorista, dessa vez.

Etheline Tenenbaum (interpretada por Anjelica Huston) é a rígida educadora da casa; mãe de todos; amorosa e protetora dos filhos; principal responsável pela genialidade e sucesso deles. Ficou famosa também por lançar um livro sobre como criar filhos gênios. Namora Henry (interpretado por Danny Glover), o único personagem negro do filme, contador da família. Ele tem como maior desejo viver com Etheline, que depois de um tempo, cede e decide se casar com ele.

Chas (interpretado por Bem Stiller) é o precoce conhecedor de finanças internacionais; filho mais velho da família; montou sua primeira empresa antes dos dez anos e processou seu pai (tirando a licença de advogado dele) por ter tirado o seu dinheiro quando era menor de idade; teve dois filhos (Uzi e Ari) e se tornou em um completo paranóico quando perdeu sua mulher em um avião: agora tudo é treinamento para sobrevivência em situações de risco (ou seja, toda hora). Tanto que volta para a casa da mãe por não se encontrar seguro em outro lugar. Interessante perceber que ele sabe que a casa não tem proteção nenhuma a mais, mas que lá, ele não se sentia em perigo. E também não podia imaginar que quem o tiraria desse pavor interno seria o próprio pai, que se tornaria no melhor amigo dele e de seus filhos.

Margot (interpretada por Gwyneth Paltrow) é a dramaturga da família; adotada aos dois anos pela família, foi a única que tentou fugir dos Tenenbaums; e voltou dias depois sem um dedo (ela havia encontrado seus parentes genéticos e havia tentado viver o estilo de vida deles – lenhadores). Extremamente depressiva, desiludida e sigilosa. Casou-se com Raleigh St Clair (interpretado por Bill Murray) e vivia trancada no banheiro. Depois resolve voltar para a casa da mãe. Raleigh é o pesquisador de novas doenças focado em experiências biológicas. Ele chega a ser quase um hipocondríaco do tanto focado ele é em seu trabalho. E não confia em Margot, colocando um detetive atrás dela e descobrindo coisas absurdas, sendo a que mais o chocou: ela sempre fumou a vida toda (no meio das descobertas, soube que ela o havia traído muitas vezes e que já havia se casado antes na Jamaica).

Richie (interpretado por Luke Wilson) é o esportista da família: foi um grande tenista da época; é o caçula da família e sempre foi apaixonado por Margot; perdeu sua carreira após o fiasco de seu último jogo (que aconteceu um dia depois do casamento de Margot); nunca se declarou a ela e nunca se recuperou do fato acontecido; apesar de aparentar ser o mais tranquilo da família, se mostrou ser o suicida. É interessante ver que o personagem mais sentimental do filme é o único que tentou se matar, seria os sentimentos uma abertura para a desilusão?

Por fim temos Eli (interpretado por Owen Wilson) e Pagoda (interpretado por Kumar Pallana). Eli é o amigo da família que sempre sentiu inveja de não pertencer a ela. Teve um caso com Margot e trata Etheline como se fosse sua própria mãe. Ficou famoso ao escrever um livro e passou a se drogar (apenas por diversão) sempre. Pagoda é o fiel servidor de Royal. Já o esfaqueou antes e investiga Etheline para saber de seu cotidiano. E jamais abandonaria Royal, sendo até mesmo ascensor ao seu lado (em tempos mais difíceis).

No final das contas é possível perceber que há sim, sentimentos profundos nos personagens, só que não são mostrados tão claramente em suas aparências. É como se fosse um ensaio do que seria o contrário do que acontece na realidade (em vez de serem felizes nas aparências, são infelizes nela ao passo que sabem amar e sentir por dentro, ao invés do contrário). A redenção (tão necessária na maioria dos filmes americanos) acontece no casamento de Ethel, onde todos finalmente se entendem e tudo fica bem. É o toque final de Wes Anderson para que toda a infelicidade seja redimida. E a gente precisa disso algumas vezes, certo?

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Aconteceu em woodstock

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.
Taking Woodstock
É um filme estadunidense dirigido por Ang Lee em 2009. Nele é mostrado o surgimento e os bastidores do festival de música Woodstock. Apesar de se tratar sobre um evento e ser baseado em uma história real, não é um filme documentário, sendo bastante curioso e necessário para os fãs do rock mundial. Não foram usadas filmagens reais do show e as celebridades da música que lá tocaram (Janis Joplin, Jimi Hendrix, The Who, Joan Baez etc.) nem sequer aparecem nele, mostrando o caráter de “por detrás dos panos” que o filme tem.

É fato que sem Janis Joplin, Jimi Hendrix ou o público que estava lá, o festival jamais teria acontecido, mas há um personagem da história que tornou tudo possível: Elliot Tiber. Ele é o presidente da Câmara do Comercio de White Lake que voltou falido de Nova York para manter o hotel dos pais na pequena cidade de Bethel. Já pediu o máximo possível de empréstimo no banco e agora está sendo cobrado, senão perderá o hotel. Numa visão empreendedora, ele percebeu que seu hotel poderia lucrar muito se trouxessem um show recusado pela cidade de Woodstock por medo dos hippies que poderiam se juntar na região. Com o poder de dar o alvará e a grande quantidade de pasto aberto para a preparação de um show permitiu que ele desse vazão a idéia e corresse atrás na prática.

Há algumas peculiaridades no filme: uma trupe de teatro alojada no celeiro um tanto contemporânea; um travesti forte, enorme e maduro (Vilma) para cuidar da segurança de Elliot; um soldado aposentado (Bill) enlouquecido pela guerra do Vietnã (numa clara crítica social); um pai passivo e uma mãe paranóica e grosseira. É possível ver a frustração de não ter Bob Dylan no festival (um dos cantores mais esperados pelo público). Também há diversos conflitos que são mostrados com igual importância: relação entre pais (mal agradecidos) e filho (ingênuo); descoberta sexual (Elliot se descobre gay); libertação pelas drogas (apresentação de um mundo belo e psicodélico); tentativa na erradicação dos preconceitos; união entre policial e público (mesmo sendo hippies) e a possibilidade de um festival armado pelo pedido de paz e amor mundial. Essa apresentação peculiar e conflituosa do filme ganha tanto destaque que durante todo o filme nem sequer aparece os cantores no palco durante o festival e mostra a quantidade de pessoas que foram lá e não assistiram nada.

Por fim, quando o festival acaba, as pessoas ajudam a limpar em meio aos montes de lama e mostra que, apesar de 500 mil pessoas terem comparecido (eram esperada 200 mil), não houve violência (morreu apenas uma pessoa por overdose e outra atropelada por um trator) e Elliot se viu milionário. Depois descobre que sua mãe sempre teve dinheiro guardado (mostrando a enorme paranóia dela) e decide que é hora de sair de casa (e seu pai apóia). Apesar do tom de esperança no ar, no qual é feita uma referencia a um espetáculo que seria melhor ainda, todos sabem que não seria verdade. Esse espetáculo se chamou Altamont Festival In (até Rolling Stones tocou por lá) e tornou o símbolo da violência e despreparação policial. E Woodstock entrou no passado.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Morro dos Ventos Uivantes

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.


Wuthering Heights

Filme estadunidense baseado no livro homônimo de Emily Brontï. Já é a quinta adaptação do livro para o cinema. É dita como a adaptação mais completa, mas também a menos detalhada: alguns fatos acontecem tão rapidamente que acaba por deixar o espectador confuso. O elenco, encabeçado por Ralph Fienes e Juliette Binoche, chamou atenção nessa sombria e profunda história de amor (doentio em certos momentos).

“Vou contar uma história, mas você não deve rir em nenhum momento.”

O filme começa com a autora do livro narrando o filme. Ela já prepara que o que está por vir não será agradável: a destruição de uma geração inteira das famílias Earnshaw e Linton. E tudo aconteceu por causa de um personagem: Heathcliff.
“Mas era amargura, não sensibilidade, que o tornava silencioso.”
Heathcliff foi encontrado nas ruas de Liverpool, morrendo de fome, pelo Sr. Earnshaw. Depois o levar para sua casa (que fica no tal morro dos ventos uivantes) e adotá-lo, ele apresenta ao pobre garoto seus filhos: Hindley, que o odiava e, mais tarde, viria a ser extremamente religioso; Catherine, brincalhona e mimada, que se apaixonaria por ele depois. Assim, Heathcliff foi criado no mesmo ambiente como se fizesse parte da família e até chegou a se tornar filho do Sr. Earnshaw.

“Não sabe que sempre voltarei?”

Tudo começa a dar errado quando Hindley se torna o chefe da casa depois que o pai morre. Num ato de vingança, subjuga Heathcliff, o transformando em mero empregado. Catherine deixa que isso aconteça, mas nutre um amor pelo empregado. A vingança se torna a palavra chave da casa, e ela se voltaria contra eles depois. Como se Heathcliff soubesse do futuro mais vingativo ainda, ficou calado e aguentou tudo. Só que as coisas passaram a desandar de vez quando, depois de uma brincadeira, ficou claro que Cathy teria um futuro tempestuoso. Mesmo assim, passaram a viver um belo e escondido amor. Logo em seguida, ela conheceria os Linton, ricos moradores da região em que vivem, acabando com todo o relacionamento amoroso que eles tinham. Edgar e sua irmã Isabella se apaixonam, respectivamente, por Catherine e Heathcliff. E Edgar pede Cathy em casamento e, para o choque dos espectadores, ela aceita, mesmo amando Heathcliff. Tudo isso por um motivo: não queria ser humilhada ao ficar com um empregado quando pode viver uma boa vida com um rico. E Heathcliff, sabendo dessa explicação, foge de casa por longos 18 anos.
“A melhor maneira de me matar seria me beijar novamente.”
Heathcliff reencontra uma Cathy rica, fútil e nem tão feliz assim. Ele sim havia mudado muito: estava rico e mais quieto, rancoroso. Era como se ele tivesse se transformado em um vingador. E começa a colher desgraças por onde passa. Primeiro, compra a casa de Hindley (que era onde ele havia sido empregado por tantos anos) que havia perdido todo o dinheiro em jogos. Segundo, passa a provocar Cathy, mostrando todo seu amor. Terceiro, se casa com Isabella, tão ingênua e apaixonada por ele. E tudo isso por amor. Sim, puramente o amor enlouquecido. Enriqueceu por Cathy, Casou por Cathy, destruiu vidas por Cathy. Assim, passa a subjugar Hindley e Hareton, filho dele (e o último da linhagem Earnshaw) e a maltratar Isabella (que aparece espancada e triste). Cathy fica grávida de Edgar e depois que nasce sua filha, também chamada de Catherine, adoece (por causa das brigas com Edgar e por causa do amor impossível de Heathcliff).

“Eu ria da dor ao invés de sofrer com ela. Porque mudei tanto?”

Constantemente o passado limita o futuro dos personagens. Sempre são lembrados do mal que fizeram nos anos anteriores e sofrem por causa disso. Heathcliff, acima de tudo, se encarrega de levar isso para a vida deles. Até que, por fim, Cathy morre (de amor ou de tristeza... nunca se saberá). E toda a raiva de Heathcliff é despejada para fora, trazendo uma nova imagem desse tão sombrio personagem. Ele é movido a puro rancor. Sabia que a vida deles poderia ser bem diferente se Hindley não o tivesse subjugado, se Catherine não tivesse vergonha dele e se Edgar não tivesse se intrometido na vida deles. E, por fim, ele invoca uma maldição à alma de Cathy: que ela nunca subisse aos céus; que ela sempre o assombrasse; que ela nunca o deixasse sozinho, porque ele a ama e não pode viver sem sua imagem.

“Catherine Earnshaw, que você não descanse enquanto viver.”

Mais 18 anos depois, outros fatos acontecem: Hindley morre de tanto se embebedar, Hareton se transforma num fiel e analfabeto trabalhador, Heathcliff tem um filho com Isabella (que morre posteriormente) e Edgar tenta, ao máximo, criar sua filha Cathy o mais longe possível de Heathcliff. Só que o destino não facilita as coisas que a faz com que caia nas mãos de seu inimigo. E na primeira chance que tem, Heathcliff a força se casar com o filho dele. Logo em seguida, Edgar, o pai dela, que já estava doente, morre. Um pouco depois, o filho de Heathcliff, também doente, morre, deixando tudo que pertence em nome do pai. Nesse testamento incluía a mansão dos Linton. Essa mansão sempre foi retratada com muita alegria e em cores claras, enquanto a mansão dos Earnshaw sempre pareceu medieval, abandonada e raivosa. No final, a mansão clara é sublocada e Heathcliff passa a viver com Catherine no morro dos ventos uivantes.
Interessante é perceber dois fatos sempre presentes no filme: sempre há alguém escutando a conversa por detrás da porta (e não é espírito); Ellen Dean, a empregada dos Earnshaw, passa por todos os momentos das duas família e testemunha toda a maldição. Ellen, além de ser observadora dos acontecimentos, se torna participante ao se tornar a principal confidente do casal Catherine e Heathcliff.

“Não posso viver sem minha vida. Não posso viver sem minha alma.”

Hareton acaba se afeiçoando a Catherine, que o ensina a ler. Heathcliff tenta afastá-los o máximo possível. Até que um dia, a vingança que ele trouxe a todos finalmente chegou a ele: ao ver o espírito da Catherine que tanto amou, acaba por morrer (e ficar junto com ela). Assim, acaba a maldição que destruiu toda uma geração das famílias Earnshaw e Linton. Hareton e Catherine ficam juntos e acabam com esse mal. Finalmente, hein?

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Gasparzinho - o fantasma camarada

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Casper

Filme estadunidense de 1995 do personagem fantasma que marcou gerações inteiras de crianças pelo mundo afora. O filme é voltado para crianças (e adoradores do divertido e carente fantasma, é claro).

Tudo começa com uma Carrigan Grittendon, vilã em todos os aspectos, que recebe uma mansão condenada em um testamento. Quando ela descobre que há um tesouro (que no final se revela ser mais pessoal do que financeiro) e uma máquina que faz fantasmas voltarem a vida, decide botar a casa abaixo. Só que alguns fantasmas que assombram a casa não o permite, espantando a todos que lá entram. Assim, chamam um terapeuta de fantasmas para cuidar do caso. É ai que entra em cena James Harvey e sua filha Kat. Ele havia perdido sua mulher e tenta constantemente entrar em contato com ela.

Nisso eles acabam conhecendo Clicka, Fatso e Stinkie, três fantasmas aloprados e grosseiros que só pensam em se divertir a custa do sofrimento dos outros. Casper é o “sobrinho” deles, quase um escravo, que tem como maior sonho ter amigos. É assim que ele se apaixona por Kat. No fim, ele consegue realizar o desejo de ser humano por alguns momentos em uma festa de halloween (lembrando o conto de Cinderela) e beijar Kat. E o maior desejo de James se realiza ao ver sua mulher como um anjo.

Em um filme que nem a morte é levada a sério (Carrigan morre, seu serviçal Dibbs morre e James morre) é obvio que o filme não foi feito para ser levado a sério. James renasce, Carrigan cai na própria armadilha em dizer que está muito realizada depois de morta (pois os que permanecem como fantasmas têm assuntos a resolver) e não consegue tempo para entrar na máquina e renascer e, apesar de Casper não poder renascer, todos ficam bem.

É apenas diversão. E quem não riu daquela cena barata das crianças gritando desesperadas ao ver o gasparzinho? Só faltava aparece os ventiladores que jogaram os cabelos daquela criançada pra cima (pra parecerem arrepiados). Sinceramente? Adorei.

domingo, 14 de novembro de 2010

Dança dos Vampiros

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

The fearless Vampire Killers


Filme estadunidense de 1966, dirigido e protagonizado por Roman Polanski. Foi graças a esse filme que o diretor se casou com a atriz Sharon Tate em 1968. Ela era um dos maiores sexy simbols da época e foi morta a facadas em 1969, grávida de oito meses, pelo famoso serial killer Charles Manson. Principalmente pela história de Polanski, que não só sofreu esse episódio, como já havia passado pelo holocausto da Segunda Guerra Mundial (era um judeu polonês e sua mãe morreu no campo de concentração). Em 1978, saiu dos Estados Unidos para sempre, ao ser acusado de pedofilia por uma garota de 13 anos (enquanto ele tinha 43 no momento). Então, é possível entender a aura que rodeia o filme além da divertida história que ele já o é.

Livremente baseado no conto do Drácula de Bram Stocker, Polanski faz o papel de Alfred, um jovem inexperiente, covarde e apaixonado por Sarah (Tate), filha dos receptivos donos da casa em que se encontrava para o estudo de vampirismo. Tem como mentor o Alfronsius, com aparência bastante semelhante à de Albert Einstein. Ambientado na própria Transilvânia, eles encaram Von Krolock, que os recebe muito bem. E lá, finalmente afirmam suas suspeitas sobre a existência de vampiros e tenta matar a todos eles (Von é um deles).

No meio disso, Sarah é raptada e levada pro castelo de Von Krolock, o pai de Sarah, Sr. Shagal, é transformado em vampiro e Herbert, filho de Von, se apaixona por Albert. Assim, se inicia um rodeio que mistura comédia e terror constantemente. Com poucos diálogos e muita música, o expectador é capaz de rir com as reações bizarras de cada personagem (como um gritinho bem afiado de Albert e uma Sra. Shagal batendo a cabeça na parede de tanta tristeza pela morte do marido). E os vampiros peculiares? Sr. Shagall, que é judeu, quando vampiro, não tem medo da cruz. Herbert é um vampiro homossexual. Von Krolock é um vampiro culto, interessado em ciências naturais (principalmente em morcegos), chegando até a pedir um autógrafo para Alfronsius. Também conta algumas críticas cômicas, como o papo de um vampiro orador ser bem próximo a de um pastor (com a clara diferença que, enquanto um fala de Deus, o outro fala de Lúcifer) e a falta de banho do povo local, quando o pai de Sarah insiste em espancá-la por ela gostar de tomar banho toda hora (a garota vive na banheira).

Por fim, depois de cenários exageradamente empoeirados, personagens extremamente caricatos e um recurso bastante utilizado de fazer a imagem ficar acelerada, os objetivos dos personagens são descritos: Von Krolock quer dominar a terra com os vampiros e Alfronsius quer impedir que o mal vampiresco se espalhe pelo mundo. Pena, pois no final, Sarah se revela vampira e morde Alfred. Alfronsius não vê e acaba levando os dois para fora da Transilvânia, acabando por espalhar o mal que tanto tentou deter.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Across The Universe

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Musical estadunidense de 2007 ambientado nos anos 60 dos Estados Unidos, no auge dos movimentos estudantis. Dirigido por Julie Taymor, teve como diferencial é que toda história gira de acordo com as músicas da banda The Beatles. Ao todo, foram usadas 31 músicas e todas tiveram sua composição modificada, mantendo apenas a letra original. Todos os personagens tiveram seus nomes tirados de músicas do Beatles. O filme também teve como destaque, os convidados especiais: Bono Vox (da banda U2), Joe Cocker (músico pop influenciado pelo soul music) e Salma Hayek (atriz protagonista do filme Frida, de mesma diretora).

Tudo começa com Jude (da música Hey Jude) saindo de Liverpool (cidade onde nasceu os Beatles) clandestinamente para encontrar seu pai nos EUA. Chegando lá, o encontra na Universidade de Princeton, mas sem ilusões nem esperanças, depois de conversar não mantém mais o contato (foi apenas mais um caso de marinho com uma nativa de outro país). Lá, conhece Max, um estudante da elite americana rebelde, que decide abandonar os estudos para ir pra Nova York. Jude o acompanha e se tornam melhores amigos.

Lucy é a irmã de Max, que namorava um soldado em serviço (que mais tarde iria morrer em campo) e se sentia muito solitária. Acaba conhecendo Jude antes de eles irem para Nova York. Quando termina a escola decide visitar Max em NY e revê Jude, se apaixonando por ele (e vice versa). Tudo isso em meio a músicas de Beatles, aonde cada personagem vai entrando na vida deles, complementando o repertório musical. Jo-jo e Sadie foram baseados no guitarrista Jimi Hendrix e na cantora Janis Joplin. E Prudence aparece no filme para que possa ser cantada a música Dear Prudence. Aparece músicas também ligadas não somente à pessoas, como a Strawberry Fields, que fez uma homenagem à marca Apple (marca da gravadora de Beatles). Um detalhe que merece ser contado: todas as músicas são realmente cantadas pelos atores e 90% delas foram feitas durante a atuação (não em gravação em estúdio como normalmente são feitas).

A crítica social do filme começa com a guerra civil que explodiu em Detroit, com a música Let It Be que começa sendo cantada por um garotinho negro e termina com um coral de negras no enterro desse mesmo garoto. Passa pelo alistamento obrigatório, mostrando a falta de escolha dos jovens ao representarem os cantores carregando a Estátua da Liberdade e toda a força da propaganda “I Want You”. E termina nas revoltas estudantis, mostrando a violenta repressão policial e a inconsequência do armamento dos estudantes (com a explosão da bomba caseira matando Paco, líder do partido revolucionário).

Lucy e Jude entram em conflito quando uma se torna extremamente idealista e o outro, cético. Max, por ter largado a faculdade, é chamado para se alistar e é aprovado no exército. Os jovens pareciam tão perdidos que alguma das soluções achadas era ir pro circo (como Prudence fez) ou partir para o horizonte transcendental (como Beatles realmente fizeram). O interessante é que, apesar de toda psicodelia referente às drogas no filme, não há nenhuma droga circulando no meio dos protagonistas.

O fim das criticas e da visão jovial acontece quando Max volta ferido da guerra, Sadie e Jo-jo brigam e se separam, Jude é espancado, preso e deportado de volta para Inglaterra e Lucy sai do partido revolucionário quando os estudantes começaram a se armar. Dessa vez, começam a agir corretamente: Max vira taxista, Sadie e Jo-jo voltam a ficar juntos e estouram na rádio, Jude volta pros Estados Unidos com visto na mão e Lucy fica com ele (não sei se para sempre). Eles podem não ter mudado o mundo, mas aprenderam a amar.

sábado, 6 de novembro de 2010

Los Angeles - Cidade Proibida

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

L.A. Confidencial

Filme estadunidense de 1997 policial que resgatou o estilo Noir, tão desaparecido no cinema da atualidade. Levou o Oscar de “melhor atriz coadjuvante” e “melhor roteiro adaptado”. O elenco consiste nas maiores estrelas da época: Danny De Vito, Russel Crowell, Kim Basinger, Kevin Spacey, Guy Pearce, James Cromwell, David Strathairn e outros. É ambientado numa Los Angeles dos anos 50, momento áureo da cidade que tinha cidadãos como Marilyn Monroe e Frank Sinatra. E toda sua trilha sonora é baseada no estilo musical da cidade à época: swing jazz.

Há várias características que levam a crer que o filme é Noir. Envolta a uma teoria da conspiração, há uma femme fatale que não representa bem uma mulher moral (ela era prostituta), os personagens agem de acordo com a expressão “os fins justificam os meios” e tudo acontece num mundo cínico, corrupto, violento e ganancioso. Sendo que mostra o submundo da polícia que era considerada uma das melhores do mundo, o filme se garante como Noir facilmente.

“A vida é boa em Los Angeles. É o paraíso na terra.”

O filme já começa com uma pancada de propagandas otimistas e fotos de artistas ligados a Los Angeles. O “american way of life” nasce lá e todos tem como objetivo pelo menos uma dessas opções: dinheiro ou fama. Ou os dois ao mesmo tempo. A ostentação é extrema e a ordem é o progresso (financeiro e artístico, é claro).

Numa polícia conhecida pela mídia como a melhor do mundo, cada um tem seu meio para crescer, enriquecer e ficar famoso. E isso envolve extorsões, parcerias ilegais, excesso de violência e muita, mas muita corrupção. Bud White é o violento (quase psicótico) policial que faz de tudo para ajudar as mulheres, e usa as mãos para resolver qualquer problema. Jack Vincennes é o policial estrela. Sempre aparece na TV e formou uma parceria com o jornalista Sid Hudgens para a cada prisão seja feita uma grande matéria. Hudgens é jornalista da revista Hush-Hush. Faz uso de sensacionalismo, mentiras e parcerias ilegais para conseguir suas matérias. Ed. Exley é o policial filho de outro grande conhecido tenente. Ele quer mudar toda a violência existente e ser o chefe da área de homicídios sendo correto. Para isso, acaba sendo dedo duro de seus colegas e odiado por toda a turma. Dudley Smith é o chefão da polícia, respeitado policial desde muito tempo (e sem muitos escrúpulos).

Para todos esses policiais, temos os antagonistas. O principal é Mickey Cohen, o rei das extorsões, prostituição, drogas e do crime organizado. Patchet é um rico comerciante que tem como atividade secreta o controle de uma casa de prostituição peculiar. Todas as prostitutas de lá personificam alguma atriz famosa. É lá que se encontra Lynn, personificando Veronika Lake, que será objeto de paixão de Bud White (e vice versa).

Toda a trama começa com o massacre de Nite Owl, um restaurante onde morreram diversas pessoas, entre elas uma prostituta que se parecia com a Rita Hayworth e o parceiro de Bud White, Steiland. Todo o assunto é resolvido quando Ed Exley mata todos os supostos assassinos (negros com antecedência na polícia) e acabam salvando uma garota que estava por lá. Assim, Ed é condecorado com medalha de honra. Mas, aos poucos, vão sendo descoberto vários furos: Jack descobre a existência da Flor de Lis (a tal empresa que cuida das prostitutas-estrelas de cinema); Bud descobre que Steiland estava com a “Rita Hayworth” e que haviam matado um ex-policial que estava envolvido com Patchet (e 12 quilos de heroína); Ed descobre que a vitima salva havia mentido para ele só para conseguir sua vingança (sabia que se não mentisse, os estupradores dela nunca seriam condenados). E mais uma coisa estranha, os capangas de Mickey começaram a serem mortos um por um após a prisão do próprio Mickey.

Então, o roteiro mostra sua verdadeira face: a de um quebra-cabeça. Uma por uma, a história vai se encaixando e percebe que ninguém é inocente no meio da história. Ao mesmo tempo, Bud e Jack revêem seus conceitos e resolvem agir de forma mais ética e apurar o assunto e Ed corre atrás dos verdadeiros assassinos ao descobrir que havia matado as pessoas erradas.

E, assim, tudo começa a dar resultado, só que negativo: Jack Vincennes descobre que era tudo jogada de Dudley, que queria dominar o crime organizado, agora que Mickey havia sido preso. Acaba morto pela descoberta (mas consegue passar, através de um código, a descoberta para Ed Exley). Morrem também o jornalista Sid Hudgens e Patchet. A única coisa que deu errado foi entre Bud e Ed. Dudley tentou fazer com que um matasse o outro (quem vivesse seria preso) ao usar Lynn (os dois haviam transado com ela). Só que eles acabaram se juntando, por causa das descobertas, que culminou numa cilada no Victory Hotel. Lá, Dudley e todos seus capangas foram morto e Bud saiu extremamente ferido.

Por fim, ao contar toda história, Ed Exley descobre que todo o caso nunca iria para a mídia, por até a promotoria estar envolvida no meio dos casos. Então ele resolve jogar. Aceita Dudley ser declarado como herói na mídia e se torna o novo chefão da polícia. Bud se afasta de tudo e vai morar com Lynn no Arizona. E tudo fica bem. E a corrupção continua, logicamente.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Noiva Cadáver

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Tim Burton’s Corpse Bride

Animação musical estadunidense de 2005 dirigido por Tim Burton. Foi a primeira animação em stop motion a usar o programa Final Cut da Apple para ser construída. Teve, para a dublagem de seus protagonistas, John Depp (ator preferido de Tim Burton) e Helena Boham Carter (esposa de Tim Burton), ambos talentosos atores.

A história é baseada num conto russo judaico, ambientado numa Inglaterra Vitoriana. Fazendo o uso de cores, conseguiu criar uma critica social ao mostrar uma Inglaterra cinza, sombria, pouco receptiva e solitária com o uso do tom acinzentado. Já no mundo dos mortos, colorido, animado e musical, os espectadores poderiam criar uma afinidade maior, apesar de suas peculiaridades assustadoras (larvas dentro de cérebros, corpos pela metade e cabeças falantes). Acrescentando um amor platônico e o contraste das cores com a natureza e a música, o filme consegue ser romântico e macabro ao mesmo tempo. E consegue mostrar do que o amor e a ganância são capazes.

Na critica social, temos personagens caricatos da sociedade Londrina da época. Um casal, parte da nobreza, aceita pela sociedade, arranja um casamento (a contra gosto) para a única filha que têm: Victória. Por falta de dinheiro, é claro. O casal rico, comerciante de peixes, aceita casarem seu único filho: Victor. Para serem aceitos no high society, é claro. Os dois não poderiam ser mais caricatos: Victória é humilde, melancólica e educada; Victor é covarde, estabanado e tímido. Nessa história também entra o Lorde Barkis, com toda a pompa que um vilão deve ter. A diferença é que, ao invés de Victor e Victória sofrerem com o casamento e se odiarem, acabam gostando um do outro e desejando se casarem o mais rápido possível. Só que, na troca de votos de casamento, Victor se atrapalha todo e tudo dá errado. Ele sai correndo para a floresta e deixa o caminho aberto para Lorde Barkis (que acreditava que Victória e sua família eram riquíssimas) pedi-la em casamento. Seus pais, que acreditam na riqueza de Lorde Barkis, aceitam e tudo acontece.

Na floresta, depois de toda a confusão, Victor, frustrado por sua covardia, treina os votos de casamento e, sem querer, acaba pedindo à Emily, uma morta, em casamento. O maior sonho dela era se casar com alguém que a ama, após de ter sido morta vestida de noiva por um rapaz que só queria roubar seu dinheiro. Quando Victor a pede em casamento, ela reecontra o seu amor (ou, pelo menos, ela acredita nisso) e insiste em fifcar com ele para sempre. Acaba o levando para o mundo dos mortos, no qual ele conhece boas pessoas, revê seu velho cachorro Sparks (agora como esqueleto puro) e acaba aceitando um casamento real (que só pode acontecer se as duas pessoas tiverem vivas ou igualmente mortas) ao saber que Victória vai se casar com o Lorde. Nesse casamento, ele tomaria um veneno, para morrer e ficar com Emily para sempre. Mas tudo com uma única condição, eles deviam se casar no mundo dos vivos.

No mesmo tempo em que volta para o seu mundo, Lorde Barkis descobre que Victória não é rica e a renega. Ela acaba vendo o casamento de Victor e Emily vê o amor que nutre nos olhos de Victória por ele. Assim, Emily desiste do casamento sabendo que não seria certo destruir um amor verdadeiro. Já bastava o seu destruído. Por fim, descobre que Lorde Barkis foi o responsável por sua morte. Ele acabou morrendo também, após de tomar o veneno achando que era vinho. E morre novamente após os mortos o atacar pelo que havia feito com Emily. Assim, com a vingança feita e o coração em paz, a noiva cadáver tem sua apoteose e se livra do mundo dos mortos para fazer parte da natureza. Nada como o amor para deixar uma Inglaterra cinzenta e industrial, mas bonita e colorida. Não que eles realmente conseguissem, mas a tentativa foi boa.

sábado, 30 de outubro de 2010

Paris, te amo

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Paris, je t’aime

Criado em 2006 como o primeiro filme do Projeto Cities of Love (Cidades do amor), é, na verdade, uma coletânea de curtas independentes com cerca de cinco minutos cada. Todos são feitos por um diretor específico conhecido mundialmente. Têm como objetivo retratar o amor em Paris, sendo que esse amor pode ser maternal, fraternal, entre homem e mulher, entre dois homens, entre alguém e a cidade, etc.

“Cada esquina tem uma história para contar.”

Abaixo, temos todos os curtas em ordem que foram apresentados no filme:

1) Montparnasse de Bruno Padalydes – um homem frustrado pela falta de amor na sua vida se apaixona por uma mulher que desmaia no estacionamento em que ele estava. É o amor a primeira vista.

2) Quais de Seine de Gurinder Chadha – Dois garotos jovens ficam paquerando e incomodando as mulheres que passam na rua enquanto um olha apaixonadamente para uma garota muçulmana. Depois de ajudá-la, encontra com ela na Mesquita e ficam juntos (sob aprovação do pai, é claro). O respeito gera amor.

3) Le Marais de Gus Van Sant – Numa galeria de artes, um garoto filosofa sobre a vida e se declara pra um ajudante da galeria, que permanecia calado. No final, ele lhe entrega o telefone. Depois que vai embora, o ajudante revela que não fala a língua do garoto e não havia entendido nada. O amor acontece, mas não vence a barreira da língua sempre. Infelizmente.

4) Tuileries de Joel & Ethan Coen – No metrô, um turista quarentão lê num guia de viagens que não se deve encarar as pessoas na rua. Sem querer, ele encara um casal jovem do outro lado da estação. O rapaz fica com raiva, briga com a garota dele, que fica com raiva também. Num ato impensado, ela vai até o lado do turista e o beija. O rapaz fica enlouquecido e desce socos e chutes nele. No final, o casal sai bem e mais apaixonado e o turista se vê no chão, todo machucado. É, o amor jovem é louco.

5) Loin Du 16ª de Walter Salles & Daniela Thomas – Uma jovem garota deixa seu bebe de colo na creche e passa um bom tempo no transito até chegar à casal na qual trabalha como babá. E cuida do bebê da sua chefa, cantando a mesma canção de ninar que canta pro seu filho. O amor pode ser irônico e cruel, às vezes.

6) Porte de Choisy de Christopher Doyle – Na ruas de uma Paris irreal, um vendedor de produtos de beleza é mal recebido por uma ex-lutadora oriental que agora era dona de salão de beleza. Após comprovar a qualidade do produto, todas começam a tratá-lo bem e seduzirem ele. O marketing como responsável pelo amor.

7) Bastille de Isabel Coixet – Um homem decide se separar de sua mulher em um restaurante para viver com sua amante. Antes, ela conta que está com leucemia avançada. Ele desiste da separação, se desfaz da amante e cuida dela com todo o amor possível. De tanto fingir que a ama, cuidando dela, passa a amá-la de verdade. Até ela morrer. E ele nunca supera a morte dela. O amor nem sempre é justo.

8) Place des Victories de Nobuhiro Suwa – mãe ainda transtornada pela morte do filho (enquanto o resto da família já superou), vê o cowboy, que o filho tanto gostava, na rua. Lá, ele lhe dá a oportunidade de ver seu filho novamente. Ela o sente, e percebe que é hora dele ir embora pra sempre. O amor materno é único, e imortal.

9) Torre Eiffel de Sylvain Chomet – molequinho conta como seus pais se conheceram: eles eram mímicos e ignorados por todos. Apesar de toda melancolia marcada em seus rostos, sempre tentavam chamar atenção. Até que um dia, incomodaram tanto que foram presos. Dentro da cadeia, eles se conhecem. Para amar, precisa ter humor.

10) Parc Monceau de Alfonso Cuaron – Mostra o dilema da mãe em deixar o filho pela primeira vez, para ir ao cinema com uma amiga. E ela confia no pai dela (que faz de tudo para tranquilizá-la) para cuidar do bebê. O amor que passa por gerações.

11) Quartier des enfants rouges de Olivier Assayas – Um traficante, ao levar cocaína para uma atriz americana, se apaixona por ela e ela não percebe. Depois, ela sente “falta” dele e pede coca novamente, como um pretexto para vê-lo novamente. Só que outro vai e entrega a droga à ela (e a rouba). O amor nem sempre acontece.

12) Place des Fetes de Oliver Schmitz– Um rapaz negro paquera a enfermeira que o ajuda. Ele a havia visto uma vez enquanto limpava um estacionamento. Nesse tempo, ele foi demitido e alguns jovens roubaram as coisas dele e, por reagir, acaba levando uma facada. Ele morre nos braços dela. O amor, algumas vezes, não tem tempo para acontecer.

13) Pigale de Richard Lagraveneze – um velho abastado vai para uma boate erótica. Lá ele encontra uma senhora de idade que o paquera. Depois, percebe-se que eles já se conhecem e que são um casal entediado realizando uma fantasia sexual (sexo anônimo) para reativar o fogo. Não dá certo e eles brigam. E depois se entendem. O amor vai muito além de fantasias sexuais.

14) Quartier de La Madeleine de Vincenzo Natali – Nas ruas de uma Paris irreal, um jovem vê uma bela vampira sugando sangue de uma pessoa já morta. Ao encará-la, vê amor em seus olhos (e vice-versa). Ela resolve ir embora e deixá-lo em paz. Ele a quer e se corta pra que saia sangue e ela fique com ele. Ela vai embora mesmo assim. O corte foi mais profundo do que ele esperava e começa a morrer. Ela suga o sangue dele e o transforma em vampiro. O amor ao extremo pode trazer resultados mais extremos.

15) Pire-Lachaise de Wes Craven – No cemitério, um casal em “lua de mel” (não se casaram ainda) passeia entre os túmulos, até encontrarem o de Oscar Wilde. Passam a discutir a relação e a garota percebe que falta sorriso na vida dele, desistindo do casamento. Irrealmente, o rapaz vê Oscar Wilde lhe dizendo para correr atrás dela e aprender a sorrir. E ele o faz. Algumas vezes, para amar basta apenas sorrir.

16) Faubourg Saint-Denis de Tom Tykwer – Um garoto passa a refletir todo o processo de namoro que tem com uma atriz Londrina depois de receber um telefonema dela terminando tudo. Percebe que a ama acima de tudo. E sabe que a ligação era apenas mais um treinamento para uma peça que ela estava trabalhando. O amor prega peças e dá muitos sustos.

17) Quartier Latin de Frederic Auburtin & Gerard Depardieu – Um ex-casal idoso se encontra num restaurante e começam a falar de seus atuais parceiros sem discrição e com muita diversão. Algumas vezes, não é preciso viver junto para amar plenamente.

18) 14º Arrondissement de Alexander Payne – Uma turista, já em idade avançada, junta todo dinheiro que pode para passar uma semana em Paris (depois de ter passado a vida aprendendo a falar francês). Se sente solitária, mas feliz. Descobre que se apaixonou pela cidade. E que Paris se apaixonou por ela.

No final, algumas histórias se encontram. Outras não. Mas todas terminam bem de alguma maneira. E sempre apaixonados.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Império dos Sentidos

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Filme japonês criado em 1976. Conta uma história real de um casal que vivia em Tóquio no ano de 1936, em pleno conflito entre o ocidente e o oriente. Levou o Hochi Film Awards de “melhor ator” e iniciou o estilo de filmes com sexo explícito, mas não pornográficos (por não ter o sexo em si como tema central).

“Eu me sinto renascida.”

Abe Sada é uma ex-prostituta que fugiu de sua terra para esquecer o seu passado de luxúria e trabalhar na casa do senhor Kichizo. Desde o começo do filme, é possível perceber o apetite sexual que envolve o mundo de Sada. Quando ela sai na rua, encontra um velho que já havia sido seu cliente no passado. Ela não se recorda dele, mas ele se lembra dela e quer mais uma noite. Apesar de mostrar o membro dele explicitamente, não há uma beleza sexual. Pelo contrário, há uma repulsa do sexo. Tanto que ele não dá conta de iniciar o sexo com ela.

Toda manhã, Sada via Kichizo e a esposa transando e passa sentir uma atração por ele. Já o senhorio, percebe uma química entre ele e Sada e investe em paqueras (sempre consciente de que ela já havia sido uma prostituta) até que eles se transformam em amantes. A casa de Kichizo sempre foi vista como respeitável, mas percebe-se que era tudo fachada. O sexo é selvagem e a traição é sempre clara.

Um ponto interessante do filme é ver o papel das gueixas na casa dos senhorios. Elas não são prostitutas, como dizem os ocidentais. São artistas da mais alta estirpe e muito talentosas. São vistas com respeito e confiáveis para a família. Não se espera que haja uma relação sexual entre elas e seus clientes. Tanto que muitas passam a não freqüentar a casa de Kichizo, quando o affair dele com Sada se torna explícito. Inclusive, Sada é todo oposto daquela tradição oriental. Na verdade, ela é uma ocidental levada aos extremos, tudo que importa para ela é ter novas experiências. Conhecer tudo. Consumir o máximo que puder (de paixão e sexo).

“Quero sentir seu prazer.”

No momento em que os amantes transam pela primeira vez tudo começa a girar em torno do sexo. Vão para uma casa e ficam sozinhos o tempo todo. Deixam de comer e beber. Recusam-se a limpar ou deixar que alguém limpe o quarto impregnado com o cheiro de sexo. E a mais declarada nessa paixão é Sada, que não deixa Kichizo nem ir ao banheiro e começa a falar de dor e morte o tempo todo. É como se o extremo do prazer fosse a dor. E o extremo da dor era a morte. Inicia-se assim jogos sexuais que incluem voyeurismo, masturbação, ménage, orgia, sadomasoquismo e brincadeiras até com menstruação, bebidas e comida. Inclusive, houve uma cena com o ovo (que foi introduzido em Sada por Kichizo), que se tornou muito polêmica, por mostrar o sexo da mulher com clareza e a tratar como um animal (tanto que, para tirar o ovo, ela “choca” ele, como uma galinha). Para tornar as cenas mais intensas, o filme faz um uso muito grande da cor vermelha, representativa no sexo e a cor da bandeira japonesa. O nacionalismo passa a se misturar com o sexo selvagem. É como se isso não fosse somente aceito, mas como fizesse parte do país. Essa é a indicativa que essa paixão toda não acontecia somente com esse casal, mas sim num país em constante conflito cultural.

“Sou insaciável e amo sem restrições.”

Chega um momento que tudo passa a fugir do controle. Kichizo não pode mais chegar perto da esposa por causa do ciúme de Sada. A reputação dele (e da casa dele, inclusive) fica manchada. Para não deixá-lo sair de casa, ela tira o kimono do alcance dele. As ameaças de morte (no ciúme) se tornam mais freqüentes. Apesar da desculpa torpe que a medicina deu para o apetite sexual de Sada (ela seria “sensível” ao sexo, tornando-o mais prazeroso ainda), a selvageria chega à fronteira da loucura. Sada era capaz de ver um teor sexual até em crianças. Mas o principal é perceber a passividade de Kichizo. Ele realmente sentia prazer em se sentir dominado, sem saídas. E assim, iniciam o jogo mais perigoso e extremista deles: o prazer pela asfixiação. O tesão pela morte de Sada unida ao prazer de ser dominado por Kichizo formou um conjunto perigoso. E como não podia deixar de ser, terminou em tragédia. Para sentir o prazer máximo e não ficar com a dor depois, Kichizo pede para que Sada o estrangule até ele morrer. Ela, maravilhada por sentir o prazer máximo ao vê-lo morrer, fica tão satisfeita e enlouquecida que, depois de quatro dias, é vista nas ruas (e presa, posteriormente, por homicídio), feliz e segurando o pênis cortado fora de Kichizo. E saber que isso é história real torna tudo mais incrível e assustador. O casal conheceu, viveu e morreu na plenitude máxima que o prazer sexual poderia oferecer.

"Sorte no amor. O amor é cego. Homem cego é bobo. Bobo de amor. O amor é bobo."

domingo, 24 de outubro de 2010

Sherlock Holmes

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Filme estadunidense produzido em 2009, trouxe de volta para as telas a série policial (e cômica) de Sherlock Holmes e Dr. Watson. O último filme dessa série foi feito em 1988 (com o filme Sherlock e Eu). Foi baseado nas histórias de Sir Arthur Conan Doyle (médico) e tudo acontece por volta de 1981, na Londres vitoriana. Mas não voltou como continuação ou refilmagem, mas sim como uma reinvenção da saga de aventuras do detetive particular. Levou o Globo de Ouro de "melhor ator" e foi dirigido por Guy Ritchie.

Sherlock Holmes é o detetive particular espertão e desajeitado, com seus hábitos peculiares. Mestre das artes marciais, domina o baritsu e o boxe. Assim, é capaz de ter a previsão certeira e antecipada dos golpes que irá infringir e receber. A sua sede de curiosidade e espírito científico e tecnológico o torna um inventor (e experimentador - rãs e cachorros que o digam) para a época. E um grande conhecedor de produtos e reações químicas.

John Watson é médico e veterano de guerra, fiel companheiro de Holmes. Forte e ágil, está lá para fazer funcionar o lado racional de Holmes. No filme, há um conflito entre eles, pois Watson vai se casar com a Sra. Mary. Com o casamento a vista, o doutor decide não se aventurar mais nas investigações de Holmes, mas o ciúme gerado um pelo outro causa até certa tensão sexual entre eles. Quer dizer, pelo menos o filme tentou transparecer isso.

Blackwood é o vilão da história, que se mostra completamente oposto a Holmes. Ele se diz detentor da magia negra e causa a morte de diversas pessoas de maneira muito estranhas, como, por exemplo, ser enforcado e ressuscitar, fazer um pegar fogo ao atirar e outro se afogar em sua própria banheira. Filho bastardo de um dos lordes da Câmara de Londres, concebido em um ritual no estilo maçom, resolve se vingar de todos e tomar o poder de Londres, querendo matar a todos da Câmara que não lhe fossem fiéis a ele. A missão de Holmes e do delegado Lestrade é impedir isso. Inclusive, não tem como deixar de perceber o quão a Scottland Yard é mau vista. Ineficiente, atrasada e atrapalhada, acaba por depender quase que completamente de Holmes, apesar de serem bastante orgulhosos e se acharam superiores. Viu só? Caricaturaram a melhor polícia do mundo. Não que tudo seja completamente mentira.

Tão oposto quanto Blackwood é amor da vida de Holmes, Irene Adler. Ladra, a única capaz de enganar Holmes algumas vezes, reaparece trabalhando para o professor Moriarty. Esse professor estava atrás de uma única tecnologia de Blackwood que provavelmente iria mudar o mundo como nunca havia visto antes: o controle remoto. É uma bela homenagem para um objeto que, hoje, é crucial no nosso dia a dia.

Por fim, Holmes e sua turma conseguiram deter Blackwood que acabou por se enforcar e morrer (só que dessa vez de verdade). E Holmes consegue provar aquilo que sua mente sempre te disse: não há magia (nem negra, nem branca). Eram truques de mágica que ganharam credibilidade com o medo gerado pela superstição e a reputação de Blackwood. Esses truques incluíam uso de ervas, reações químicas, medicina antiga e moderna, etc.

Agora, o maior personagem do filme não é Holmes ou alguém da sua turma, mas sim a cidade Londres. Toda sua geografia faz parte dos filmes e a construção da Ponte de Londres, moderníssima para sua época, mostram todo o esplendor de uma Londres Vitoriana sob o signo do progresso industrial. Muito show.