segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Os excêntricos Tenenbaums



Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.
The Royal Tenenbaums
Filme estadunidense de 2001 dirigido por Wes Anderson. Tem como marca registrada a falta de sentimentos quase sociopata dos personagens e o elenco estelar envolvido na trama. Levou o Globo de Ouro para o “melhor ator” e o Prêmio Adoro Cinema para o “melhor comediante” e “melhor roteiro original”. 

Os Tenenbaums fizeram sucesso pela sua genialidade e pioneirismo, porém foram esquecidos após de 22 anos por causa de fracassos e traições internas. Não há um estudo psicológico dos personagens do filme, então seus atos não são explicados por seus traumas de infância, etc. Na verdade, seus atos não são explicados, tudo se baseia no que acontece no presente e no que sentem no momento em que estão praticando a ação. No geral, o filme é bastante detalhista, distante e característico (sem chegar a ser caricaturado, é claro). E o mais curioso do filme é o tal taxi cigano que os Tenenbaums sempre pegam.  É um filme cômico que não se ri. Ele não foi feito pra isso. Na verdade, é uma crítica clara à formação de uma família no estilo “American way of life”. As aparências não são o que realmente importam e a realidade é mais feia do que se parece.

Royal Tenenbaum (interpretado por Gene Hackman – ganhador dos prêmios) é o chefe da casa; pai de todos; o grosseirão que trai a mulher e não quer saber dos filhos. É também o cara que depois de muito tempo (e depois de perder todo dinheiro que tinha) resolve retomar o contato com a família, e para isso, usa um recurso clássico: fala que está morrendo. Assim, ele volta para casa da família. Ele é o personagem que quebra o hábito dos personagens de falarem tudo que vêm a cabeça (tão honestamente). Depois que a mentira é descoberta, volta para o hotel que morou por tanto tempo, só que como ascensorista, dessa vez.

Etheline Tenenbaum (interpretada por Anjelica Huston) é a rígida educadora da casa; mãe de todos; amorosa e protetora dos filhos; principal responsável pela genialidade e sucesso deles. Ficou famosa também por lançar um livro sobre como criar filhos gênios. Namora Henry (interpretado por Danny Glover), o único personagem negro do filme, contador da família. Ele tem como maior desejo viver com Etheline, que depois de um tempo, cede e decide se casar com ele.

Chas (interpretado por Bem Stiller) é o precoce conhecedor de finanças internacionais; filho mais velho da família; montou sua primeira empresa antes dos dez anos e processou seu pai (tirando a licença de advogado dele) por ter tirado o seu dinheiro quando era menor de idade; teve dois filhos (Uzi e Ari) e se tornou em um completo paranóico quando perdeu sua mulher em um avião: agora tudo é treinamento para sobrevivência em situações de risco (ou seja, toda hora). Tanto que volta para a casa da mãe por não se encontrar seguro em outro lugar. Interessante perceber que ele sabe que a casa não tem proteção nenhuma a mais, mas que lá, ele não se sentia em perigo. E também não podia imaginar que quem o tiraria desse pavor interno seria o próprio pai, que se tornaria no melhor amigo dele e de seus filhos.

Margot (interpretada por Gwyneth Paltrow) é a dramaturga da família; adotada aos dois anos pela família, foi a única que tentou fugir dos Tenenbaums; e voltou dias depois sem um dedo (ela havia encontrado seus parentes genéticos e havia tentado viver o estilo de vida deles – lenhadores). Extremamente depressiva, desiludida e sigilosa. Casou-se com Raleigh St Clair (interpretado por Bill Murray) e vivia trancada no banheiro. Depois resolve voltar para a casa da mãe. Raleigh é o pesquisador de novas doenças focado em experiências biológicas. Ele chega a ser quase um hipocondríaco do tanto focado ele é em seu trabalho. E não confia em Margot, colocando um detetive atrás dela e descobrindo coisas absurdas, sendo a que mais o chocou: ela sempre fumou a vida toda (no meio das descobertas, soube que ela o havia traído muitas vezes e que já havia se casado antes na Jamaica).

Richie (interpretado por Luke Wilson) é o esportista da família: foi um grande tenista da época; é o caçula da família e sempre foi apaixonado por Margot; perdeu sua carreira após o fiasco de seu último jogo (que aconteceu um dia depois do casamento de Margot); nunca se declarou a ela e nunca se recuperou do fato acontecido; apesar de aparentar ser o mais tranquilo da família, se mostrou ser o suicida. É interessante ver que o personagem mais sentimental do filme é o único que tentou se matar, seria os sentimentos uma abertura para a desilusão?

Por fim temos Eli (interpretado por Owen Wilson) e Pagoda (interpretado por Kumar Pallana). Eli é o amigo da família que sempre sentiu inveja de não pertencer a ela. Teve um caso com Margot e trata Etheline como se fosse sua própria mãe. Ficou famoso ao escrever um livro e passou a se drogar (apenas por diversão) sempre. Pagoda é o fiel servidor de Royal. Já o esfaqueou antes e investiga Etheline para saber de seu cotidiano. E jamais abandonaria Royal, sendo até mesmo ascensor ao seu lado (em tempos mais difíceis).

No final das contas é possível perceber que há sim, sentimentos profundos nos personagens, só que não são mostrados tão claramente em suas aparências. É como se fosse um ensaio do que seria o contrário do que acontece na realidade (em vez de serem felizes nas aparências, são infelizes nela ao passo que sabem amar e sentir por dentro, ao invés do contrário). A redenção (tão necessária na maioria dos filmes americanos) acontece no casamento de Ethel, onde todos finalmente se entendem e tudo fica bem. É o toque final de Wes Anderson para que toda a infelicidade seja redimida. E a gente precisa disso algumas vezes, certo?

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Aconteceu em woodstock

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.
Taking Woodstock
É um filme estadunidense dirigido por Ang Lee em 2009. Nele é mostrado o surgimento e os bastidores do festival de música Woodstock. Apesar de se tratar sobre um evento e ser baseado em uma história real, não é um filme documentário, sendo bastante curioso e necessário para os fãs do rock mundial. Não foram usadas filmagens reais do show e as celebridades da música que lá tocaram (Janis Joplin, Jimi Hendrix, The Who, Joan Baez etc.) nem sequer aparecem nele, mostrando o caráter de “por detrás dos panos” que o filme tem.

É fato que sem Janis Joplin, Jimi Hendrix ou o público que estava lá, o festival jamais teria acontecido, mas há um personagem da história que tornou tudo possível: Elliot Tiber. Ele é o presidente da Câmara do Comercio de White Lake que voltou falido de Nova York para manter o hotel dos pais na pequena cidade de Bethel. Já pediu o máximo possível de empréstimo no banco e agora está sendo cobrado, senão perderá o hotel. Numa visão empreendedora, ele percebeu que seu hotel poderia lucrar muito se trouxessem um show recusado pela cidade de Woodstock por medo dos hippies que poderiam se juntar na região. Com o poder de dar o alvará e a grande quantidade de pasto aberto para a preparação de um show permitiu que ele desse vazão a idéia e corresse atrás na prática.

Há algumas peculiaridades no filme: uma trupe de teatro alojada no celeiro um tanto contemporânea; um travesti forte, enorme e maduro (Vilma) para cuidar da segurança de Elliot; um soldado aposentado (Bill) enlouquecido pela guerra do Vietnã (numa clara crítica social); um pai passivo e uma mãe paranóica e grosseira. É possível ver a frustração de não ter Bob Dylan no festival (um dos cantores mais esperados pelo público). Também há diversos conflitos que são mostrados com igual importância: relação entre pais (mal agradecidos) e filho (ingênuo); descoberta sexual (Elliot se descobre gay); libertação pelas drogas (apresentação de um mundo belo e psicodélico); tentativa na erradicação dos preconceitos; união entre policial e público (mesmo sendo hippies) e a possibilidade de um festival armado pelo pedido de paz e amor mundial. Essa apresentação peculiar e conflituosa do filme ganha tanto destaque que durante todo o filme nem sequer aparece os cantores no palco durante o festival e mostra a quantidade de pessoas que foram lá e não assistiram nada.

Por fim, quando o festival acaba, as pessoas ajudam a limpar em meio aos montes de lama e mostra que, apesar de 500 mil pessoas terem comparecido (eram esperada 200 mil), não houve violência (morreu apenas uma pessoa por overdose e outra atropelada por um trator) e Elliot se viu milionário. Depois descobre que sua mãe sempre teve dinheiro guardado (mostrando a enorme paranóia dela) e decide que é hora de sair de casa (e seu pai apóia). Apesar do tom de esperança no ar, no qual é feita uma referencia a um espetáculo que seria melhor ainda, todos sabem que não seria verdade. Esse espetáculo se chamou Altamont Festival In (até Rolling Stones tocou por lá) e tornou o símbolo da violência e despreparação policial. E Woodstock entrou no passado.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Morro dos Ventos Uivantes

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.


Wuthering Heights

Filme estadunidense baseado no livro homônimo de Emily Brontï. Já é a quinta adaptação do livro para o cinema. É dita como a adaptação mais completa, mas também a menos detalhada: alguns fatos acontecem tão rapidamente que acaba por deixar o espectador confuso. O elenco, encabeçado por Ralph Fienes e Juliette Binoche, chamou atenção nessa sombria e profunda história de amor (doentio em certos momentos).

“Vou contar uma história, mas você não deve rir em nenhum momento.”

O filme começa com a autora do livro narrando o filme. Ela já prepara que o que está por vir não será agradável: a destruição de uma geração inteira das famílias Earnshaw e Linton. E tudo aconteceu por causa de um personagem: Heathcliff.
“Mas era amargura, não sensibilidade, que o tornava silencioso.”
Heathcliff foi encontrado nas ruas de Liverpool, morrendo de fome, pelo Sr. Earnshaw. Depois o levar para sua casa (que fica no tal morro dos ventos uivantes) e adotá-lo, ele apresenta ao pobre garoto seus filhos: Hindley, que o odiava e, mais tarde, viria a ser extremamente religioso; Catherine, brincalhona e mimada, que se apaixonaria por ele depois. Assim, Heathcliff foi criado no mesmo ambiente como se fizesse parte da família e até chegou a se tornar filho do Sr. Earnshaw.

“Não sabe que sempre voltarei?”

Tudo começa a dar errado quando Hindley se torna o chefe da casa depois que o pai morre. Num ato de vingança, subjuga Heathcliff, o transformando em mero empregado. Catherine deixa que isso aconteça, mas nutre um amor pelo empregado. A vingança se torna a palavra chave da casa, e ela se voltaria contra eles depois. Como se Heathcliff soubesse do futuro mais vingativo ainda, ficou calado e aguentou tudo. Só que as coisas passaram a desandar de vez quando, depois de uma brincadeira, ficou claro que Cathy teria um futuro tempestuoso. Mesmo assim, passaram a viver um belo e escondido amor. Logo em seguida, ela conheceria os Linton, ricos moradores da região em que vivem, acabando com todo o relacionamento amoroso que eles tinham. Edgar e sua irmã Isabella se apaixonam, respectivamente, por Catherine e Heathcliff. E Edgar pede Cathy em casamento e, para o choque dos espectadores, ela aceita, mesmo amando Heathcliff. Tudo isso por um motivo: não queria ser humilhada ao ficar com um empregado quando pode viver uma boa vida com um rico. E Heathcliff, sabendo dessa explicação, foge de casa por longos 18 anos.
“A melhor maneira de me matar seria me beijar novamente.”
Heathcliff reencontra uma Cathy rica, fútil e nem tão feliz assim. Ele sim havia mudado muito: estava rico e mais quieto, rancoroso. Era como se ele tivesse se transformado em um vingador. E começa a colher desgraças por onde passa. Primeiro, compra a casa de Hindley (que era onde ele havia sido empregado por tantos anos) que havia perdido todo o dinheiro em jogos. Segundo, passa a provocar Cathy, mostrando todo seu amor. Terceiro, se casa com Isabella, tão ingênua e apaixonada por ele. E tudo isso por amor. Sim, puramente o amor enlouquecido. Enriqueceu por Cathy, Casou por Cathy, destruiu vidas por Cathy. Assim, passa a subjugar Hindley e Hareton, filho dele (e o último da linhagem Earnshaw) e a maltratar Isabella (que aparece espancada e triste). Cathy fica grávida de Edgar e depois que nasce sua filha, também chamada de Catherine, adoece (por causa das brigas com Edgar e por causa do amor impossível de Heathcliff).

“Eu ria da dor ao invés de sofrer com ela. Porque mudei tanto?”

Constantemente o passado limita o futuro dos personagens. Sempre são lembrados do mal que fizeram nos anos anteriores e sofrem por causa disso. Heathcliff, acima de tudo, se encarrega de levar isso para a vida deles. Até que, por fim, Cathy morre (de amor ou de tristeza... nunca se saberá). E toda a raiva de Heathcliff é despejada para fora, trazendo uma nova imagem desse tão sombrio personagem. Ele é movido a puro rancor. Sabia que a vida deles poderia ser bem diferente se Hindley não o tivesse subjugado, se Catherine não tivesse vergonha dele e se Edgar não tivesse se intrometido na vida deles. E, por fim, ele invoca uma maldição à alma de Cathy: que ela nunca subisse aos céus; que ela sempre o assombrasse; que ela nunca o deixasse sozinho, porque ele a ama e não pode viver sem sua imagem.

“Catherine Earnshaw, que você não descanse enquanto viver.”

Mais 18 anos depois, outros fatos acontecem: Hindley morre de tanto se embebedar, Hareton se transforma num fiel e analfabeto trabalhador, Heathcliff tem um filho com Isabella (que morre posteriormente) e Edgar tenta, ao máximo, criar sua filha Cathy o mais longe possível de Heathcliff. Só que o destino não facilita as coisas que a faz com que caia nas mãos de seu inimigo. E na primeira chance que tem, Heathcliff a força se casar com o filho dele. Logo em seguida, Edgar, o pai dela, que já estava doente, morre. Um pouco depois, o filho de Heathcliff, também doente, morre, deixando tudo que pertence em nome do pai. Nesse testamento incluía a mansão dos Linton. Essa mansão sempre foi retratada com muita alegria e em cores claras, enquanto a mansão dos Earnshaw sempre pareceu medieval, abandonada e raivosa. No final, a mansão clara é sublocada e Heathcliff passa a viver com Catherine no morro dos ventos uivantes.
Interessante é perceber dois fatos sempre presentes no filme: sempre há alguém escutando a conversa por detrás da porta (e não é espírito); Ellen Dean, a empregada dos Earnshaw, passa por todos os momentos das duas família e testemunha toda a maldição. Ellen, além de ser observadora dos acontecimentos, se torna participante ao se tornar a principal confidente do casal Catherine e Heathcliff.

“Não posso viver sem minha vida. Não posso viver sem minha alma.”

Hareton acaba se afeiçoando a Catherine, que o ensina a ler. Heathcliff tenta afastá-los o máximo possível. Até que um dia, a vingança que ele trouxe a todos finalmente chegou a ele: ao ver o espírito da Catherine que tanto amou, acaba por morrer (e ficar junto com ela). Assim, acaba a maldição que destruiu toda uma geração das famílias Earnshaw e Linton. Hareton e Catherine ficam juntos e acabam com esse mal. Finalmente, hein?