sexta-feira, 28 de maio de 2010

Todo mundo em Pânico 2

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.
 
Scary Movie 2
 
Filme estadunidense de 2001, tem como objetivo satirizar os filmes mais conhecidos do cinema americano na época em que foi criado.
São eles:
Exorcista
Casa mal assombrada
As Panteras
Casa na Colina
Cara, cadê meu carro?
Tigre e o Dragão
Rocky Balboa
Palhaço assassino
Twister
Poltergeist
Revelação
Missão Impossível II

Obs: O filme também satiriza alguns importantes personagens americanos, como Michael Jackson.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Laranja Mecânica

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Clockwork Orange
Filme inglês de 1971 considerado como um dos maiores clássicos de todos os tempos. Apesar de ter recebido 14 indicações que englobam o Oscar, Globo de Ouro e BAFTA, só recebeu os prêmios de New York Films Critics Awards (“melhor filme” e “melhor diretor”). O filme gerou tanta polêmica por sua violência que o diretor, Stanley Kubrick, altamente reconhecido no mundo cinematográfico, proibiu que o filme fosse rodado na Inglaterra (país onde o próprio filme foi produzido) até a data de sua própria morte (que aconteceu em 1999) por causa do grande número de críticas. Apesar de não ter sido bem recebido nas grandes academias, levou o Prêmio Pasinetti do Festival de Veneza, Golden Spotlight da Alemanha e o Prêmio Especial Union de La Critique Cinemathographique da Bélgica, mostrando o quão popular ele se tornou.

“O mundo é fedorento? O que há de tão fedorento nele?”

O filme se passa em uma Inglaterra futurista que possuem defeitos e problemas que remontam o passado e os dias atuais. O grande realismo do filme se encontra nos atos da gangue de Alex DeLarge, que possui verdadeiros traços de psicopata, batendo e estuprando quem vê pela frente. Há até uma brincadeira no nome de Alex, que em latim, A-lex significa ‘sem lei’. Outro detalhe interessante é que a linguagem que Alex usa para falar é uma união entre o inglês, o russo e suas gírias. Detalhe: esse filme foi produzido no auge da Guerra Fria.

“Cantando na chuva. Só cantando na chuva. Que sensação gloriosa. Estou feliz de novo.”

É perceptível que, o tempo todo, o filme tenta unir o clássico sagrado ao moderno pagão. Principalmente quando acontecem as cenas de estupro: uma das mulheres é estuprada num teatro clássico abandonado por uma gangue inimiga da de Alex; Alex estupra outra cantando “Singing in the rain”, musica conhecida pelo musical clássico de Gene Kelly (Cantando na chuva). Mas talvez, cena mais simbólica esteja na briga entre Alex e a “mulher dos gatos” (como foi chamada pela mídia). Nessa cena, Alex usa uma estatua de um grande pênis para matar a tal mulher, que usava como arma um busto de algum artista clássico (desconfio seriamente que seja o Beethoven). Detalhe: ela considerava o tal pênis uma obra de arte, enquanto nem pensou duas vezes ao usar o busto como arma. A religião também é mal vista no filme, sendo usada como apenas uma arma para sair mais rapidamente da prisão (ela é constantemente debochada pelos personagens do filme). Num momento do filme até aparece uma imagem de Jesus que, na posição colocada, parecia estar dançando ao som de alguma música pagã. É importante lembrar que, mesmo para um delinquente como Alex, a música clássica faz parte de sua vida: Beethoven.

“É muito legal, bom para rir e liberar a velha ultra violência.”

A sociedade, por suas inovações tecnológicas, começa a se mostrar vazia. Suas vítimas já não são mais integras. Todos têm seus defeitos e todos têm seus motivos. Nisso, a juventude passa a ser cada vez mais sádica e o crime passa a ser visto como uma obra de arte. Alex vem de uma família endinheirada, mas seus pais só pensam em si mesmos e só se voltam para o filho quando surge um peso na consciência. Não haveria uma vontade própria ou um amor. Essa é a maior marca de Kubrick: retratar a frieza humana. O luxo aparece constantemente sujo e abandonado. Todos que se dizem salvadores pensam em seus próprios prazeres (como é o caso do consultor pós-correcional que quer apenas ter relações sexuais com Alex). A sensação de desesperança e o humor negro aumentam, principalmente ao lembrar que a sociedade está mais preocupada em mandar o homem para lua do que cuidar dos que ficam aqui. No final, tomamos a conclusão que a violência vem da própria sociedade. E que criamos os monstros que depois queremos jogar fora, quando nos dão problemas. Não há outra forma de satirizar a sociedade moderna de maneira mais clara que Kubrick satirizou.

“Videie bem, irmãozinho, videie bem.”

Alex, para se mostrar um grande líder, pratica a violência até com a sua própria gangue. Cansados desse tipo de tratamento, a gangue o trai e ele vai preso. Mostrando a sua grande inteligência, Alex se mostra como um prisioneiro modelo, se tornando religioso e obedecendo as ordens sem pestanejar. Para sair mais rapidamente da cadeia, aceita passar pelo “Projeto Ludovico” que seria nada mais que uma pura lavagem cerebral. Essa lavagem modificaria todo seu ser e o obrigaria a ser bom na sociedade. Apesar de tudo, ele não se arrepende por ter matado a mulher e, curiosamente, durante a prisão, ele usa um bracelete muito parecido com os que os judeus usavam durante o Nazismo alemão (o principal guarda também lembrava fisicamente o Hitler e todos os prisioneiros são chamados pelo número, assim como nos campos de concentração nazistas).

“Quando um homem não pode escolher, ele deixa de ser homem.”

A maior critica a lavagem cerebral não era nem a desumanização (isso só acontece depois que mostra como Alex não recuperou realmente), mas sim o fato de que seria injusto transformar o mal no bem, afinal, se eles fizeram o mal, devem ser punidos por eles, e não reabilitados. A pessoa que dá a chance dele ser reintegrado na sociedade depois da “cura” seria o Ministro do Interior (que pensa somente em sua campanha eleitoral). O mesmo seria responsável pela manutenção da delinquência de Alex no final do filme, quando a verdade cura está em poder voltar a fazer suas próprias escolhas, se livrando da tal lavagem cerebral. Nessa lavagem, seria passada uma grande quantidade de imagens voltadas à violência e ao estupro. Alex as veria tanto que qualquer pensamento sobre elas o traria um enjôo extremo. O único problema é que a trilha sonora das imagens era o próprio Beethoven, fazendo com que ele sentisse a mesma coisa que ele sente quando vê as imagens.

O título ‘Laranja mecânica’ pode ter vários significados. A laranja seria um mecanismo natural perfeito, que possui vida no seu suco. Quando ela se torna mecânica, todo aquele organismo passa a ser um objeto controlado pela sociedade. Esse objeto seria controlado desde sua criação, o que o tornaria facilmente manipulável. Há também uma brincadeira entre a palavra orange (laranja) e orangotang (primata que chega o mais próximo do primata que designou o homem). Como conclusão, o título mostraria exatamente o que foi dito no filme: quando o homem passa a não ser mais dono de suas próprias escolhas, ele deixa de ser um homem (natural, perfeito) e passar a ser uma máquina (brinquedo da sociedade).

“E agora você é outra vítima da sociedade moderna.”

Ao voltar para a sociedade, o filme aponta o principal problema social: o maior erro do ser humano é tentar reabilitar o indivíduo, não a sociedade em si. Alex, ao ser reintegrado, passar por maus bocados: ao dar esmola para um velho senhor, é espancado pelos mendigos por antigamente bater em velhos; seus amigos de gangue do passado agora são policiais e fazem uso desse poder para subjugar os outros, humilhando-os; a única pessoa que lhe é caridosa (por motivos torpes – ajuda o partido de oposição do governo), um velho escritor (provavelmente tem um namorado jovem e musculoso), o reconhece e tenta matá-lo (no passado, Alex estuprou e matou sua mulher), trancando Alex num quarto com o volume máximo da 9ª sinfonia de Beethoven. No final, ele tenta se matar pulando da janela do quarto, mas sobrevive. Durante a sua recuperação física, psicologicamente recuperaria do projeto Ludovico, no qual ele receberá o amparo do ministro com um emprego fácil e um bom salário. Tudo isso porque a mídia delatou os pesquisadores e mostraram como a lavagem cerebral não é eficiente. Acredito que o maior objetivo de Kubrick é mostrar como a sociedade age: olho por olho, dente por dente.

“É engraçado como as cores da vida só parecem reais quando você as videia em uma tela.”

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A Malvada

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

All about Eve

Filme estadunidense de 1950, é até hoje um dos que tiveram mais indicações de Oscar (empatando com Titanic), concorrendo a 14 estatuetas. Dessas 14, levou o “melhor filme”, “melhor diretor”, “melhor ator coadjuvante”, “melhor roteiro adaptado”, “melhor figurino” e “melhor som”. No Globo de Ouro, levou o “melhor roteiro”. Já no Festival de Cannes, levou o prêmio de “melhor atriz” e o Prêmio Especial do Júri para o diretor do filme, Joseph L. Mankiewick. Foi selecionado para preservação pela Biblioteca do Congresso dos EUA.

“Mais tarde, falaremos sobre Eve. Tudo sobre Eve, aliás.”

O título original do filme é “All about Eve” (“Tudo sobre Eve”), que encaixava perfeitamente com a proposta do filme, diferente da tradução brasileira (“A malvada”) que mostrava Bette Davis na capa, passando a idéia de que ela seria a pessoa malvada. O filme conta também com um elenco de fortes estrelas de Hollywood (como Bette Davis e Anne Baxter, ambas ganhadoras de Oscar em outros filmes) e um diálogo pra lá de inteligente.

“Ela tinha um único desejo, anseio, sonho: pertencer a nós.”

O filme começa com a premiação dos melhores personagens do teatro. É perceptível a importância dada à atriz no filme, no qual o prêmio que a ela é dado é mais importante do que o do diretor e do roteirista. E, também, o filme todo mostra o teatro como uma arte mais relevante que o cinema, encarando Hollywood como um centro de pessoas exageradas e falsas.

“Só faltava cães sanguinários mordendo o traseiro dela.”

Eve é apresentada à elite do teatro como uma pobre menina que sofreu no passado (ela teria perdido o marido na guerra e vagueado sozinha pelo país). O único desejo dela era assistir às peças apresentadas por Margot, uma estrela do teatro conhecida desde sua infância. Conquista também Lloyd e Karen, respectivamente roteirista e sua mulher. A única a desconfiar um pouco de sua história é a empregada de Margot, que, por ironia, também era atriz e teria atuado, por 10 anos, como comediante no teatro. O filme deixar no ar, também, se Eve realmente admirava Margot e o teatro ou se era só um plano bem traçado para alcançar a fama e a riqueza. Pode até serem os dois, naquela idéia de “unir o útil ao agradável”. O que mais chama atenção em Eve é a capacidade que ela tinha de passar compaixão e ódio para o espectador quase que ao mesmo tempo.

“Todas as religiões do mundo em um único lugar. Somos Deuses e Deusas.”

O filme inteiro se baseia nos bastidores do teatro, deixando o assunto atual até os dias de hoje. A influência que o teatro passava, naquela época, era gigantesca. As pessoas comuns queriam ser como os personagens do teatro e Margot aproveitava isso. Ela tinha um temperamento instável e costumava a tratar os outros como se fossem inferiores a ela. Paradoxalmente, era forte, mas insegura e carente de amor.

“Apertem os cintos! Essa será uma noite turbulenta.”

Eve passa a trabalhar como empregada de Margot e se mostra completamente eficiente. Eficiência essa que começou a assustar Margot, pois parecia que Eve a estudava, usando suas roupas e mantendo contato constante com seus amigos e até o seu próprio namorado (Bill, que era diretor de teatro e cinema). Ao compartilhar essa imagem com os outros, todos a vêem como paranóica, por ser tão preocupada com o fato de Eve ser bem mais jovem. Afinal, o que um carneirinho podia fazer contra um lobo? Como todos estavam acostumados às explosões que Margot causava, não deram ouvidos e se sentiram ofendidos. Chega a um momento que Margot passa segurar os casacos para que os convidados possam conversar com Eve. Faço um destaque também à Marilyn Monroe, que fez uma ponta como Srta. Caswell mas que foi marcante no filme com sua sensualidade e voz sexy.

“Quando uma atriz decide que as palavras que diz ou os pensamentos que exprimem são seus?”

Margot confronta seus amigos (diretores, escritores, produtores e roteiristas) e eles a rebatem, desvalorizando-a. Por fim, Karen traça um plano de vingança com Eve para prender Margot no transito e fazer com que ela perca a peça. Eve que teria conseguido o papel de substituta de Margot através dos amigos da própria Margot (manipulando-os), chamaria toda a mídia para mostrar a nova estrela do teatro. Dito e feito, Margot perde a peça, mas Karen se arrepende. Eve aproveita essa chance para tentar conquistar Bill, ato este que deu absolutamente errado, e se lançar no mundo do teatro sozinha.

“Neste meio, todos são culpados até que se prove o contrário.”

Eve se junta com Addison DeWitt, um crítico de teatro muito influente na mídia. Na coluna dele, ela critica Margot enquanto Addison chama atenção para o nascimento de uma nova estrela. Esse crítico, apesar de ser visto o tempo todo como uma pessoa de mau caráter, é também a consciência moral do filme. Para ele, importa quem é realmente talentoso no mundo do teatro. E não faz uso de mentiras ou falsidades para chegar aonde quer. Além da coluna, Eve chantageiam Karen para conseguir ser atriz principal no lugar de Margot na peça de Lloyd. Nisso, ela também tenta conquistar Lloyd e traça um plano para casar com ele, formando uma dupla imbatível (melhor atriz junta com o melhor roteirista). É perceptível os traços de loucura que vão surgindo na voz e nos atos que Eve produz.

“Nada é para sempre no teatro.”

Margot, que tinha tudo para ser feliz, não o era. Sua insegurança e envelhecimento não permitiam isso. Ela sabia que no dia que deixasse de ser a estrela que sempre foi, todos a abandonariam. Esse medo acabou quando Bill a pede em casamento, dando a ela a chance de ter uma vida estável, como sempre quis. Addison, sabendo que Eve era extremamente manipulativa, a coloca na linha, jogando todas suas cartas na mesa. Ele sabia quais as origens de Eve e também tinha capacidade de jogá-la no anonimato (já que ele que a levou ao estrelato). Com isso, ele não permite que ela se case com Lloyd e a faz ter a melhor atuação de todos os tempos. E realmente, a atuação foi tão boa, que a fez ganhar o tal prêmio (voltando ao começo do filme). A cena final é exatamente o fechamento do ciclo, no qual Eve se torna a grande estrela sem escrúpulos (na qual é capaz de se vender até para o cinema – mal visto no filme) e recebe uma surpresa em casa, uma menina que é muito fã dela e que quer passar o tempo todo com ela. Todos já sabem qual vai ser a continuação dessa história, certo?

"Ora, na falta de outra coia, ainda temos os aplausos."

terça-feira, 18 de maio de 2010

Ghost - O outro lado da vida


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Ghost

Filme estadunidense de 1990, se tornou um dos romances mais populares do cinema. Whoopi Goldberg levou de “melhor atriz coadjuvante” um Oscar, Prêmio Saturno, BAFTA e Globo de Ouro. O filme levou também um Oscar de “melhor roteiro original”, dois outros Prêmios Saturno (“melhor atriz” e “melhor filme de estréia”) e um People’s Choice Awards de “melhor comédia”.

“Eu só tenho medo que o sonho acabe.”

Sam é um executivo jovem e em uma boa situação financeira. Apaixonado por Molly, uma artista plástica, montam um apartamento juntos. O filme todo se baseia basicamente na intensidade do amor desse casal, que não são de muitas palavras, mas seus gestos e olhares dispensam qualquer papo. No começo, tenta sempre passar aquela idéia de que “coisas ruins não acontecem com a gente, só com os outros”, deixando sempre no ar aquela ameaça de que algo vai acontecer. E realmente acontece. Num “infortúnio” assalto, Sam morre. Nisso entra bem a crença espírita, que ficou, de certa forma, vulgarizada. Sam não vai para luz, pois não está preparado para sair do mundo terreno. Essa falta de preparação, no começo, parece que é a incapacidade dele aceitar a própria morte, mas na verdade, é o papel dela ajudar a Molly se livrar do perigo.

“Ah, Deus, me ajude.”

Vagando no mundo terreno, mas sendo invisível a todos, Sam aproveita a sua situação para descobrir o que ainda há de errado. Nisso, ele descobre que seu grande amigo Carl tinha feito uma trama para assaltá-lo (e, sem querer, causou a sua morte) e pegar a senha de um arquivo da empresa onde trabalham. Carl iria dar um golpe (em conjunto com alguns mafiosos) na empresa, no qual ele ganharia 80 mil e os mafiosos com quatro milhões. Em suma, Sam perdeu sua vida por 80 mil. Então, ele arma toda uma vingança, enquanto conhece outros personagens essenciais. Um deles é o espírito de porco que vive no metro. Com esse espírito, Sam aprende a usar a força da mente para movimentar objetos, numa clara mensagem de que o espiritual (emocional) é mais forte que o racional. Assim, Sam passa a interferir pessoalmente na vida terrena dos que ficaram vivos. E é assim que ele dá a prova clara que o espírito existe para Molly. Nessa formação, percebe-se que não há uma fé real no filme, para se acreditar em algo, tudo tem que ser provado.

“A vida muda em instantes.”

Oda Mae é a vidente charlatã que consegue o primeiro contato com Sam. É ela que vai desencadear todas as ações principais do filme. Percebe-se que, no filme, todos os personagens têm um papel definido. Sam é o guerreiro, amoroso, insistente e esperto. Molly é a linda, ingênua e amada mulher. Carl é o inescrupuloso materialista que não tem capacidade de amar. Oda Mae é a, também materialista, mas engraçada, forte e amorosa. Não há uma complexidade nos sentimentos dos personagens, mas apesar disso, mostra toda a alegoria sobre o amor que o filme trata sempre. É o amor que surge depois da morte, é o que fica na vida depois que ele some, é o que se mantém escondido por detrás de uma carapuça e é o mentiroso, que só é usado para conseguir algo de alguém. Outra habilidade que o filme tem é a de conseguir quebrar o clima de angústia da tristeza na qual Molly se afoga com a comédia provocada pelas trapalhadas de Oda Mae. Isso dá uma leveza no filme que o torna agradável. No final, apesar da igreja ser sempre bem vista (afinal, não é qualquer instituição que recebe uma doação de 4 milhões do nada), o clima de vingança ficou fora do contexto. A vingança se tornou plena (já que mandar o assaltante/assassino Willie e Carl para o inferno – literalmente, as sombras vieram buscá-lo – foi um fator que libertou a alma de Sam) e é justificada (pode-se matar pessoas quando elas são realmente más). Apesar disso, o céu e o inferno continuaram misteriosos. E o amor sempre vem em primeiro lugar. E outra mensagem deve ser passada:

“As pessoas acham que é eterno, que sempre haverá um amanhã, mas isso é mentira.”

sábado, 15 de maio de 2010

Taxi Driver

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

É um filme norte-americano feito em 1976. Até hoje ele é aclamado como um dos maiores filmes americanos já feitos. Levou o Palma de Ouro no Festival de Cannes e “melhor ator” no New York Films Critics Circle Awards. No BAFTA, levou o “melhor atriz coadjuvante”, “melhor revelação” e “melhor trilha sonora”. Esse filme lançou ao estrelato dois atores que até hoje são da alta estirpe de Hollywood: Robert de Niro e Jodie Foster.

“Parte verdade e parte ficção. Uma eterna contradição.”

Travis é um jovem veterano da Guerra do Vietnã. Como muito dos jovens que voltam da guerra, não suporta a calmaria da nossa vida. Em meio ao tédio, insônia, alienação e frustração, ele resolve se tornar um taxista de duplo expediente, sendo o da madrugada mais interessante e importante. Ele possui uma personalidade inconstante e contraditória, levando muitas vezes à ingenuidade e agressividade.

“Um dia, virá a chuva para levar toda essa escória.”

Nesse expediente noturno, Travis conhece o submundo de Nova York. Dentro de um realismo gritante, as coisas mais absurdas são mostradas como comuns e diárias. Mesmo que faça comentários preconceituosos e grosseiros, no final ele realmente não liga para nada. Trata como se fosse algo normal do dia-a-dia (até por ser algo comum naquela época). Outra coisa que mostra a personalidade perturbada de Travis é a falta de hobby (nem mesmo sexo o interessa) e o fato de nem ligar para o dinheiro (que seria apenas uma conseqüência da quantidade de trabalho que ele possui).

“Ela surgiu como algo puro em meio a tanta sujeira.”

Travis, ao ver pela primeira vez Betsy, começa a ficar obcecado por ela. Ela trabalhava na campanha de Palantine, um candidato a presidente. Ele a encontra e pede para sair com ela. No final, ela aceita e ele sente tanto orgulho disso que, ao perceber que por coincidência Palantine entrou em seu taxi, começa a gostar dele. É como se ele fizesse parte da pureza que a Betsy havia trazido em meio a sujeira do mundo. No primeiro encontro, ela sente admiração por ele e aprecia a personalidade conturbada que ele tinha. Mas ao levá-la ao cinema pornô, a ingenuidade dele não foi suportável, fazendo com que ela o rejeitasse. Mesmo correndo atrás dela, ela não o queria. E nada a faria mudar de idéia. É nesse momento que começa a se registrar os primeiros traços de violência em Travis, quando até mesmo por Palantine, o ódio aumenta. É como se ela não trouxesse mais aquela pureza, fazendo com que Palantine voltasse a fazer parte da sujeira.

“Tchau, matador.”

Entre os colegas taxistas, Travis ganhou o apelido de Matador. Parece quase uma vidência em relação ao futuro de Travis e é a partir desse apelido que a personalidade dele começa a se modificar diante seus próprios olhos. Ele compra uma coleção de armas e se anima tanto com elas que cria dispositivos caseiros (mas tecnológico e criativo) para carregá-las e começa a malhar diariamente. Então, quando ele compra as armas, ele retoma a sua auto-estima, como se isso o lembrasse dos tempos de guerra. E como se os tempos de guerra fossem os bons tempos para ele. E mostra também o perfil sociopata que ele tem ao mostrar o apartamento como um verdadeiro caos, a distância que ele mantém dos parentes próximos e o pouco contato que ele tem com outros seres humanos. O único momento em que ele demonstra alguma emoção é ao ver em uma novela da TV um homem sendo rejeitado pela mulher que ama. Ele destrói a TV. Procura não lidar com sentimentos e aproveitar a experiência que tem com armas e a facilidade que tem para matar (coisa que ele comprovará até o final do filme).

“A solidão me seguiu a vida toda, em todo lugar.”

Em meio à escória de Nova York, ele encontra outra jóia rara. Uma prostituta de doze anos que entra no taxi dele para tentar fugir de seu cafetão chamado Sport. No momento, ele não reage, mas consegue reencontrá-la e ficar obcecado em salvá-la (mesmo ela não querendo). Ela se mostra como uma menina jovem, alegre, esperançosa e até mesmo madura, apesar de ingênua. Travis se mostra um cara moralista (“meninas tem que estudar e ficar na casa dos pais”) e percebe que por ela, vale a pena morrer para salvar. Literalmente.

“Manchete: Motorista de Taxi combate marginais.”

Na impossibilidade de enxergar um futuro para ele, ele esquematiza um plano. No final, o plano dá errado, mas nem todos os males vêm para piorar. Primeiro, ele corta seu cabelo em moicano, como muitos soldados da guerra faziam, mostrando certa selvageria. Depois ele tenta matar Palantine com uma de suas armas. Por ter sido lento ao tentar tirar a arma, não consegue. No final, ele mata Sport, o porteiro do hotel de prostitutas e o cliente que estava sendo atendido por Iris e tenta se matar, mas que por escolha do destino, não consegue por a arma estar descarregada (havia atirado demais). Ferido violentamente (um tiro no braço e outro no pescoço que passaram despercebidos durante o tiroteio), ele desmaia. A ironia do filme se encontra no epílogo. Ele continua sendo um motorista de taxi, parece curado de suas antigas obsessões (não liga para a Iris ao saber que ela voltara para os pais e não se importa com Betsy, mesmo reencontrando-a e sabendo que ela o admira). Tornou-se um herói para a imprensa sensacionalista (sendo que ele poderia facilmente ter se tornado num assassino conhecido por matar o candidato a presidência). Mas o olhar dele mostra que ele não curou da sua personalidade doentia. E que ele passaria por tudo aquilo novamente. E que não seria um herói novamente.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A Vida é Bela

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

La vita è bella
É um filme italiano de 1997 que é dirigido e protagonizado por Roberto Benigni. Como ator, levou Oscar, BAFTA e Prêmio David di Donatello. O filme também levou Oscar, Prêmio César e Prêmio David di Donatello de “melhor filme estrangeiro”. Levou o Prêmio Goya de “melhor filme europeu” e recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes. Levou também o Oscar de “melhor canção original” e Prêmio David di Donatello em “melhor fotografia”, “melhor figurino”, “melhor diretor”, “melhor produção”, “melhor cenografia” e “melhor roteiro. O filme ainda contou com Nicoletta Braschi, que era a real esposa de Roberto Benigni. No filme, eles formavam um par completamente apaixonados. Isso tudo ajudou a dar aquela naturalidade incomum que os filmes têm. E deliciosa, diga-se de passagem.

“Bom dia, princesa.”

Em um roteiro completamente diferente e atraente, o filme se divide em duas partes. Uma é comédia romântica em 1959 e a outra é um drama em 1945. O filme começa com Guido e seu amigo Ferucio indo para a cidade grande. Lá eles seriam garçons do tio de Guido, que possui uma vida luxuosa. Guido é um inteligente nato em termos de charadas (apostando sempre uma com um cliente do restaurante). Zombeteiro, ridiculariza as classes privilegiadas e a idéia de uma raça ariana. Por ser judeu, sofre preconceitos, mas passa por cima deles com muito otimismo. A princesa da sua vida é Dora, que sempre se encontrava ao acaso, como se fosse o destino. Apesar de estar noiva de outro, Guido a conquista em meio a trapalhadas, casam e têm um filho chamado Giosué. Roberto Benigni faz brincadeiras e cria situações que nos fazem lembrar muito do Charles Chaplin e seu personagem O Vagabundo.

“Já vi fornos a lenha, mas nunca a gente.”

Quando Giosué tem cinco anos, a família já é prospera. Guido tem sua livraria, o tio continua no restaurante e Dora continua a dar suas aulas. Quando menos se espera, Guido, o filho e o tio são levados pelos Nazistas para o campo de concentração. Dora, num ato de desespero e amor, pede para ser levada também. A idéia de viver sem o filho e o marido é pior do que viver sozinha. Para que Giosué não sofra, Guido inventa um jogo no meio do campo de concentração, disfarçando a idéia de que eles estariam presos. Nesse jogo, eles teriam que juntar mil pontos para ganhar um tanque de verdade (sonho de Giosué). A partir daí, as brincadeiras que Guido tanto usava para humilhar os outros passa a ser humilhante para ele mesmo. Mas o que ele não faria pelo filho? Num momento irônico, ele reencontra o seu amigo das charadas. Ao pensar que o amigo queria ajudá-lo a sair de lá, deposita todas suas esperanças nele. Na verdade, ele só queria ajuda em mais uma charada. Guido, sabendo que Dora também estava no campo de concentração, procurou as mais diversas formas de se comunicar com a mulher de sua vida. Encontrou um microfone e colocou uma vitrola para tocar com a sua música preferida. Essas provas de amor acabavam por funcionar como um meio de esperança para que ela suportasse todos os horrores por qual estava passando. Num determinado momento, os velhos e crianças começam a ir para o chuveiro (sendo, na verdade, câmeras de gás). O tio vai para o “chuveiro” e morre, mas Giosué foi teimoso e não quis tomar banho. Ao se esconder, acabou por se salvar e seu pai aproveitou para transformar o chuveiro em mais um obstáculo para chegar até o tanque, mantendo o filho escondido sempre. Na véspera do fim do campo de concentração, ao esconder o filho e tentar avisar à sua mulher pra ela não ser levada pelos Nazistas, ele é encontrado e fuzilado. Até nesse momento, ele é otimista e brinca para que o filho não se preocupe. Infelizmente isso não foi o suficiente. Mesmo sendo otimista, bondoso e amado, ele morreu. No final, apesar da clara apologia à entrada americana na guerra, Giosué consegue subir num tanque e reencontrar a sua mãe, tornando-o perfeito e feliz.

“Essa é a minha história, o sacrifício que meu pai fez e o presente que ele me deu.”

domingo, 9 de maio de 2010

Leões e Cordeiros

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Lions for Lambs
Filme feito em 2007 pela United Artists. Entre os criadores dessa empresa estão o Charles Chaplin e Griffith, importantes pioneiros do cinema americano. Ao ser comprada nos anos 80 pela MGM, ela foi praticamente esquecida. Quando Tom Cruise tomou a cadeira de chefe da U.A. acabou por realizar esse filme, no qual Robert Redford dirigiu e atuou como um dos personagens principais.

“Roma está queimando, filho.”

O filme é um verdadeiro debate sobre a atualidade e seus problemas. Está, principalmente, no âmbito político, mas mostra também a posição da imprensa e a visão dos jovens perante todos os acontecimentos. Apesar de mostrar um mundo norte-americano, esse filme facilmente pode ser usado para mostrar a realidade de muitos países do ocidente (e quem sabe, do oriente também). Esse debate se encontra em duas frentes diferentes que se unem por outro acontecimento. Uma das frentes é entre o senador que está lançando uma nova estratégia de guerra contra o Afeganistão e uma jornalista experiente, cínica, descrente e muito frustrada. A outra parte de um professor idealista numa conversa com um aluno desiludido. Essas frentes se encontram na ação de dois jovens que foram alunos do professor (e, logicamente, colegas do aluno) que se encontraram em uma armadilha da estratégia do senador (ao usá-los como isca para a destruição e mais afegãos).

“Matar pessoas para ajudar pessoas.”

Os EUA tratam os afegãos como inimigos que precisam ser destruídos. Ao mesmo tempo, diz que a guerra é para trazer a democracia para o país deles, pensando sempre em seus bem-estares. É nessa contradição que se baseia o debate entre o senador e a jornalista. A incapacidade de ver a diplomacia como forma de resolução para o grande conflito não é nem sequer avaliada. Apesar de o senador realmente sentir a morte de muitos jovens, homens e mulheres. Diz que tudo é necessário.

“Seis anos para dar o primeiro passo? A II Guerra Mundial durou menos de cinco.”

O olhar da jornalista sobre o político é sempre incrédulo. A frustração que ela sente por ter apoiado anteriormente o senador e a Guerra do Iraque tomam conta de seu espírito e a consciência pesa. Sua experiência permite que ela olhe a frente do que o senador diz. Percebe que apesar de todo o plano de ataque, não há um plano de manutenção do país para quando o ataque terminar; que muitos jovens serão usados como iscas para que os afegãos saiam de suas tocas e sejam exterminados; que toda a entrevista não passa de uma propaganda de guerra que pode ser usado posteriormente para a projeção do senador na Casa Branca. Outra coisa que ela percebe é a falta de foco ao perceber que o Irã e Coréia do Norte se transformam também em inimigos quando o senador tenta comprovar a existência do eixo do mal.

“Lembra-se de como o terror fez vermos o mundo de uma forma totalmente diferente?”

Enquanto o senador constantemente dá idéias para o futuro, a jornalista se prende ao passado, com o que ela aprendeu. A quantidade de erros do passado seria tão grande que a idéia de criar um futuro usando as mesmas bases parece absurda. Isso sendo ou não verdade, para o senador, não importa. Para haver um futuro, essa seria a única estratégia válida.

“Vocês já promoveram a guerra, agora quero que promovam as soluções.”

Ao mesmo tempo em que a jornalista ataca, ela se encontra encurralada. Ela e a empresa pela qual trabalha (AXN) já apoiaram a guerra e se encontra atualmente muito desmoralizada. Ao ser comprada por uma empresa de sabão, deixaram de fazer propagandas realmente importante para venderem uma série de anúncios e fofocas. Tudo por audiência. Tanto que após a entrevista, acontece uma discussão entre ela e o editor dela, na qual ela se encontra novamente encurralada. Se ela lançasse a versão dela (a de que tudo seria mera propaganda), ela provavelmente perderia seu emprego e não conseguiria outro (mas ela tem 57 anos e uma mãe para sustentar). Então ela deixa na mão do editor que, claro, lança a versão do político na TV. No final das contas, a imprensa age como um Quarto Poder e tem esse papel de grande importância na sociedade moderna. O único problema é que ela pode estar tão “bichada” quanto os outros Poderes.

“Se isso é maior que um cidadão honesto em um emprego honesto, esqueça.”

O professor descobre o potencial de um aluno, jovem de elite, ser um agente transformador da geração atual. O debate acontece na falta de interesse e ação desse aluno para com o país e seu próprio estudo. Nesse confronto, vários pontos são abordados, vindo sempre de um professor idealista e de um aluno desiludido. O aluno sempre focaliza num passado distante ideal e na certeza de que o sistema é podre e que nada pode ser feito para mudar isso. Por isso prefere aproveitar a vida boa que lhe foi oferecida e viver tranquilamente, seguindo as leis, mas sem confrontar os problemas. O professor mostra a possibilidade de ele ser o diferencial de sua geração e usa argumentos para mostrar que a vida dele nunca será tão boa quanto ele quer se não lutar por um mundo melhor. Se indignar não é o suficiente. Deve haver uma ação para que, na pior das hipóteses, se aprenda com ela e passe seu aprendizado adiante.

“Bem, quem não sabe fazer ensina.”

Ao confrontar as escolhas do aluno, ele mesmo é confrontado. Quando mostra que ele é apenas um professor, ele se lança em mais uma base idealista. Não é apenas um professor, mas um descobridor de jovens potenciais. Para ele, a nota dos alunos não importa e o que importa é como eles pensam e como são os debates que são criados e quem participa deles.

“Nunca vi tantos leões sendo comandados por cordeiros.”

Na conversa entre eles, surge o assunto de que o professor teria apoiado a idéia de seus dois outros alunos terem se alistado na guerra. Esse professor seria o culpado por encher a cabeça desses garotos de idealismos e destruir um futuro que eles poderiam ter. No meio da conversa, percebe-se que não foi isso que aconteceu, mas o contrário. Que o professor, ao conversar com esses alunos, pedira para que eles tentassem modificar a política internamente. Ele sabia que os primeiros que se alistam a uma guerra são aqueles que o país não tratou bem. Mas percebeu que, também, não era ele que era responsável pelas idéias dos garotos. Eles, por serem pobres e sofrerem preconceitos raciais (um é negro e outro é mexicano) criaram ao longo da vida suas idéias. As suas vontades de participarem do que estava acontecendo em seu mundo atualmente se tornou grande demais. E para unir o útil ao agradável, quando voltassem da guerra não teriam dividas (se ficassem, teriam dividas grandiosas para pagar a faculdade, coisa que o governo paga ao veterano) e seriam muito mais respeitados. Sendo assim, poderiam participar fisicamente de um confronto e modificar a política interna quando voltassem. O único erro deles foi não considerar o risco de morrer. E morreram.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Diário de um adolescente

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

The Basketball Diaries
 
É um filme estadunidense feito em 1995. Conta a história real de Jim Caroll, um conhecido escritor, músico e poeta. É um dos principais filmes com o tema relacionado a drogas que é voltado para o público jovem. Nele não se encontra sermões e finais morais, mas sim a realidade de um jovem de classe média que mora em Nova York.

“Adoro esse jeito. Meus pés contra o alcatrão que está macio como o calor da primavera.”

Jim era um jovem adolescente que estudava num colégio religioso, tinha sua turma própria de amigos e era um promissor jogador de basquete (estando no melhor time de colégio religioso de Nova York). Ele guarda um profundo ódio pelos religiosos (por eles baterem nele) e não dá o menor valor para as aulas, preferindo cabulá-las e se divertir com os amigos. Essa turminha dele é uma verdadeira tribo urbana: todos vivem num ritmo parecido, pensam as mesmas coisas e fazem tudo juntos. O filme mostra bem os rituais de “passagens” para entrar e permanecer nessas tribos urbanas. Algumas fazem o uso excessivo de drogas, outros criam espécies de trotes e, os mais tradicionais, adoram disputar um racha. Todos esses rituais têm como objetivo mostrar a coragem e a lealdade do indivíduo para com o grupo. O problema deles começou a surgir quando as drogas começaram a ser parte necessária da vida deles.

“Se cheirar, é melhor enfiar logo. Se enfiar, que seja na veia principal.”

Assim começou o processo de vício que massacrou todo o futuro de Caroll. Foi expulso do colégio, do time de basquete e até da própria casa. É perceptível que esses acontecimentos também vieram do outro lado. A mãe não teve força suficiente para lidar com um filho drogado, preferindo colocá-lo na rua. O técnico do basquete tenta bolinar Jim em troca de dinheiro e quando o garoto recusou, a relação entre eles decaiu muito. Os padres nunca quiseram confiar de verdade nos seus próprios alunos. As confissões eram forçadas e nada pessoais e eles são vistos como pessoas absolutamente inflexíveis e desconfiáveis. Como muito disso aconteceu de uma vez, foi como se uma avalanche tivesse acertado Jim de certeiro. Como não bastasse isso, seu próprio grupo entra em crise.

“Olhei para o rosto dele. Era a morte pela primeira vez.”

Caroll perdeu seu melhor amigo (sendo ele também de infância) para a leucemia. Isso levou Jim a uma série de crises existenciais, dando o a chance de amadurecer. Um de seus amigos, para não sair do time de basquete, se afasta do grupo e do mundo das drogas. Esse é um dos que mais faz sucesso futuramente, principalmente no esporte. Um entrou tão forte no mundo das drogas que mesmo depois de ter sido enviado para o reformatório e ter voltado dele, não parou com as drogas (até Caroll já tinha parado) afundando nelas cada vez mais. Por fim, o último integrante do seu grupo se tornava extremamente violento e infiel durante o uso das drogas (o que acontecia quase o tempo todo). Ele foi preso depois de ter sido culpado por um homicídio (um homem haveria fugido com as drogas dele, fazendo com que ele se embrutecesse e o jogasse do alto de um prédio).

“Tempo ocioso é oficina do Diabo.”

O filme é bem realista ao mostrar que os jovens afundaram num mundo das drogas sem inventar desculpas ou motivos para explicar essa entrada no tal submundo. Durante o vício, os sonhos se tornaram violentos e os poemas começaram a fluir facilmente. O filme mostra também a frustração que Jim sentia de querer parar e não conseguir. O tempo todo é feito uma distinção entre os tipos de drogados. Jim e seus amigos se encaixavam no grupo de moleques de rua que jamais acreditariam que poderiam se viciar por algo que é tão exclamado como algo ruim (como Jim dizia: “É uma coisa para matar o tédio, sabe?”). Tudo isso é expresso alternando entre o racional e o emocional de Jim. Para ele poder se livrar dessas drogas, foi usado um personagem do seu passado. Um colega do basquete de rua. Ele encontrara Jim desmaiado na neve e o prendera em casa até que passasse o efeito viciante da droga. Ele quase enlouquece numa recuperação dolorosa, mas necessária. O plano funciona muito bem até o dia em que ele resolve sair, deixando Jim sozinho. Num turbilhão de pensamentos e desejos, Caroll sai de casa e vai as ruas conseguir dinheiro. Para isso, ele rouba e se prostitui. No final, Caroll é preso e novamente passou pelo processo de recuperação dolorosa, sendo essa mais traumatizante. Pelo menos, ele nunca mais entrou no submundo das drogas, entrando no mundo como um escritor, músico, poeta e até mesmo ator renomado.
"Eu estou sozinho. Mas não é só eu. Todos estamos sozinhos. Sozinhos para sempre."

domingo, 2 de maio de 2010

O Piano


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

The Piano

Filme produzido pela Austrália, França e Nova Zelândia em 1993. Ganhou o Oscar de “melhor atriz”, “melhor atriz coadjuvante” e “melhor roteiro original”. No BAFTA levou só “melhor atriz” enquanto no Globo de Ouro, levou o mesmo e levou também o “melhor figurino” e “melhor desenho de produção”. Ganhou no Festival de Vancouver, no Prêmio César, na Academia Japonesa de Cinema, no Independent Spirit Awards e no Prêmio Bodil o “melhor filme estrangeiro”. No NYFCC Awards, levou o “melhor diretora”, “melhor atriz” e “melhor roteiro”. No festival de Cannes, levou o Palma de Ouro e um prêmio de “melhor atriz”. O filme é voltado para o público feminino, assim como nos bastidores as mulheres dominaram (foi dirigida e roteirizada por mulheres). A atuação da atriz principal é tão forte que ela mesma toca o piano.

“No final, o silêncio afeta a todos.”

Ada é uma mulher refinada e que morava com o pai e sua filha Flora. Seu pai a prometeu para Stewart, um morador da exótica e rústica Nova Zelândia de relativo poder aquisitivo. Ela é muda desde os seis anos por motivo desconhecido e toca piano desde que se entende por gente. É como se o maravilhoso som que sai do piano fosse a sua voz, só que esta não pode ser rebaixada por tons e palavras ambíguas. O piano é sincero e embargado de emoções, mostrando o quão profunda é sua alma angustiada. A Flora, sua filha, é a perfeita figura de uma filha obediente, feliz e inocente. É segura como a mãe, mas desprovida dos grandes sentimentos que a afligem.

“Deixe me fazer coisas contigo enquanto tocas.”

Ao chegar ao novo país, ela não é tão bem recebida por seu novo marido (deixar o piano na água e a fazer tirar uma foto vestida de noiva sozinha no meio da chuva foram algumas das suas grandes gafes). Ao perceber que as profundezas da alma dela se encontravam no piano e ao saber que não poderia (e não queria) lidar com isso, vendeu o piano a um vizinho nativo chamado George Baines, que lhe ofereceu terras em troca do piano e das aulas de Ada. Quando ela descobre que Baines quer apenas a ouvir tocar em seu piano e percebe que ele a entende, dá inicio a um jogo sexual que pouco será aceito pelas pessoas que a rodeiam. Esse jogo dura até o momento que Baines devolve o piano, dizendo que eles poderiam continuar juntos apenas se ela quisesse (e se separasse do marido).

“Ele faz de você uma prostituta e de mim, um desgraçado.”

O piano sempre é visto como uma maldição, como aquela parte obscura da alma. Stewart e Flora, desde o começo sabiam do relacionamento extraconjugal de Ada. Ele apreciou o sexo dos dois (trazendo a clara idéia de um voyeurismo) e depois a aprisionou em sua casa e Flora o apoiou.

“Tenho medo de meus desejos. Do que eles são capazes de fazer. São tão fortes...”

A alma de Ada se aprisionou tanto que seus instintos sexuais se afloraram cada vez mais, fazendo com que ela faça cariciais bastantes sugestivas em seu marido, apensar de sentir repulsa pelo mesmo. Ele, mesmo se sentindo traído e não confiar nela, aprecia seus toques. Mas ao voltar a realidade, e perder a total esperança, volta ao primitivo psicológico e corta o dedo dela com um machado, declarando que se ela encontrasse Baines novamente, iria cortar um dedo por um. Nesse momento, Flora, que ficou no lado dele o tempo todo, se volta para a mãe. Assim, ela recupera um pouco de seu espírito, coisa que seu piano não o fazia. O piano só insistia em sempre mostrar a alma torturada que Ada tinha.

“Ela tem razão. Isso é um caixão. Deixe que o mar o sepulte.”

Ao entender que nada poderia fazer para ficar com Ada, entregou-a para Baines. Eles finalmente podem ficar juntos e resolvem sair daquele país. Mesmo diante dessa nova oportunidade, Ada continuava a sofrer constantemente. No meio da travessia no mar, ela pede para que o piano seja jogado no oceano. Eles atendem ao pedido e ela se prende à corda do piano, afundando junto. Assim, ela achou que poderia fim a todo aquele sofrimento. E pôs, pôs a tempo de fazer com que ela saísse do fundo e percebe-se que ela tem vontade de viver. Ao abandonar o piano no mar e quebrar o silencio provocado pelo som da sua alma que saia das notas do mesmo piano, ela pode começar a dar inicio à sua nova vida, aprendendo a falar e viver com as pessoas que ama: Flora e George.