sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Vestido de Noiva

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Filme de 2006 baseado na obra-prima de Nelson Rodrigues. Escrita em 1941, é uma das dramaturgias mais conhecidas e confusas de Rodrigues. Inclusive, foi dessa literatura que surgiu a dramaturgia moderna brasileira. Levou o Prêmio ACIE em “melhor atriz”.

A história se baseia em três planos: realidade, loucura (sonho) e lembrança. Esses planos são unidos constantemente, numa reconstrução atemporal, deixando o espectador na dúvida sobre qual seria a realidade afinal. Tudo acontece no período da 2ª Guerra Mundial (e um pouco depois). A história começa a partir do momento em que Alaíde e sua família se mudam para a casa da antiga cafetina Madame Clessi. Ela havia sido morta com uma navalhada por um jovem amante de 17 anos. E nessa casa, Alaíde encontra o diário e algumas roupas dessa Cafetina e passa a se deslumbrar pela história dela.

E então, ela é atropelada por um carro. E julga que isso foi intencional. Nisso, ela perde a memória. Bate no prostíbulo de Madame Clessi e pede ajuda a ela, para se recordar do que aconteceu. Sim. Madame Clessi está morta. Fica obvio que este é o plano da loucura ao Clessi aparecer bela, feliz e bem-humorada. As ‘empregadas’ da casa disseram que ela havia morrido feia, gorda e cheia de varizes. E que havia sido enterrada vestida de branco, como uma noiva. Juntas, passam a relembrar não só o passado de Alaíde, mas como também o de M. Clessi, que também não sabe como morreu.

Enquanto isso, ela se encontra no hospital em coma. Os jornalistas passam a publicar o acontecido e descobrem que foi um acidente. Apenas um acidente. Alaíde acha que matou Pedro, seu marido. E um senhor no Bordel a chama de Assassina. Ao mesmo tempo, ela se recorda em ter vestido as roupas sexys de Clessi para o seu marido e ele a ter rejeitado por isso. Então, joga um vaso na cabeça dele e o mata. Assim ela se sente livre. Também percebe que o ama. Por fim, descobre que a ‘mulher do véu’ é o verdadeiro motivo da morte dele.

Alaíde passa a se recordar do dia em que casou com Pedro. E descobre que a ‘mulher do véu’ é a sua irmã Lúcia. Ela conta que Pedro era seu namorado anteriormente, apesar dele nem sequer reconhecê-la (ou fingir isso), e se mostra ressentida pelo casamento de Alaíde. As duas passam a disputar os homens e seus charmes até a Lúcia ameaçá-la de morte, para assim poder casar com o Pedro. É por isso que Alaíde acredita que o atropelamento havia sido proposital. E percebe que a morte do marido era apenas uma ilusão. Uma vontade. Descobre também que ele a traia sempre.

Clessi se lembra da história ao lembrar-se do rosto do filho que morreu novo. O jovem amante se chamava Alfredo Gummont (em homenagem a peça La Traviata) e eles eram realmente apaixonados. O que entrou no caminho deles foi a pouca idade de Alfredo. A mãe dele descobre tudo e confronta Clessi, que a expulsa da casa após de entender a hipocrisia dela e perceber que ela havia ferido seu orgulho. Por fim, ela decide abandoná-lo. Ele não aceita bem, a mata e depois se mata.

Alaíde, em seu confronto com sua irmã, passa a ofender a mãe (dizendo que ela transpira muito) lembrando bem a infância e suas brigas fraternais. Alaíde morre do coma. O pensamento de que tudo seria apenas um drama de classe média inventado por Alaíde cai por terra quando Pedro confirma ter aprontado tudo e que a idéia havia saído da própria Lúcia. Assim, ele poderia casar com Lúcia. Só que Lúcia sofre muito com a morte da irmã, e se sente assombrada pela tal. Apesar de ter sempre desejado a morte da irmã, é a que mais sente falta.

Ao entender tudo, Alaíde finalmente se liberta e perdoa a irmã. No casamento de Lúcia e Pedro, Alaíde aparece vinda do altar vestida de noiva ao som da marcha fúnebre. Ao mesmo tempo, Lúcia segue em direção do altar ao som da marcha nupcial. Ao se encontrarem, Alaíde entrega seu buquê a Lúcia e segue com Madame Clessi para a morte. Lúcia, mesmo sabendo que era ilusão dela, se sente melhor e segue em direção ao seu noivo. Uma conseguiu o direito de viver feliz com quem queria. A outra ganhou o direito de seguir para a morte após de uma vida que nunca lhe seria suficiente. Talvez, se permanecesse viva, Alaíde poderia realmente matar seu marido e, por fim, ser morta por sua irmã. Mas essa é outra história. Uma história que não acontecerá.



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