terça-feira, 26 de outubro de 2010

Império dos Sentidos

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Filme japonês criado em 1976. Conta uma história real de um casal que vivia em Tóquio no ano de 1936, em pleno conflito entre o ocidente e o oriente. Levou o Hochi Film Awards de “melhor ator” e iniciou o estilo de filmes com sexo explícito, mas não pornográficos (por não ter o sexo em si como tema central).

“Eu me sinto renascida.”

Abe Sada é uma ex-prostituta que fugiu de sua terra para esquecer o seu passado de luxúria e trabalhar na casa do senhor Kichizo. Desde o começo do filme, é possível perceber o apetite sexual que envolve o mundo de Sada. Quando ela sai na rua, encontra um velho que já havia sido seu cliente no passado. Ela não se recorda dele, mas ele se lembra dela e quer mais uma noite. Apesar de mostrar o membro dele explicitamente, não há uma beleza sexual. Pelo contrário, há uma repulsa do sexo. Tanto que ele não dá conta de iniciar o sexo com ela.

Toda manhã, Sada via Kichizo e a esposa transando e passa sentir uma atração por ele. Já o senhorio, percebe uma química entre ele e Sada e investe em paqueras (sempre consciente de que ela já havia sido uma prostituta) até que eles se transformam em amantes. A casa de Kichizo sempre foi vista como respeitável, mas percebe-se que era tudo fachada. O sexo é selvagem e a traição é sempre clara.

Um ponto interessante do filme é ver o papel das gueixas na casa dos senhorios. Elas não são prostitutas, como dizem os ocidentais. São artistas da mais alta estirpe e muito talentosas. São vistas com respeito e confiáveis para a família. Não se espera que haja uma relação sexual entre elas e seus clientes. Tanto que muitas passam a não freqüentar a casa de Kichizo, quando o affair dele com Sada se torna explícito. Inclusive, Sada é todo oposto daquela tradição oriental. Na verdade, ela é uma ocidental levada aos extremos, tudo que importa para ela é ter novas experiências. Conhecer tudo. Consumir o máximo que puder (de paixão e sexo).

“Quero sentir seu prazer.”

No momento em que os amantes transam pela primeira vez tudo começa a girar em torno do sexo. Vão para uma casa e ficam sozinhos o tempo todo. Deixam de comer e beber. Recusam-se a limpar ou deixar que alguém limpe o quarto impregnado com o cheiro de sexo. E a mais declarada nessa paixão é Sada, que não deixa Kichizo nem ir ao banheiro e começa a falar de dor e morte o tempo todo. É como se o extremo do prazer fosse a dor. E o extremo da dor era a morte. Inicia-se assim jogos sexuais que incluem voyeurismo, masturbação, ménage, orgia, sadomasoquismo e brincadeiras até com menstruação, bebidas e comida. Inclusive, houve uma cena com o ovo (que foi introduzido em Sada por Kichizo), que se tornou muito polêmica, por mostrar o sexo da mulher com clareza e a tratar como um animal (tanto que, para tirar o ovo, ela “choca” ele, como uma galinha). Para tornar as cenas mais intensas, o filme faz um uso muito grande da cor vermelha, representativa no sexo e a cor da bandeira japonesa. O nacionalismo passa a se misturar com o sexo selvagem. É como se isso não fosse somente aceito, mas como fizesse parte do país. Essa é a indicativa que essa paixão toda não acontecia somente com esse casal, mas sim num país em constante conflito cultural.

“Sou insaciável e amo sem restrições.”

Chega um momento que tudo passa a fugir do controle. Kichizo não pode mais chegar perto da esposa por causa do ciúme de Sada. A reputação dele (e da casa dele, inclusive) fica manchada. Para não deixá-lo sair de casa, ela tira o kimono do alcance dele. As ameaças de morte (no ciúme) se tornam mais freqüentes. Apesar da desculpa torpe que a medicina deu para o apetite sexual de Sada (ela seria “sensível” ao sexo, tornando-o mais prazeroso ainda), a selvageria chega à fronteira da loucura. Sada era capaz de ver um teor sexual até em crianças. Mas o principal é perceber a passividade de Kichizo. Ele realmente sentia prazer em se sentir dominado, sem saídas. E assim, iniciam o jogo mais perigoso e extremista deles: o prazer pela asfixiação. O tesão pela morte de Sada unida ao prazer de ser dominado por Kichizo formou um conjunto perigoso. E como não podia deixar de ser, terminou em tragédia. Para sentir o prazer máximo e não ficar com a dor depois, Kichizo pede para que Sada o estrangule até ele morrer. Ela, maravilhada por sentir o prazer máximo ao vê-lo morrer, fica tão satisfeita e enlouquecida que, depois de quatro dias, é vista nas ruas (e presa, posteriormente, por homicídio), feliz e segurando o pênis cortado fora de Kichizo. E saber que isso é história real torna tudo mais incrível e assustador. O casal conheceu, viveu e morreu na plenitude máxima que o prazer sexual poderia oferecer.

"Sorte no amor. O amor é cego. Homem cego é bobo. Bobo de amor. O amor é bobo."

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