quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O que terá acontecido a Baby Jane?

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

What ever happened to baby Jane?

Filme estadunidense de 1962 baseado no livro homônimo de Henry Farrell. Levou o Oscar de “melhor figurino” e foi perceptivelmente influenciado por filmes como Psicose e Crepúsculo dos Deuses ao usar o preto-e-branco opcional e retratar a decadência e isolamento de grandes estrelas do cinema. Apesar da falta de confiança no filme, o show de atuação das atrizes Joan Crawford e Bette Davis fez do filme um verdadeiro sucesso.

1917

Jane Hudson (Bette Davis) brilha nos palcos de teatro com seu pai, apesar da pouca idade. Mimada e grosseira, tem noção do sucesso que faz e do dinheiro que traz pra casa, o que a torna mimada e teimosa. Blanche Hudson (Joan Crawford) sua irmã igualmente criança, sofre com a falta de atenção dos pais e com as “mimadices” de sua irmã. E promete que se lembrará disso no futuro.

1935

Agora é o contrario. Blanche é a estrela do cinema, já havia se firmado como a rainha das telas e era um sucesso estrondoso. Jane entre em decadência por sua péssima atuação diante as câmeras e começa a beber sem parar. Ela era uma atriz de teatro infantil, isso não indicaria que seria uma boa atriz de cinema, mostrando também a importância dos filmes diante as peças de teatro. O teatro estava no passado, assim como Jane. O prelúdio do que estar por vir é quando a Blanche decide comprar a antiga mansão do Valentino. Ele era uma antiga e muito famosa estrela do cinema mudo, que não conseguiu se adaptar ao novo cinema que estava por vir. Mal sabia que ela entraria no mesmo esquema. Blanche também era conhecida por sua simpatia e bondade com a irmã que estava com a carreira em queda. Até o dia do acidente de carro que a deixou paraplégica e minou para sempre a carreira das duas (Jane havia fugido do local no momento e foi sumariamente culpada por tudo).

1963

As irmãs Hudson, já em idade avançadas, se encontram completamente solitárias, isoladas dentro da antiga mansão Valentino. Blanche, em sua cadeira de rodas, permanece sempre presa em seu quarto no segundo andar por sua condição. Jane, mais beberrona e visivelmente frustrada e rancorosa por ver que a carreira de sua irmã é repetidamente lembrada, se mostra cada vez mais enlouquecida pelo esquecimento e envelhecimento.

Ao saber que Blanche quer vender a casa (que Jane diz ter sido comprada com seu próprio dinheiro ganho na infância) e colocá-la num “lugar que cuidem bem dela” (literalmente um hospício), passa a enlouquecer de vez. Tira os telefones do alcance das mãos de Blanche, dá um pássaro morto e depois um rato para ela comer, joga as flores e cartas de fãs fora e passa a imitar a voz de Blanche nos telefones e também as assinaturas dela nos cheques. Apesar de Blanche ter piedade da irmã sempre, percebe que tudo está passando dos limites e decide agir logo, mas já era tarde demais. Todos seus meios de comunicação foram cortados, a condição física não ajudava e sua única pessoa que mantinha contato além da irmã era a empregada Elvira, que havia sido morta pela mesma. A Elvira é o foco da bondade de Blanche e do desprezo de Jane, iria morar junto com ela quando Jane fosse pro hospício. Era o símbolo da liberdade de Blanche. E, ao descobrir Blanche amordaçada e amarrada na cama por Jane, é morta com uma martelada na cabeça. É depois disso que vemos a total loucura de Jane, quando ela diz que foi obrigada a matar a Elvira e culpa até mesmo Blanche por isso. Ao perceber que a irmã deve morrer, Jane então decide arranjar dinheiro à sua própria maneira. E a idéia dela foi simples e, para ela, com certeza daria certo: voltaria a cantar a sua música de sucesso quando era a Baby Jane.

“Eu escrevi uma carta para o papai.”

Depois de colocar um anúncio no jornal e Edwin, um pianista desempregado, aparecer em sua casa para tocar a sua música, a loucura de Jane enfim se torna “pública”. O que antes somente sua irmã vira, agora uma pessoa de fora também poderia ver. Jane canta e dança como se ainda tivesse seis anos. Seu comportamento e felicidade são praxe de crianças de seis anos. Mas seu corpo e sua voz não. Esses ela não têm como enganar. Apesar de ter percebido no começo, seu estado de loucura atingiu um limite tal que nem de frente pro espelho ela percebia que o tempo havia passado e que, em Jane, não havia nenhum Baby. Mas nem tudo era culpa dela. Ninguém foi capaz de dizer na cara dela que ela não era mais lembrada e que havia envelhecido. Por motivos diferentes (educação, dinheiro, pena, etc.) todos permaneceram calados e Jane interpretou o silêncio erroneamente, como se fosse positivo para ela.

“Você não era feia. Eu a fiz assim.”

Tudo começou a cair por terra quando Edwin, que já sabia do passado das irmãs Hudson e que continuava a ir à mansão somente pelo dinheiro, descobre Blanche amordaçada e quase morta. Em vez de ajudá-la, sai correndo desesperado e posteriormente chama a polícia. Jane então leva as duas para a praia, lugar de tantas lembranças do passado dela com pai, quando treinavam juntos para ela ser a Baby Jane. Lá, Blanche entra naquele assunto que ela sempre quis evitar: o acidente de carro. Blanche admite, enfim, que não foi Jane que tentou atropelá-la, mas sim o contrário. Blanche tentou passar por cima de Jane. Estava com raiva por ter sido tão mal-tratada por tanto tempo. E assim se esvai o último fio de sanidade de Jane. Depois da notícia, a única coisa que ela resolver fazer é buscar um sorvete, regressando de uma vez por toda ao seu estado infantil. O sumiço das duas, tão noticiado nos jornais, fez com que a polícia fosse alertada e acabaram por a encontrarem na sorveteria. Quando os policiais a cercou e uma multidão se formou em volta, ela fez aquilo que ela achava que tinha nascido para fazer durante toda sua vida: cantar e dançar. Afinal, para ela, a multidão estava lá para ver isso. A loucura havia lhe dado o perdão. Ela nunca veria o quão fundo havia chegado. Pelo menos os policiais encontram sua irmã na areia e a salva. Ou não.

“Então poderíamos ter sido amigas o tempo todo?”

Nenhum comentário:

Postar um comentário