domingo, 17 de outubro de 2010

Nine

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Filme estadunidense lançado em 2009 e baseado na peça homônima da Broadway (ganhadora de vários Tony). Essa peça foi baseada no famoso filme "Oito e Meio" de Federico Fellini. O título desse filme (8 e 1/2) estaria ligado ao número de filmes dirigidos por Fellini. Então, fica óbvio de onde vem o título do filme, dessa vez dirigido por Rob Marshall, Nine (9). Apesar de 10 indicações ao todo no Oscar, Globo de Ouro e BAFTA, não levou nenhum dos prêmios. O filme chama atenção pela mistura da fala americana, italiana e francesa nas canções e pela quantidade de protagonistas conhecidos mundialmente (são seis ganhadores de Oscar, uma vencedora do Globo de Ouro e uma ganhadora do Grammy). Temos, como ator principal, Daniel Day-Levis e também as magníficas Sofia Loren, Nicole Kidman, Fergie, Judi Dench, Kate Hudson, Marion Cottilard e Penélope Cruz.

"Você mata o seu filme várias vezes. Sobretudo ao falar dele."

É bom, antes de falar sobre o filme, que o objetivo não é imitar o Fellini 8 1/2, mas sim o espetáculo teatral que veio posteriormente. A metalinguagem do filme acontece no cineasta sem a menor inspiração para criar um filme enquanto suas próprias lembranças acabam por formar um filme. Todas essas lembranças o impediam, de certa forma, de criar um filme chamado “Itália”, até entender que a Itália dele era exatamente essas lembranças. E quem melhor para formar essas lembranças do que as mulheres de sua vida?

“Me pergunto, do que vale algo bom senão em excesso?”

Aclamado como um dos principais cineastas da Itália, Guido Contini (Daniel Day-Levis) entra numa crise onde não entende seus desejos. Conseguiu tudo que queria, mas queria mais. Ele queria tudo. Apesar de já o ter. Sem conseguir admitir seu “fracasso” em criar um filme, ele foge para o Spa Bellavista Hotel para se isolar de tudo e de todos. A tentativa foi frustrada, pois seu produtor o encontrou e levou toda sua equipe para o Spa. Talvez sua frustração se encontre na velhice. Ter a noção que um dia poderá morrer pode assustar a qualquer um.

“Quem tem medo de beijar seus pés? Eu não!”

A belíssima Carla (Penélope Cruz) é a amante que Guido carrega desde muito tempo. Ela é loucamente apaixonada por ele e pelo sexo que tem com ele. E é com ela que Guido realiza muitas de suas fantasias sexuais. Apesar de chamá-la pra ficar no Spa, ele a coloca numa pensão velha e barata. É como se ele não a quisesse perto, mas não conseguisse ficar sem ela. Ela percebe esse distanciamento e se sente rejeitada. Num determinado momento, ela tenta (e fracassa) o suicídio. Assim, Guido entende o mal que fazia para ela, e a entrega de volta para o marido dela, Luigi. É como se ele encerrasse mais um capítulo de sua vida.

“Le cinema hoje está em crise. Os diretores são tão existencialistas.”

Lilli (Judi Dench) é a figurinista de Guido. Parisiense, foi dançarina na época dos exuberantes Folies Bergerés. Adora a música, a dança, a cor e os exageros. Foi ela quem moldou o Guido cineasta. Moldou tanto que ela passa a conhecê-lo mais do que ele mesmo, muitas vezes prevendo suas ações e erros. É a ela que ele deve todo seu conhecimento e paixão pelo cinema (e pelas mulheres). Independente do que aconteça, ela sempre estará ao lado dele. E ele sempre voltará pros braços dela. E é ela que tenta salvar seu filme e o casamento. Infelizmente isso não dependia somente dela.

“Sua imaginação não teve uma educação moral.”

Perdido, Guido inicia uma busca espiritual ao saber que o cardeal do Vaticano se encontrava no Spa. Há uma eterna contradição na Igreja Católica, muito bem definida no filme ao mostrar a adoração pessoal pelos filmes de Guido enquanto publicamente condena-os. Apesar de não ser católico nas ações, acredita no Deus cristão. Ao ouvir as repostas a seus conselhos, percebe que não era isso que estava procurando. E acaba lembrando-se das mais velhas recordações. Dos tempos de infância, enquanto estudava em um internato religioso.

“Seja italiano. Seja cantor. Seja conquistador.”

A primeira experiência de Guido aconteceu enquanto ele estava nesse internato. Ele e seus colegas juntaram dinheiro suficiente para pagar Saraghina (Fergie), uma prostituta grosseirona, rústica e pobretona que mora num Bunker abandonado após a II Guerra Mundial. Ela lhe apresentou o mundo das mulheres e os prazeres da carne, mesmo que só visualmente. Depois dela cairiam muitas amantes belas e passageiras nas mãos de Guido. Mesmo ele sendo castigado pelos padres que encontraram os meninos no meio da dança erótica de Saraghina.

“Você quer minha alma? Bom proveito.”

Luiza Contini (Marion Cottilard) é a personificação da perfeita esposa católica. Deixou de atuar (famosa na época) para se casar com ele, sendo completamente devota. É o símbolo do sacrifício pelo casamento. Sacrifício esse que não se mostra valido. Sentindo-se rejeitada e sabendo de suas traições (principalmente com Carla), derrubou o casamento ao perceber que Guido já tinha outra esposa: os filmes. O trabalho era muito mais importante que a esposa. As mulheres estão apenas na beirada dos filmes. Tudo é feito em prol dos desejos que ele possui. E ela não aguenta mais essa situação. Depois de se separar dele (mesmo com ele não querendo o término do casamento, pois a ama de verdade), ela volta a atuar e fazer sucesso. Também arranja um novo relacionamento, e se torna uma pessoa feliz.

“A vida é real como no cinema italiano.”

O que melhor do que uma jovem e sexy jornalista americana morrendo de amores por seu ídolo? Guido não podia deixar Stephanie (Kate Hudson) passar pela sua vida sem se deitar com ela. A paixão que ela tinha pelo seu trabalho era um elogio que ele precisava. E um afrodisíaco também. Mas no último instante ele percebeu que iria ser mais um caso conturbado em sua vida. E que ele já havia encerrado esse momento da sua vida (após terminar com Carla). Ele não podia se enrolar nisso novamente.

“Você acha que muitas te amarão como eu?”

O fantasma da mãe de Guido (Sofia Loren) o perseguia. O saudosismo que tem pela mãe está ligado diretamente à proteção que ela lhe dava. Ela guiava seus passos. Mesmo depois de morta.

Assim, Guido volta à Roma. E volta para os estúdios. Lá encontra a última inesquecível mulher de sua vida.

“Ela é a inspiração dele.”

Cláudia Jenssen (Nicole Kidman) é a musa e a protagonista dos filmes de Guido. Ela é a representação da mulher por detrás de todos os homens e é apaixonada por Guido. Mas ela se mostrou a mais realista de todas. Sabia que ele não era capaz de amá-la. Que ele amava a mulher que estava atrás das lentes das câmeras, não a mulher da vida real. E que ela não poderia fazer nada para mudar isso. E por isso, ela desiste dele. Ela quer a vida real, não a vida das telas de cinema.

“Se deixar de ser criança não fará mais filmes.”

Então ele se vê completamente abandonado por todas suas mulheres e desiste de fazer o filme Itália, tirando um tempo para recuperar. Após de provar o anonimato (e curti-lo), finalmente ele entende qual o filme da vida dele. O filme é as mulheres da vida dele. Sem elas, ele não seria nada. E sem ele, elas não seriam um filme. Elas não seriam história. Ele começa a entender a sua vida. E a recomeçá-la. Então o tema de sua vida (e do filme) é exatamente aquilo que ele nunca conseguiu lidar: as mulheres.

“Ação!”



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