sábado, 15 de maio de 2010

Taxi Driver

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

É um filme norte-americano feito em 1976. Até hoje ele é aclamado como um dos maiores filmes americanos já feitos. Levou o Palma de Ouro no Festival de Cannes e “melhor ator” no New York Films Critics Circle Awards. No BAFTA, levou o “melhor atriz coadjuvante”, “melhor revelação” e “melhor trilha sonora”. Esse filme lançou ao estrelato dois atores que até hoje são da alta estirpe de Hollywood: Robert de Niro e Jodie Foster.

“Parte verdade e parte ficção. Uma eterna contradição.”

Travis é um jovem veterano da Guerra do Vietnã. Como muito dos jovens que voltam da guerra, não suporta a calmaria da nossa vida. Em meio ao tédio, insônia, alienação e frustração, ele resolve se tornar um taxista de duplo expediente, sendo o da madrugada mais interessante e importante. Ele possui uma personalidade inconstante e contraditória, levando muitas vezes à ingenuidade e agressividade.

“Um dia, virá a chuva para levar toda essa escória.”

Nesse expediente noturno, Travis conhece o submundo de Nova York. Dentro de um realismo gritante, as coisas mais absurdas são mostradas como comuns e diárias. Mesmo que faça comentários preconceituosos e grosseiros, no final ele realmente não liga para nada. Trata como se fosse algo normal do dia-a-dia (até por ser algo comum naquela época). Outra coisa que mostra a personalidade perturbada de Travis é a falta de hobby (nem mesmo sexo o interessa) e o fato de nem ligar para o dinheiro (que seria apenas uma conseqüência da quantidade de trabalho que ele possui).

“Ela surgiu como algo puro em meio a tanta sujeira.”

Travis, ao ver pela primeira vez Betsy, começa a ficar obcecado por ela. Ela trabalhava na campanha de Palantine, um candidato a presidente. Ele a encontra e pede para sair com ela. No final, ela aceita e ele sente tanto orgulho disso que, ao perceber que por coincidência Palantine entrou em seu taxi, começa a gostar dele. É como se ele fizesse parte da pureza que a Betsy havia trazido em meio a sujeira do mundo. No primeiro encontro, ela sente admiração por ele e aprecia a personalidade conturbada que ele tinha. Mas ao levá-la ao cinema pornô, a ingenuidade dele não foi suportável, fazendo com que ela o rejeitasse. Mesmo correndo atrás dela, ela não o queria. E nada a faria mudar de idéia. É nesse momento que começa a se registrar os primeiros traços de violência em Travis, quando até mesmo por Palantine, o ódio aumenta. É como se ela não trouxesse mais aquela pureza, fazendo com que Palantine voltasse a fazer parte da sujeira.

“Tchau, matador.”

Entre os colegas taxistas, Travis ganhou o apelido de Matador. Parece quase uma vidência em relação ao futuro de Travis e é a partir desse apelido que a personalidade dele começa a se modificar diante seus próprios olhos. Ele compra uma coleção de armas e se anima tanto com elas que cria dispositivos caseiros (mas tecnológico e criativo) para carregá-las e começa a malhar diariamente. Então, quando ele compra as armas, ele retoma a sua auto-estima, como se isso o lembrasse dos tempos de guerra. E como se os tempos de guerra fossem os bons tempos para ele. E mostra também o perfil sociopata que ele tem ao mostrar o apartamento como um verdadeiro caos, a distância que ele mantém dos parentes próximos e o pouco contato que ele tem com outros seres humanos. O único momento em que ele demonstra alguma emoção é ao ver em uma novela da TV um homem sendo rejeitado pela mulher que ama. Ele destrói a TV. Procura não lidar com sentimentos e aproveitar a experiência que tem com armas e a facilidade que tem para matar (coisa que ele comprovará até o final do filme).

“A solidão me seguiu a vida toda, em todo lugar.”

Em meio à escória de Nova York, ele encontra outra jóia rara. Uma prostituta de doze anos que entra no taxi dele para tentar fugir de seu cafetão chamado Sport. No momento, ele não reage, mas consegue reencontrá-la e ficar obcecado em salvá-la (mesmo ela não querendo). Ela se mostra como uma menina jovem, alegre, esperançosa e até mesmo madura, apesar de ingênua. Travis se mostra um cara moralista (“meninas tem que estudar e ficar na casa dos pais”) e percebe que por ela, vale a pena morrer para salvar. Literalmente.

“Manchete: Motorista de Taxi combate marginais.”

Na impossibilidade de enxergar um futuro para ele, ele esquematiza um plano. No final, o plano dá errado, mas nem todos os males vêm para piorar. Primeiro, ele corta seu cabelo em moicano, como muitos soldados da guerra faziam, mostrando certa selvageria. Depois ele tenta matar Palantine com uma de suas armas. Por ter sido lento ao tentar tirar a arma, não consegue. No final, ele mata Sport, o porteiro do hotel de prostitutas e o cliente que estava sendo atendido por Iris e tenta se matar, mas que por escolha do destino, não consegue por a arma estar descarregada (havia atirado demais). Ferido violentamente (um tiro no braço e outro no pescoço que passaram despercebidos durante o tiroteio), ele desmaia. A ironia do filme se encontra no epílogo. Ele continua sendo um motorista de taxi, parece curado de suas antigas obsessões (não liga para a Iris ao saber que ela voltara para os pais e não se importa com Betsy, mesmo reencontrando-a e sabendo que ela o admira). Tornou-se um herói para a imprensa sensacionalista (sendo que ele poderia facilmente ter se tornado num assassino conhecido por matar o candidato a presidência). Mas o olhar dele mostra que ele não curou da sua personalidade doentia. E que ele passaria por tudo aquilo novamente. E que não seria um herói novamente.

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