domingo, 9 de maio de 2010

Leões e Cordeiros

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Lions for Lambs
Filme feito em 2007 pela United Artists. Entre os criadores dessa empresa estão o Charles Chaplin e Griffith, importantes pioneiros do cinema americano. Ao ser comprada nos anos 80 pela MGM, ela foi praticamente esquecida. Quando Tom Cruise tomou a cadeira de chefe da U.A. acabou por realizar esse filme, no qual Robert Redford dirigiu e atuou como um dos personagens principais.

“Roma está queimando, filho.”

O filme é um verdadeiro debate sobre a atualidade e seus problemas. Está, principalmente, no âmbito político, mas mostra também a posição da imprensa e a visão dos jovens perante todos os acontecimentos. Apesar de mostrar um mundo norte-americano, esse filme facilmente pode ser usado para mostrar a realidade de muitos países do ocidente (e quem sabe, do oriente também). Esse debate se encontra em duas frentes diferentes que se unem por outro acontecimento. Uma das frentes é entre o senador que está lançando uma nova estratégia de guerra contra o Afeganistão e uma jornalista experiente, cínica, descrente e muito frustrada. A outra parte de um professor idealista numa conversa com um aluno desiludido. Essas frentes se encontram na ação de dois jovens que foram alunos do professor (e, logicamente, colegas do aluno) que se encontraram em uma armadilha da estratégia do senador (ao usá-los como isca para a destruição e mais afegãos).

“Matar pessoas para ajudar pessoas.”

Os EUA tratam os afegãos como inimigos que precisam ser destruídos. Ao mesmo tempo, diz que a guerra é para trazer a democracia para o país deles, pensando sempre em seus bem-estares. É nessa contradição que se baseia o debate entre o senador e a jornalista. A incapacidade de ver a diplomacia como forma de resolução para o grande conflito não é nem sequer avaliada. Apesar de o senador realmente sentir a morte de muitos jovens, homens e mulheres. Diz que tudo é necessário.

“Seis anos para dar o primeiro passo? A II Guerra Mundial durou menos de cinco.”

O olhar da jornalista sobre o político é sempre incrédulo. A frustração que ela sente por ter apoiado anteriormente o senador e a Guerra do Iraque tomam conta de seu espírito e a consciência pesa. Sua experiência permite que ela olhe a frente do que o senador diz. Percebe que apesar de todo o plano de ataque, não há um plano de manutenção do país para quando o ataque terminar; que muitos jovens serão usados como iscas para que os afegãos saiam de suas tocas e sejam exterminados; que toda a entrevista não passa de uma propaganda de guerra que pode ser usado posteriormente para a projeção do senador na Casa Branca. Outra coisa que ela percebe é a falta de foco ao perceber que o Irã e Coréia do Norte se transformam também em inimigos quando o senador tenta comprovar a existência do eixo do mal.

“Lembra-se de como o terror fez vermos o mundo de uma forma totalmente diferente?”

Enquanto o senador constantemente dá idéias para o futuro, a jornalista se prende ao passado, com o que ela aprendeu. A quantidade de erros do passado seria tão grande que a idéia de criar um futuro usando as mesmas bases parece absurda. Isso sendo ou não verdade, para o senador, não importa. Para haver um futuro, essa seria a única estratégia válida.

“Vocês já promoveram a guerra, agora quero que promovam as soluções.”

Ao mesmo tempo em que a jornalista ataca, ela se encontra encurralada. Ela e a empresa pela qual trabalha (AXN) já apoiaram a guerra e se encontra atualmente muito desmoralizada. Ao ser comprada por uma empresa de sabão, deixaram de fazer propagandas realmente importante para venderem uma série de anúncios e fofocas. Tudo por audiência. Tanto que após a entrevista, acontece uma discussão entre ela e o editor dela, na qual ela se encontra novamente encurralada. Se ela lançasse a versão dela (a de que tudo seria mera propaganda), ela provavelmente perderia seu emprego e não conseguiria outro (mas ela tem 57 anos e uma mãe para sustentar). Então ela deixa na mão do editor que, claro, lança a versão do político na TV. No final das contas, a imprensa age como um Quarto Poder e tem esse papel de grande importância na sociedade moderna. O único problema é que ela pode estar tão “bichada” quanto os outros Poderes.

“Se isso é maior que um cidadão honesto em um emprego honesto, esqueça.”

O professor descobre o potencial de um aluno, jovem de elite, ser um agente transformador da geração atual. O debate acontece na falta de interesse e ação desse aluno para com o país e seu próprio estudo. Nesse confronto, vários pontos são abordados, vindo sempre de um professor idealista e de um aluno desiludido. O aluno sempre focaliza num passado distante ideal e na certeza de que o sistema é podre e que nada pode ser feito para mudar isso. Por isso prefere aproveitar a vida boa que lhe foi oferecida e viver tranquilamente, seguindo as leis, mas sem confrontar os problemas. O professor mostra a possibilidade de ele ser o diferencial de sua geração e usa argumentos para mostrar que a vida dele nunca será tão boa quanto ele quer se não lutar por um mundo melhor. Se indignar não é o suficiente. Deve haver uma ação para que, na pior das hipóteses, se aprenda com ela e passe seu aprendizado adiante.

“Bem, quem não sabe fazer ensina.”

Ao confrontar as escolhas do aluno, ele mesmo é confrontado. Quando mostra que ele é apenas um professor, ele se lança em mais uma base idealista. Não é apenas um professor, mas um descobridor de jovens potenciais. Para ele, a nota dos alunos não importa e o que importa é como eles pensam e como são os debates que são criados e quem participa deles.

“Nunca vi tantos leões sendo comandados por cordeiros.”

Na conversa entre eles, surge o assunto de que o professor teria apoiado a idéia de seus dois outros alunos terem se alistado na guerra. Esse professor seria o culpado por encher a cabeça desses garotos de idealismos e destruir um futuro que eles poderiam ter. No meio da conversa, percebe-se que não foi isso que aconteceu, mas o contrário. Que o professor, ao conversar com esses alunos, pedira para que eles tentassem modificar a política internamente. Ele sabia que os primeiros que se alistam a uma guerra são aqueles que o país não tratou bem. Mas percebeu que, também, não era ele que era responsável pelas idéias dos garotos. Eles, por serem pobres e sofrerem preconceitos raciais (um é negro e outro é mexicano) criaram ao longo da vida suas idéias. As suas vontades de participarem do que estava acontecendo em seu mundo atualmente se tornou grande demais. E para unir o útil ao agradável, quando voltassem da guerra não teriam dividas (se ficassem, teriam dividas grandiosas para pagar a faculdade, coisa que o governo paga ao veterano) e seriam muito mais respeitados. Sendo assim, poderiam participar fisicamente de um confronto e modificar a política interna quando voltassem. O único erro deles foi não considerar o risco de morrer. E morreram.

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