sexta-feira, 21 de maio de 2010

A Malvada

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

All about Eve

Filme estadunidense de 1950, é até hoje um dos que tiveram mais indicações de Oscar (empatando com Titanic), concorrendo a 14 estatuetas. Dessas 14, levou o “melhor filme”, “melhor diretor”, “melhor ator coadjuvante”, “melhor roteiro adaptado”, “melhor figurino” e “melhor som”. No Globo de Ouro, levou o “melhor roteiro”. Já no Festival de Cannes, levou o prêmio de “melhor atriz” e o Prêmio Especial do Júri para o diretor do filme, Joseph L. Mankiewick. Foi selecionado para preservação pela Biblioteca do Congresso dos EUA.

“Mais tarde, falaremos sobre Eve. Tudo sobre Eve, aliás.”

O título original do filme é “All about Eve” (“Tudo sobre Eve”), que encaixava perfeitamente com a proposta do filme, diferente da tradução brasileira (“A malvada”) que mostrava Bette Davis na capa, passando a idéia de que ela seria a pessoa malvada. O filme conta também com um elenco de fortes estrelas de Hollywood (como Bette Davis e Anne Baxter, ambas ganhadoras de Oscar em outros filmes) e um diálogo pra lá de inteligente.

“Ela tinha um único desejo, anseio, sonho: pertencer a nós.”

O filme começa com a premiação dos melhores personagens do teatro. É perceptível a importância dada à atriz no filme, no qual o prêmio que a ela é dado é mais importante do que o do diretor e do roteirista. E, também, o filme todo mostra o teatro como uma arte mais relevante que o cinema, encarando Hollywood como um centro de pessoas exageradas e falsas.

“Só faltava cães sanguinários mordendo o traseiro dela.”

Eve é apresentada à elite do teatro como uma pobre menina que sofreu no passado (ela teria perdido o marido na guerra e vagueado sozinha pelo país). O único desejo dela era assistir às peças apresentadas por Margot, uma estrela do teatro conhecida desde sua infância. Conquista também Lloyd e Karen, respectivamente roteirista e sua mulher. A única a desconfiar um pouco de sua história é a empregada de Margot, que, por ironia, também era atriz e teria atuado, por 10 anos, como comediante no teatro. O filme deixar no ar, também, se Eve realmente admirava Margot e o teatro ou se era só um plano bem traçado para alcançar a fama e a riqueza. Pode até serem os dois, naquela idéia de “unir o útil ao agradável”. O que mais chama atenção em Eve é a capacidade que ela tinha de passar compaixão e ódio para o espectador quase que ao mesmo tempo.

“Todas as religiões do mundo em um único lugar. Somos Deuses e Deusas.”

O filme inteiro se baseia nos bastidores do teatro, deixando o assunto atual até os dias de hoje. A influência que o teatro passava, naquela época, era gigantesca. As pessoas comuns queriam ser como os personagens do teatro e Margot aproveitava isso. Ela tinha um temperamento instável e costumava a tratar os outros como se fossem inferiores a ela. Paradoxalmente, era forte, mas insegura e carente de amor.

“Apertem os cintos! Essa será uma noite turbulenta.”

Eve passa a trabalhar como empregada de Margot e se mostra completamente eficiente. Eficiência essa que começou a assustar Margot, pois parecia que Eve a estudava, usando suas roupas e mantendo contato constante com seus amigos e até o seu próprio namorado (Bill, que era diretor de teatro e cinema). Ao compartilhar essa imagem com os outros, todos a vêem como paranóica, por ser tão preocupada com o fato de Eve ser bem mais jovem. Afinal, o que um carneirinho podia fazer contra um lobo? Como todos estavam acostumados às explosões que Margot causava, não deram ouvidos e se sentiram ofendidos. Chega a um momento que Margot passa segurar os casacos para que os convidados possam conversar com Eve. Faço um destaque também à Marilyn Monroe, que fez uma ponta como Srta. Caswell mas que foi marcante no filme com sua sensualidade e voz sexy.

“Quando uma atriz decide que as palavras que diz ou os pensamentos que exprimem são seus?”

Margot confronta seus amigos (diretores, escritores, produtores e roteiristas) e eles a rebatem, desvalorizando-a. Por fim, Karen traça um plano de vingança com Eve para prender Margot no transito e fazer com que ela perca a peça. Eve que teria conseguido o papel de substituta de Margot através dos amigos da própria Margot (manipulando-os), chamaria toda a mídia para mostrar a nova estrela do teatro. Dito e feito, Margot perde a peça, mas Karen se arrepende. Eve aproveita essa chance para tentar conquistar Bill, ato este que deu absolutamente errado, e se lançar no mundo do teatro sozinha.

“Neste meio, todos são culpados até que se prove o contrário.”

Eve se junta com Addison DeWitt, um crítico de teatro muito influente na mídia. Na coluna dele, ela critica Margot enquanto Addison chama atenção para o nascimento de uma nova estrela. Esse crítico, apesar de ser visto o tempo todo como uma pessoa de mau caráter, é também a consciência moral do filme. Para ele, importa quem é realmente talentoso no mundo do teatro. E não faz uso de mentiras ou falsidades para chegar aonde quer. Além da coluna, Eve chantageiam Karen para conseguir ser atriz principal no lugar de Margot na peça de Lloyd. Nisso, ela também tenta conquistar Lloyd e traça um plano para casar com ele, formando uma dupla imbatível (melhor atriz junta com o melhor roteirista). É perceptível os traços de loucura que vão surgindo na voz e nos atos que Eve produz.

“Nada é para sempre no teatro.”

Margot, que tinha tudo para ser feliz, não o era. Sua insegurança e envelhecimento não permitiam isso. Ela sabia que no dia que deixasse de ser a estrela que sempre foi, todos a abandonariam. Esse medo acabou quando Bill a pede em casamento, dando a ela a chance de ter uma vida estável, como sempre quis. Addison, sabendo que Eve era extremamente manipulativa, a coloca na linha, jogando todas suas cartas na mesa. Ele sabia quais as origens de Eve e também tinha capacidade de jogá-la no anonimato (já que ele que a levou ao estrelato). Com isso, ele não permite que ela se case com Lloyd e a faz ter a melhor atuação de todos os tempos. E realmente, a atuação foi tão boa, que a fez ganhar o tal prêmio (voltando ao começo do filme). A cena final é exatamente o fechamento do ciclo, no qual Eve se torna a grande estrela sem escrúpulos (na qual é capaz de se vender até para o cinema – mal visto no filme) e recebe uma surpresa em casa, uma menina que é muito fã dela e que quer passar o tempo todo com ela. Todos já sabem qual vai ser a continuação dessa história, certo?

"Ora, na falta de outra coia, ainda temos os aplausos."

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