sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sétimo Selo

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Det sjunde inseglet

Filme sueco de 1956, é uma das obras primas do cinema. Dirigido por Ingmar Bergman, tem como plano de fundo a Idade Média no auge da Peste Negra. Feito quando a população mundial ainda estava profundamente traumatizada pela Segunda Guerra Mundial e pelo uso da bomba atômica, o filme mostra bem o medo e a espera do fim do mundo. Ganhou o “Prêmio do Júri” no Festival de Cannes, “melhor ator estrangeiro” no Fotograma de Plata e “melhor diretor” e “melhor filme estrangeiro” no Sindicato Nazionali Giornalisti Cinematografice Italiani.

“Quero perguntar ao Diabo sobre Deus. Ele deve conhecê-lo melhor do que qualquer um.”

O filme é um relato sobre a dúvida e a condição humana, fazendo dos problemas existenciais do passado, uma verdadeira cópia dos problemas atuais. A frieza das relações humanas e espirituais no filme é marcante. Deus e o diabo não se manifestam em nenhum momento, deixando as duvidas do cavaleiro (e de todos nós) sem respostas.

“É tão inconcebível tentar entender Deus?”

Ao voltar das Cruzadas, o cavaleiro e encontra sua terra natal devastada pela Peste e logo encontra a morte. Ao invés de simplesmente aceitar morrer, a chama para uma disputa de xadrez (mesmo sabendo que perderia) e ela aceita (mesmo sabendo que jamais iria perder), e é nisso que consiste a essência do filme: busca do significado da vida enquanto é rodeado pela morte. Todos os aspectos que envolvem a religião é visto com grande cinismo (Como as Cruzadas, que são consideradas inúteis e a visão da peste como castigo de Deus). Apesar de toda essa crueza, o filme foi capaz de unir o misticismo à realidade ao falar das pinturas que mostram a morte jogando xadrez e retratando a sua dança (que realmente acontece no final do filme).

“Eu vi a virgem Maria.”

No final, o único personagem que sobrevive é o artista ligado ao mundo espiritual e sua família. Ele tinha capacidade de ver seres místicos, como a virgem Maria e a própria morte. Ele e a família mostram o que há de melhor no mundo: bonitos, jovens, alegres, viris, simples, humildes e, acima de tudo, sabem amar com profundidade e honestidade. Salvar a vida deles era o que o cavaleiro precisava para achar que sua vida foi, de alguma forma, útil. É engraçado perceber que depois que todos morrem, no final o artista vê uma luz no horizonte que nos faz lembrar da esperança de um futuro melhor. É como se todos os personagens sujos da vida tivessem saído, dando espaço para um mundo melhor.

“Dizem que uma mulher pariu a cabeça de um bezerro.”

Durante todo o filme, a humanidade é retratada como desesperada e moribunda. Não havia esperança e todos eram atingidos por uma histeria coletiva. As pessoas estavam morrendo e todos estavam se corrompendo. O padre que rouba os mortos, a procissão dos flagelados, as pessoas do bar que se divertem torturando um artista, entre outros, mostram como o mundo já estava se transformando num verdadeiro caos. Os personagens em si são uma verdadeira amostra disso: o ferreiro ciumento e infantil, a esposa infiel e desleal, o artista que só pensa em dinheiro e mulheres e o escudeiro que age como um verdadeiro anti-herói (salva a todos, mas por motivos chulos e em troca de algo que lhe agrade).

“Estamos impotentes, pois vemos o que ela vê, e tememos o mesmo.”

A desilusão do cavaleiro cresce e se transforma em conformismo ao ver os olhos de uma menina, condenada à fogueira por se relacionar com o Diabo, quando ela descobre que na verdade, ela não via o Diabo, mas sim o medo. Com isso ele percebe que não adianta encontrar uma resposta racional para o mundo espiritual. Enquanto isso, o escudeiro alterna entre o mundo filosófico (as indagações do cavaleiro) e o real (bares, mulheres e brigas), nos fazendo lembrar (não por acaso) de Dom Quixote.

“Inútil, reze para que eu não peide e mande idiotas como você para o inferno, onde poderá sentar e declamar monólogos até que o Diabo fique louco.”

Apesar de toda a profundidade do filme, ele possui uma comédia marcante e bastante risível. Os confrontos verbais chegam a ser engraçados, mas nunca deixam de ter algum sentido filosófico. Contudo, a canção alegre sempre perde para a marcha fúnebre. E as brincadeiras sempre nos lembram que, no fundo, há uma realidade cruel nela.

“O amor é a pior de todas as pestes, mas morrer de amor seria um grande prazer.”

Dito e feito. Todos morreram em volta do amor. O ferreiro e sua esposa se conciliaram no final, o escudeiro encontrou a sua parceira, que ficou contigo até a hora da morte e a esposa do cavaleiro não o abandonou, mesmo ele tendo sumido por 10 anos e a peste a ameaçar. Todos morrem, mas todos souberam aproveitar a vida ao seu modo e fazer uso daquilo que mais nos torna humanos: o amor.

“Deus, que deve estar em algum lugar, tenha piedade de nós.”

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