segunda-feira, 12 de abril de 2010

Hamlet


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.


Filme estadunidense de 1990, baseado no livro homônimo de Shakespeare, foi o primeiro da empresa Icon Productions, fundada por Mel Gibson, que atuou no papel do príncipe dinamarquês Hamlet. Franco Zeffirelli é o diretor do filme e ele já foi responsável por outro filme Shakespeariano de renome: Romeu e Julieta. Apesar de a história ter seu reconhecimento mundial na literatura e ter mais de 70 adaptações da mesma, esse foi o filme que melhor a retratou cinematograficamente. Muitos críticos dizem que o filme transformou um jovem cheio de dúvidas existenciais em um enlouquecido pela sede de vingança. Em minha humilde opinião, acredito que o personagem seja os dois, e foi retratado de maneira bastante fiel à história original.

“Ser ou não ser... eis a questão. Quer será mais nobre para a alma? Sofrer pedras e setas com que a fortuna, enfurecida, nos alveja... ou insurgir-nos contra um mar de desventuras e pôr-lhes fim. Morrer... dormir. Não mais. Imaginar que um sono põe remate aos sofrimentos do coração e aos golpes infinitos que constituem a natural herança da carne e a solução para almejar-se. Morre... dormir. Talvez sonhar.”

O filme, que é uma comédia e uma tragédia e não é um ensaio à melancolia e insanidade mostra Hamlet, um príncipe que, ao entrar em contato com o fantasma de seu pai, morto em pouco tempo, entra em uma dúvida constante sobre se deve ou não vingar o mesmo e aceitar as consequências disso, já que o assassino seria seu tio, novo rei e marido de sua mãe.

“O mundo está fora dos eixos. Ó maldita sorte!”

Numa trama onde os principais não sairão vivos, Shakespeare consegue retratar um reino com problemas e dilemas que perduram até hoje na vida das pessoas. A religião é posta em xeque no momento em que Hamlet fica entre vingar seu pai ou deixar tudo nas mãos de Deus. E quando Hamlet escolhe o caminho mais sangrento, tudo começa a desabar.

“Ninfa, em suas orações, recorda-te de meus pecados.”

Antes de todo o drama começar, Hamlet havia prometido se casar com Ofélia (apesar dos protestos do pai dela, Polônio). Ela é a representação perfeita de uma boa moça da época. Calma, meiga, bela, amada e devotada ao pai. Polônio sempre fez questão de lembrá-la que Hamlet a fará sofrer. E ele estava certo. No meio de toda a trama, Polônio crê que Hamlet fica louco de amor e pede para ela ajudá-lo a provar essa loucura ao rei. Hamlet, descobrindo toda a jogada, se faz de louco e, para castigá-la, a atormenta. Em meio a diálogos que mal dizia de homens e a mandava se internar num convento, ela afunda na tristeza. Em um ato de loucura, Hamlet mata Polônio achando que era o rei. Para Ofélia, isso foi a gota d’água. Enlouqueceu, perdendo toda a sua graça e, num acidente infeliz, morre afogada.

“Ninguém se casa com o segundo sem matar o primeiro.”

Apesar de o fantasma de seu pai ter pedido para que Hamlet não julgasse sua mãe, ele a insulta extremamente, deixando a destruída por dentro. Apesar disso, o amor de mãe foi maior e ela se manteve fiel a ele. Ela realmente acredita que ele está louco, mas ama o, mesmo sem abandonar o novo rei, que o odeia pelos ataques que têm sofrido de Hamlet.

“Seria, agora, capaz de beber o sangue quente e fazer tais horrores que o dia ficaria trêmulo, olhando-os.”

Hamlet, com sua inteligência afiada, prepara uma peça que retrata a morte do rei da mesma forma que seu tio matou seu pai. Nessa cena, a alma de seu tio manifestaria seu crime e ficaria assim provado que ele é o culpado. O plano dá certo e realmente comprova a culpa do rei, mas somente para Hamlet, pois os outros acharam que o rei estaria apenas indisposto. Sabendo que Hamlet sabia de tudo e que era adorado pela multidão, aproveita para mandá-lo ao exílio na Inglaterra (por ter matado Polônio), cria uma conspiração para matá-lo lá (a qual Hamlet já sabia e modificou toda a situação) e mata os amigos mais próximos dele.

“Olhos sem tato e tato sem vista.”

Há uma verdadeira sátira á morte no momento em que Hamlet pega, deslumbrado, o crânio do bobo do rei, que havia morrido a tempos e fora amigo de Hamlet na infância. A falta de pudor que o príncipe tem ao pegar, observar e declamar sobre o crânio dele, mostra que realmente havia um fio de loucura embaixo de todo aquele poço de conhecimento e educação real que recebeu.

“É possível que o juízo de uma donzela seja tão mortal quanto à vida de um velho?”

Laertes, irmão de Ofélia e filho de Polônio, chama Hamlet a um duelo de floretes, na qual seria encenada uma luta (ou seja, ninguém morreria). O rei, ao perceber que terá uma chance, aproveita a sede de vingança de Laertes para conspirar contra Hamlet. Os dois, então, envenenam o cálice de vinho de Hamlet e a ponta da espada de Laertes.

“Recorda-vos, amor. Os amores perfeitos são para o pensamento.”

No último momento, a trama se encerra... e ninguém sai com vida. A mãe de Hamlet, para saudar a vitória do filho, toma a bebida envenenada. Laertes, num ataque covarde, arranha o braço de Hamlet com a espada embebida de veneno. O príncipe, furioso pela covardia, toma-lhe a espada e o fura com o mesmo veneno. A rainha e Laertes ao morrerem, declaram a culpa do rei. Hamlet, mais furioso ainda, mata o rei e, em poucos instantes, morre. Nesse cenário de morte, um verdadeiro ensaio sobre a vingança e suas consequências. Talvez, se Hamlet tivesse escolhido o caminho da religião e deixasse tudo nas mãos de Deus, ninguém sofreria... Mas talvez, esse fosse o caminho que qualquer humano consciente escolheria. Fazer a justiça com as próprias mãos é muito recompensador. E se for mesmo, então Hamlet não tinha escolha... Esse seria o destino de todos e não havia nada que pudesse mudar isso.

“Que nome desgraçado virá depois que tudo isso for estranho?”

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