quinta-feira, 29 de abril de 2010

Diários de Motocicleta


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.


 
Filme lançado em 2004, é dito como Argentino, mas foi produzido também pelo Brasil, Reino Unido, Chile, Estados Unidos, Cuba, Alemanha, Peru e França. Levou o Oscar de “melhor canção”, BAFTA em “melhor filme em língua não inglesa”, Prêmio Goya em “melhor roteiro adaptado”, “melhor filme”, “melhor estréia” no Independent Spirit Awards e recebeu o Prêmio Anthony Asquith pela música. No Festival de Cannes, levou o Prêmio François Chalais e o Grande Prêmio Técnico enquanto no Festival Internacional de Cine di Donostia - San Sebastian, levou o Prêmio do Júri. A canção “Al outro lado del rio” foi a primeira em espanhol a concorrer e ganhar o Oscar. O filme foi dirigido pelo Walter Sales (diretor Brasileiro que também dirigiu o “Central do Brasil”).

“O que tínhamos em comum: nossa inquietude e espírito sonhador... E paixão pela estrada.”

O filme foi inspirado nos verdadeiros diários da primeira viagem na América Latina de Ernesto Guevara de La Serna e Alberto Granado. Apesar de o filme ser sobre Guevara, não é sobre o Che Guevara, mas sim sobre a sua transformação e os passos iniciais que o levaram a ser o famoso guerrilheiro comunista que ele foi. Essa viagem foi feita em 1952 quando Guevara ainda estava na faculdade de medicina. Ele se juntou com Granado, seu grande amigo de infância, e partiram para uma viagem espontânea na moto Norton 500, que foi batizada de “La Poderosa”. Essa moto iria quebrar no meio do caminho, os obrigando a terminar a viagem por meio de caronas e amizades. Com essa viagem, ele é capaz de conhecer os problemas sociais e os preconceitos que rodeiam a América Latina. Depois dessa viagem, Guevara e Granado só se reencontrariam novamente oito anos depois em Cuba (dominada por Fidel Castro e Che Guevara).

“Em seus olhos moribundos, mil pedidos de desculpas e uma súplica desesperada de consolo, que se perde no vazio, como logo se perderá o seu corpo na enormidade do mistério que nos rodeia.”

Guevara, na época, era um jovem sonhador. Havia feito medicina exclusivamente para ajudar aos outros. Totalmente romântico, ele chegou a dar uma cachorrinha à sua namorada e a batizou de “Comeback”, como uma forma de garantia que ele voltaria para buscar a cadelinha e ficar para sempre com essa namorada. No meio do caminho ela iria abandoná-lo. Granado, seu amigo, é sempre visto como um cara safado que adora os prazeres da vida, mas que tem sim, um coração amoroso e está disposto a ajudar as pessoas que necessitam dele. O filme passa o tempo todo, a idéia de liberdade, refletindo constantemente sobre a vida. Por várias vezes, nos faz lembrar a história de Dom Quixote (na qual o Quixote seria o Guevara, um filósofo sonhador e Granado seria o seu fiel escudeiro, que alterna entre as filosofias e o mundo de prazeres real). Mostrando sempre o lado humano, o filme faz certa apologia ao ideal de comunismo que levou o Guevara a ser quem ele foi. Foi no meio da viagem, em Lima, no Peru, que eles começaram a ter contato com os ideais de revolução.

“Tem que lutar por cada sopro de ar e mandar a morte para o inferno.”

Os dois passaram por muitas situações que fariam qualquer um querer cortar os pulsos. Entre eles estão os trabalhadores de minas, que, em sua grande maioria, são comunistas, mas que o governo não liga (para esses especificamente) por seus trabalhos serem muito perigosos e os indígenas que vivem em seu eterno paradoxo de terem muitas terras, serem obrigados a ceder suas terras e terminarem sem terra nenhuma. O ponto alto da viagem é a chegada deles ao Machu Picchu, no qual eles se dão conta da real beleza que há na natureza e na simplicidade. Mas o ponto de amadurecimento seria no hospital para leprosos de San Pablo, no Peru. Lá eles conviveriam com pacientes realmente carentes que vivem sob uma rígida administração religiosa (que se mostrou, por muitas vezes, inflexível e preconceituosa). Eles adquiriram a capacidade de se aproximar dos seus pacientes (mesmo que isso quebrasse regras importantes e o fizessem passar por grandes apertos) e começaram a se livrar de julgamentos preconceituosos de qualquer tipo, levando os a uma crença de uma única raça mestiça que desceria do México até o Estreito de Magalhães. A parte mais simbólica do filme é a travessia do rio: antes ele era apenas um jovem tímido indignado com o mundo, depois ele se torna um homem maduro, responsável e capaz de proteger todos aqueles que necessitam dele. E é nessa pessoa que ele se tornará anos mais tarde. Para bem ou para o mal.

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