sábado, 3 de abril de 2010

O Informante

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

The Insider

Filme estadunidense de 1999, foi baseado em fatos reais e se aplica como um filme-denuncia. Tudo acontece em volta de Wilgand, ex-cientista da Brown & Williamson (a terceira maior empresa de tabaco americana) e o programa 60 minutes da CBS.


“É o poder que só você tem, Jeff.”

Em toda empresa, existe um contrato de confidencialidade entre ela e seus empregados, que continua a valer mesmo depois de eles serem demitidos. Esse contrato existe para manter a integridade da empresa e as proteger de suas concorrentes. Nesse contrato, tudo que se passou dentro da empresa (seus documentos, testes e ligações com outras empresas) deve ser mantido em silêncio. O “segredo industrial” é uma verdadeira manutenção do lucro, que vêm muitas vezes das inovações, mesmo que elas sejam prejudiciais à saúde, bem-estar e segurança da população.

Ao mesmo tempo em que o contrato de confidencialidade protege a empresa, acaba por manter no escuro s informações que são de grande valor para a população. Esse foi o caso de Jeff Wilgand, ex-cientista, que conseguiu explicar e comprovar a ligação entre a nicotina e o vício que ela proporciona ao fumante. Com essa informação, quebrariam todos os tabus da época e comprovaria que as empresas de tabaco têm responsabilidade pelas altas taxas de mortalidade que o cigarro produz.

“Pense nisso. Pense neles.”

Wilgand, para poder declarar a verdade em público, entra em contado com Lowell Bergman, produtor de 60 minutes , programa de jornalismo televisivo com maior credibilidade da época. Wilgand sobre todos os tipos de pressão da empresa e da família. Por medo, sua mulher se divorciou dele. A Brown & Williamson entrou com a “lei da mordaça” e pede pela prisão dele, se revelar os fatos. Bergman fica em seus ouvidos o lembrando sempre no bem que ele fará à população. E ele aceita passar por tudo isso e revelar tudo. Isso mostra a influência que os empregados da mídia têm sobre suas fontes, muitas vezes não se importando com quais situações elas terão que enfrentar. Sem contar também com a falta de proteção legal na quebra do contrato. Para quebrar a credibilidade profissional de Wilgand, a empresa faz uso de suas “quebras de conduta” pessoais (como uma mulher e filha fora do casamento, tentativa de furto, vicio no álcool, agressividade, etc.) e isso mostra o quanto que, na mídia, mais vale suas aparências do que a realidade propriamente dita.

“A fama dura 15 minutos. A infâmia dura um pouco mais.”

Feita a entrevista com todas as denúncias de Wilgand, o problema muda de lado. Não é mais a pessoa sendo ameaçada, mas sim a CBS, uma empresa bastante influente e respeitada. Isso mostra o quanto as pessoas são capazes de ir longe para se salvarem. A Brown & Williamson ameaça em colocar um processo multimilionário contra a CBS por “interferência de terceiros no contrato de confidencialidade”. Como a mesma estava à venda na época e um processo como esses poderia acarretar numa desvalorização bastante relevante, a entrevista de Wilgand foi abandonada, mesmo com o produtor Bergman lutando com todas suas forças para mantê-la. Nos dias atuais, um jornalista depende de uma empresa, que depende do fator econômico. Quando a base (dinheiro) é ameaçada, nenhuma notícia vale o risco, mesmo sabendo que vidas estão no meio. Quando Bergman ganha férias forçadas, ele percebe que não há como lutar contra a empresa. Ele não poderia ser demitido para não dar mais publicidade ao que tava acontecendo na empresa. Bergman, mesmo sabendo que poderia prejudicar a si mesmo e a empresa, lança em outros jornais as conversas e ameaças que têm acontecido na empresa, mostrando que não há lealdade quando seus interesses estão em jogo. O próprio âncora do programa, que havia concordado em cortar a entrevista, volta atrás ao perceber que estava dando atenção mais à empresa do que ao jornalismo essencial. Em meio tanta pressão que a CBS sofre, a entrevista é lançada.

A entrevista de Wilgand levou à indústria de tabaco a pagar mais de 245 trilhões em indenizações ao Estados Unidos. Bergman perdeu a total confiança na CBS, e mesmo no auge de sua fama, desiste da carreira jornalística, iniciando a carreira acadêmica. Nem Wilgand e nem a CBS foram processadas. No final, o real jornalismo venceu. E o lucro foi gigante, economicamente e socialmente.



ps: Esse filme é o único que não faz parte do meu repertório de dvds, mas como foi usado para um trabalho de faculdade, ele foi tão pesquisado quanto os outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário