quarta-feira, 31 de março de 2010

Quanto mais quente melhor


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Some Like Hot

Filme estadunidense de 1959, foi eleita pela AFI (American Films Institute) a melhor comédia do século. Apesar de ser do gênero comédia, tem uma forte influência musical. Levou o Oscar de “melhor figurino”, Globo de Ouro de “melhor filme”, “melhor atriz”, “melhor ator” e “melhor direção de arte” e BAFTA de “melhor ator estrangeiro”.

“Bem, ninguém é perfeito.”

Essa frase se tornou uma das mais repetidas no mundo inteiro, ao ser dita no final do filme quando a personagem Daphne mostra ser homem. Billy Wilder, diretor do filme, considera esse filme a obra-prima da sua vida, mesmo com tantos filmes bem conceituados. Marylin Monroe estava muito fragilizada na época, chegando a fazer mais de 40 tomadas em algumas cenas, mas ainda assim levou o Globo de Ouro e conseguiu, pela primeira vez, a participação nos lucros do filme. Jack Lemon nunca se mostrou tão engraçado quanto neste filme, sendo muitas vezes imitado até nos dias de hoje. Sem contar também que o filme conta com uma das melhores cenas de beijo do cinema, feito por Marylin Monroe e Tony Curtis.





“Há leis e convenções sim, mas também há o necrotério.”

O filme é uma comédia de situações – os personagens passam por momentos absurdos e terão que se adequar a eles. Faz-se um grande uso de estereótipos (velhos tarados, jovens baderneiras, chefes chatos, ricos traumatizados, etc). O diálogo é inteligente e divertido que se une as comédias leves e espontâneas, sem fazer o uso do humor negro (tão usado nos dias atuais). Satirizando um pouco a realidade ao mostrar os amores sempre em volta de algum jogo e dinheiro com alto valor moral, o filme acaba por criar certa crítica a sociedade. Isso ocorre principalmente ao mostrar as dificuldades das mulheres ao mostrar Joe e George travestidos de Josephine e Daphne reclamando dos assédios sofridos e desconforto gerado pela necessidade de se manter sempre bonitas (saltos altos, brincos, etc). Outro tema recorrente é a bebida. O começo do filme tem como cenário Chicago em plena Lei Seca. Joe e George assistem, por acaso, a Chacina do Dia de São Valentin (fato real) e fazem com que a máfia fique toda atrás deles. A bebida também é bem vista pelas jovens mulheres que a usam para esquecer os problemas e se divertirem. Enfim, é um filme delicioso, necessário para ser visto antes de morrer.

domingo, 28 de março de 2010

Inocência


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.




Filme Brasileiro de 1983, se tornou um dos mais admirados até hoje pelos brasileiros. Ganhou no Festival de Brasília em “melhor diretor” e “melhor ator coadjvante”. É baseado num clássico literário homônimo de Visconde de Taunay.

“Ah, Inocência... Deixa falar teu coração.”

É dito que essa história é baseada numa menina sertaneja que Visconde de Taunay realmente conheceu e se apaixonou. Com isso, a história conseguiu unir harmonicamente a realidade com a ficção, algo inédito no Brasil. O filme nos faz lembrar “Romeu e Julieta” de Shakespeare, pelo amor intenso de Inocência e Cirino e o final trágico que remete aos dois. Mas como um bom filme Brasileiro, não deixa de fazer uma certa crítica ao Brasil Colonial e seus costumes no interior, fazendo bastante o uso da linguagem coloquial.

“Se é de paz, pode desmontar.”

O filme inteiro nos faz lembrar a concepção que diz: as pessoas agem de acordo com o tipo de vida que leva. Com isso, qualquer coisa fora do padrão não é considerada. Inocência foi prometida ao Marreco pelo pai (por este dever dinheiro) que não pensou nem em discutir com a filha sobre o que ela quer. Pereira, o pai de Inocência, é um homem ingênuo e desconfiado. Por um comentário elogioso e inocente, quase levou o Meier (amigo de seu irmão) à morte. Durão e conservador, preferiu ver a filha morrer, literalmente, de tristeza do que faltar com a palavra que tinha prometido ao Marreco.

“Um dia ela chegou e me disse: Pai, quero aprender a ler. Imagina se eu deixasse.”

No interior sertanejo do Brasil, o preconceito contra as mulheres era alto. Elas não tinham poder de escolha. Inocência era considerada ousada por fazer pedidos singelos como estes, mas ela era diferente das outras sertanejas. Bela e delicada, viveu um dilema de correr atrás do amor da sua vida e perder a benção de seu pai, que lhe era de extrema importância. No final, sem seu amante, morreu. A benção do pai não lhe seria capaz de salvar. Eles viviam tão isolados no interior, que o Pereira recebeu uma carta pela primeira vez só depois de velho e nem sabia ler. Não precisava aprender a ler.

“Porque o céu nos quer tão mal, Inocência?”

Cirino foi o médico que salvou Inocência da malária. A partir do toque de suas mãos nos pulsos de Inocência, se apaixonou enlouquecidamente. Culto e cavaleiro, não tirou a pureza de sua amada e preferiu correr atrás de um meio certo para tê-la. Encontrando o padrinho de Inocência, fez o acordo de, caso o padrinho considere que os dois devam ficar juntos, encontrá-los embaixo de duas árvores peculiares. Por desventura do destino, Marreco encontra o médico antes e o mata. Ao morrer, Cirino percebe que o padrinho havia aceitado a união entre os dois, mas que seria tarde demais. Inocência, mesmo sem ver seu amante morto, sentiu que ele havia abandonado o mundo terreno. Não suportando viver sem ele, adoeceu e morreu.

Um detalhe interessante e romântico é a borboleta que Meier encontrou e deu o nome de Inocência, em homenagem a bela menina. É como se sua beleza e delicadeza fosse eternizada, mesmo com seu corpo morto.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Capote

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.


Filme estadunidense de 2005 que tem como objetivo mostrar a vida do famoso escritor Truman Capote no momento em que ele produz seu último e mais conhecido livro: A sangue frio. Philip Seymour Hoffman fez o Capote no filme e ganhou o “melhor ator” no Oscar, BAFTA e Independent Spirit Awards. O filme também ganhou o “melhor roteiro” no Independent Spirit Awards e “melhor filme estrangeiro” no Globo de Ouro.

“Fale. Não importa se irei me interessar ou não. Apenas fale.”

A Sangue Frio foi um livro altamente inovador, marcando época e “inaugurando” o Novo Jornalismo. O livro é um romance de não-ficção contando a história do assassinato dos Clutter em 1959, uma família de fazendeiros pacatos que moravam no interior do Kansas (no Estados Unidos). O maior diferencial do livro foi humanizar os assassinos (sem, claro, inocentá-los). O filme começa com Capote encontrando ao acaso, no jornal, a notícia da morte da família. Intrigado com o motivo do assassinato, foi até a cidade e começou a pesquisar a fundo, construindo um verdadeiro livro (a idéia inicial era que fosse uma reportagem).

“O mundo sempre te verá como um monstro. Eu não quero isso.”

Capote sempre foi um escritor com voz e manias afeminadas. Dono de uma memória fotográfica e bastante manipulador, conseguiu aprofundar ao máximo a sua pesquisa, ainda mais depois da prisão de Perry e Dick, responsáveis pelo assassinato dos Clutter. Fazendo o uso do suborno, conseguiu manter um contato constante com esses assassinos, podendo colocar os seus lados dos acontecimentos. Esses encontros levaram a certa paixão entre Capote e Perry, coisa que nunca foi realmente comprovada, mas que é bastante comentada. A partir desse ponto, a construção do livro levou Capote à glória como escritor, mas definhou sua vida pessoal.

“É como se os tivesse colocado para dormir... e atiraram.”

O cuidado dos assassinos e seus perfis psicológicos intrigaram bastante o Capote. Ao entender que o motivo da morte dos Clutter ia além de uma tentativa de roubo frustrada (não havia dinheiro relevante na casa). Perry era mestiço (a mãe era índia) e vinha de uma família bastante conturbada (dois irmãos haviam se matado e a mãe morrera de tanto se embebedar), fazendo com que Capote entendesse a seguinte frase de uma irmã de Perry que ainda estava viva na época: “Perry usa a mão tanto para apertar a sua quanto te enforcar”. Mas isso não impede o carinho entre os dois. O assassinato ocorreu principalmente por haver uma cessão social. A partir do momento que Perry percebeu que nunca poderia ter o respeito de alguém como o Sr. Clutter, o desfecho se tornou certo: a morte.

“Do que vocês têm medo? Pode acontecer novamente.”

O filme mostra bem o efeito avassalador que um assassinato pode trazer a uma pequena e pacata comunidade. Quando Capote chega à cidade, percebe como a vida era arcaica por lá: todos pediam a cabeça dos assassinos (não se importando se merecem um julgamento justo ou não) e eram repletos de preconceitos (homofóbicos e xenofóbicos). Com isso, o livro se destacou mais, ao trazer os assassinos de volta à condição humana.

“Mas está na hora da coleira.”

Os assassinos são condenados à morte por enforcamento. Nesse momento, Capote entra em um conflito interno: para que o livro pudesse ser terminado, os dois deveriam morrer, mas o amor que ele sentia por Perry não permitia que ele fosse morto. Isso arrastou o escritor ao mundo das bebidas (morrendo, mais tarde, pelo excesso de bebida). Após o enforcamento, Capote se culpou por muito tempo por não conseguir os salvar e, principalmente, por não querer que eles fossem salvos. Depois desses acontecimentos, o escritor não conseguiu terminar mais nenhum livro e lançou uma frase um tanto famosa quanto verdadeira:

“Mais lágrimas são derramadas pelas orações atendidas do que as que não são.”

segunda-feira, 22 de março de 2010

Crepúsculo dos Deuses

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Sunset Boulevard
 
É um filme norte-americano feito em 1950, pelo diretor Billy Wilder. Tem como gênero o drama Noir, que levou o filme a ter um final trágico. Ganhou o Oscar de “melhor direção de arte” e “melhor roteiro”. No Globo de Ouro, levou o “melhor filme”, “melhor diretor” e “melhor atriz”. Em coincidência nos dois prêmios, levou o “melhor trilha sonora”. Levou também o prêmio Bodil de “melhor filme estadunidense” e Jussi Awards de “melhor atriz estrangeira”.

“Por que não fica e assiste? Sabe, o cinema mudou muito.”

O filme é uma grande homenagem ao cinema e faz grandes críticas à Hollywood. Na época, Wilder foi intensamente adorado e odiado, sendo chamado muitas vezes de “perturbador” pelo público e “traidor” pelos colegas cineastas. Entrou na lista dos 20 melhores filmes da AFI (American Films Institute) e foi considerado “culturalmente, historicamente e esteticamente significante” pela Biblioteca do Congresso Estadunidense. No filme, mostra também a influência do jornalismo em Hollywood. Muitas vezes eles são tratados como “sem coração” e distorcedores da realidade por não se apiedar das pessoas que compõem a sétima arte.

"As estrelas não têm idade, tem?”

O filme é repleto de curiosidades. A atriz que atua como a protagonista Norma Desmond é a Glória Swanson, uma estrela do cinema mudo que realmente não conseguiu se adaptar ao novo cinema. Erich Von Stroheim, que atuou como o Max, foi um diretor muito conhecido no cinema mudo. A cena que se passa, quando os protagonistas estão no cinema particular de Norma, é do filme “Minha Rainha”, o mesmo filme que trouxe o fim da carreira de Von Stroheim e Swanson (ele foi financiado por Joe Kennedy, político importante da época e pai de John Kennedy, ex-presidente dos EUA). Outra grande estrela do filme é o carro Isotta Fraschini, que é europeu e feito a mão, tinha como destaque o estofamento feito de pele de onça e telefone foleado a ouro.

“Eu sou grande. Os filmes é que ficaram pequenos.”

Norma Desmond é uma rainha do cinema mudo que já fora esquecida há muito tempo. Podre de rica devido a seus gigantescos salários do passado, mora numa mansão extremamente luxuosa no interior (o que contrasta com a sua decadência externa – o que leva a muitos crerem que a casa está abandonada). Vivendo uma vida vazia, tinha como maior companheiro um Chimpanzé e seu empregado Max, mostrando a solidão na qual ela convivia. Desmond insiste em viver no passado, negando aceitar o presente obsoleto que possui. Suas relações também não são as melhores. Seus amigos são os “bonecos de cera” (antigas estrelas do cinema mudo) que nada acrescentam na vida dela. Max já fora seu marido e agora vive para servi-la, fazendo muitas vezes coisas absurdas (como enviar muitas cartas para Norma, como se tivessem vindo de vários fãs) a isolando da verdadeira realidade.

“Ela era sublime. Você é muito jovem para saber.”

Um roteirista sem dinheiro e fama acaba entrando na vida de Norma. Ele passa a fazer o papel de gigolô quando aceita viver as custas dela, morando juntos na tal casam, por dinheiro. Ele também passa a alimentar a ilusão de que ela poderia fazer um retorno ao cinema com um roteiro criado por ela. O roteiro não dará em nada e ele sempre soube disso, mas preferiu o conforto e o dinheiro. A companhia dele se transforma em um amor doentio para Norma, começando a sufocá-lo. Paralelamente, outra história acontece: a do amor que ele nutre por uma roteirista pobretona que vai se casar com um grande amigo seu. Ela encontra um roteiro criado por ele e quer montá-lo e vendê-lo para a Paramount (com garantias de que tudo funcionará). Ao descobrir que ela a ama (e vice-versa), ele entende que essa é a chance dele sair da vida fútil e indesejável que levava com Norma (que descobre tudo depois de um tempo). Percebendo que poderia dragar a menina para uma vida conturbada e de futuro incerto, a poupou de sofrimentos e fez com que ela se afastasse.

“Grite comigo e bata em mim. Só não me odeie.”

Norma enlouquece de ciúme e faz o roteirista perceber que não dá para continuar a viver daquela forma. Apesar de tentar o suicídio cortando os pulsos uma vez e ameaçar o outro com um revolver, ele vai embora. Um momento antes de ele partir, ele conta toda a realidade que ela nunca quis aceitar (o roteiro era ruim, fãs não lhe mandavam cartas e sua fama já tinha acabado). É nesse momento que a loucura de Norma chega ao máximo, na qual ela acerta três tiros em seu amante. É certo que ela o fez por ver que pela primeira vez, ela fora rejeitada. Isso é algo inaceitável no mundo dela. O filme termina com sua sanidade quase nula, descendo a famosa escadaria entre policiais e repórteres, acreditando que está fazendo um filme. De certa forma, o destino se apiedou de Desmond ao lhe dar, como presente, a loucura. Ela jamais saberá que não é mais uma estrela.

“De Mille, estou pronta para o meu close.”

sexta-feira, 19 de março de 2010

Entre dois amores

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Out of Africa

É um filme dos EUA lançado em 1985 que se baseia na história real de Karen Blixen. É romance épico que tem como plano de fundo o Quênia, na África. Levou Oscar e Globo de Ouro de “melhor filme” e “melhor trilha sonora original”, ganhou mais um Globo de Ouro em “melhor ator coadjuvante” e ficou com o BAFTA e Oscar de “melhor roteiro adaptado”, “melhor fotografia” e “melhor som”, sem contar o “melhor direção de arte” do Oscar. De prêmio, levou o David di Donatello de “melhor filme estrangeiro” e “melhor atriz estrangeira”.

“A terra é redonda para que não possamos ver muito longe.”

Para o começar, o título original é “Out of Africa” que faz mais sentido que os “Entre dois Amores”. Não há no filme uma indecisão entre esses amores, mas sim o surgimento e o término dessas duas paixões inesperadas. Meryl Streep é a atriz que interpreta perfeitamente a Karen Blixen, uma dinamarquesa de família rica que se casa com um amigo por conveniência (ela, para ter o título de Baronesa e ele, para ter o dinheiro). Com esse casamento, o Barão Blixen construiu uma fazenda de café no Quênia. A África é o tempo todo retratada como um refúgio paradisíaco. Um refúgio do surto industrial que acontecia na época e das guerras mundiais que estavam por vir.

“Deus brinca conosco quando ouve nossas orações.”

Karen é retratada como uma mulher bonita, culta, forte, com aptidão para negócios e ousada. Tem um grande prezo pela sua liberdade pessoal e possui um espírito aberto, que tornou possível e fácil sua adaptação num local como a África. Com o casamento, o título de Baronesa se tornou um passaporte para entrar na sociedade e poder ter uma atividade produtiva (ao invés de viver o ócio que era concedido às mulheres da época). Mas o barão lhe é sempre infiel e egoísta, deixando-a sempre sozinha na fazenda. Mesmo assim, ela se apaixonou por ele e fez o possível para se aproximar dele. Isso até o dia em que ela descobriu que contraíra sífilis vinda de seu marido. Com isso teve que voltar à Dinamarca para fazer um tratamento pesado com arsênico e, depois, voltar à África. Nesse ponto, ela descobriu o grande amor que ela sentia pelo Quênia e que perdera sua identidade com a terra natal. Daí para frente, o casamento passou a ser pura aparência, apesar do amor que ela nutria pelo Barão.

“No seu mundo ideal, não existiria o amor.”

Mas o amor mais intenso da história é entre a Baronesa e Denys, um lobo solitário. Amante da natureza e da África, é tranquilo e ágil. Eles são a verdadeira personificação da frase: os opostos se atraem. Grosseiro, espontâneo e aventureiro, mostrou outro lado da vida para a Karen. Entre suas experiências estão o fazer um safári e voar de avião pelas terras do Quênia. Eles chegaram a passar uma boa temporada juntos, como se fossem casados. No fim das contas, o relacionamento não funciona muito bem por ele não querer compromisso. Ficam nesse dilema até a queda do avião, na qual Denys morre.

“Existem coisas que valem à pena, mas elas têm um preço. E eu não quero ser uma delas.”

Durante o filme, é perceptível o escasso dos europeus para com os africanos e suas culturas exóticas. Assim que Karen voltou da Dinamarca (curada da sífilis), ao saber que não poderia mais ter filhos, criou um sistema de educação para os Kikuyu, tribo indígena que morava em suas terras. Contratou um missionário para dar as aulas às crianças pequenas. As maiores não poderiam aprender por ordem do chefe da Tribo. Ele deveria ser o mais inteligente de todos, então as crianças maiores não poderiam aprender, enquanto as pequenas, que até crescerem o líder já terá morrido, poderiam. Mantém-se assim, na tribo, uma hierarquia de respeito. Que deve ser respeitada pelos estrangeiros. Após um tempo, é possível ver que até mesmo a Karen tinha certos preconceitos: enquanto os ingleses achavam que os africanos eram ignorantes demais para aprender, Karen achava que eles precisavam aprender a ler e escrever como europeus para serem inteligentes.

“É um sentimento estranho, a despedida. Há uma certa inveja nela.”

No final do filme, a vida de Karen se transforma numa verdadeira bola de neve de desgraças. Para começar, o Barão pede o divorcio para poder se casar com outra mulher rica (apesar de ele garantir a continuidade da amizade) e ela o dá. A fazenda, que funciona aos trancos e barrancos, consegue produzir a sua melhor safra – que é queimada num incêndio do celeiro, levando assim a Baronesa á falência. Seu amante morre em um acidente de avião, e quebrada financeiramente, têm de vender todas as suas coisas e doar dos objetos sentimentais (como a bússola que Denys lhe deu – para que ela possa encontrar o caminho dela). Para fechar a humilhação com chave de ouro, ela ainda tem que se ajoelhar e implorar ao governador local na frente de todos para que ele arranje uma boa terra para os Kikuyu. E, pelo menos, isso ela consegue. Ao voltar sozinha e pobre para a Dinamarca, ela nunca mais retorna a África, o seu paraíso declarado.

terça-feira, 16 de março de 2010

O Leitor


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

The Reader

Filme alemão/estadunidense de 2008, baseado no livro homônimo de Bernhard Schlink, que tem como história um amor de verão que marcou durante toda uma vida. A atriz Kate Winslet levou o Oscar, BAFTA, SAG e Critic’s Choise Awards de “melhor atriz” e o Globo de Ouro de “melhor atriz coadjuvante” pelo filme. Stephen Daldry é o diretor do filme e obteve a façanha de tornar um roteiro melancólico e de certa forma já bem batido (por ser MAIS uma história sobre o Holocausto) num verdadeiro romance que não se tornou piegas ou cansativo.

“Segredo é um elemento essencial na literatura ocidental.”

Antes de falar sobre o filme, quero chamar atenção sobre um detalhe: o título. Em original, ele se chama “The Reader” que pode tanto ser “O leitor” como “A Leitora”, me fazendo pensar se no filme, o título se refere à quem realmente lê ou a quem admira essa leitura, devorando através da história contada os mundos que a literatura lhe oferece.

“Vamos inverter a ordem: primeiro você lê para mim. Depois faremos amor.”

Hannah é uma mulher de 36 que leva uma vida bem rústica e simples. Michael é um adolescente de 15 anos, ingênuo e sem forte ligação com a família. Conhecendo-se por acaso, começam a se relacionar aos poucos. Hannah faz o papel de mulher experiente, iniciando o garoto no mundo sexual, experimentando, também, novas sensações. O relacionamento não era somente sexo, fazendo com que os dois se aproximem e percebam uma coisa em comum: os dois adoram as histórias da literatura ocidental. Enquanto Hannah ouvia e elogiava o Michael pelas leituras, ele se tornava um garoto cada vez mais confiante e seguro de si. Num momento do filme eles chegam a fazer uma viagem juntos, mostrando o quanto o relacionamento entre eles é sério. Apesar de toda essa intensidade, o relacionamento era bastante frio e seco, beirando a grosseria. Mas era o jeito de ser que eles tinham. Mais pra frente, quando se percebe que o relacionamento se torna cada vez mais sério e cobranças surgem, Hannah desaparece. E fica sumida assim por um longo tempo.

“As sociedades pensam que funcionam através de conceitos morais, mas não. Elas funcionam através do que se chama LEI.”

O reencontro dos dois acontece quando o Michael é um estudante de direito e está num julgamento de nazistas e Hannah é uma das nazistas julgadas. A decepção dele se torna insuportável e a covardia dele em meio à situação se torna absurda. Hannah tinha recebido uma promoção no seu emprego, mas preferiu trabalhar como guarda da SS, talvez para fugir do amor adolescente que a tirava do controle. Em certo momento do julgamento, ela é obrigada a escrever algo. Ela prefere levar a culpa do que escrever, fazendo com que Michael finalmente entenda a peça que faltava: Hannah é analfabeta. Para evitar uma humilhação generalizada, ela preferiu tomar um castigo bem mais pesado. Nesse momento, Michael preferiu não contar nada a ninguém, e pelo que entendi, foi por dois motivos: a própria reputação (afinal, ter um caso com uma nazista condenada bem mais velha não é bem visto) e o fato de que se a própria Hannah preferiu esconder o fato de não saber ler, quem era ele para mudar isso? Isso pode tornar o ato entendível, mas não justificado. Nesse momento, os dois selaram grande parte da vida deles. Um seria distante de tudo e de todos por um longo tempo e a outra não poderia mais ter o contato com o mundo. Nem pela literatura.

“Quanto mais eu sofro, mais eu amo. O perigo só fará crescer o meu amor. Ele o afiará, perdoará o preconceito.”

No julgamento de Hannah, houve um fato interessante. Ela como guarda, obrigava a algumas prisioneiras (em geral, fracas e doentes) a lerem para ela. É perceptível a analogia disso com as leituras de um Michael fraco, jovem e doente que ela conheceu. Talvez seja o amor que ela sentia pelo Michael direcionado nessas jovens moças. O que assusta é saber que logo depois, ela as mandava para a morte. Talvez sendo também uma analogia de como ela queria se livrar desse amor. Sua mente simplista foi a principal responsável pela sua condenação. Por achar que tava apenas fazendo seu trabalho, não pensou na vida daquelas moças. Michael, em meio turbilhão de sentimentos, tendo que encarar o seu primeiro amor como uma assassina de 300 mulheres, conseguiu deixar um pouco de sua covardia de lado e começou a enviar fitas com a voz dele gravada contando as histórias de várias literaturas para Hannah. Nesse momento, é visível como eles começam a se perdoar: ele por não ter ajudado Hannah quando pôde e ela, por saber que alguém ainda pensava nela e a amava.

“Não importa o que eu sinto. Não importa o que eu penso. Os mortos continuam mortos.”

Com essa frase, Hannah define a sua vida. Sabendo que ela não seria bem vinda ao mundo exterior à cadeia nem pelo próprio Michael, em vez dela sair, ela se matou, pedindo para que ele doe todo o dinheiro que ela tinha guardado à mulher que a processou e a colocou na cadeia, com um pedido de perdão. Michael, apesar de todo seu medo, tinha arranjado um emprego e um apartamento para Hannah, mesmo sem saber se iria realmente perdoá-la. Apesar do choque de saber que Hannah havia morrido, talvez somente assim, ele conseguiu se desprender de um amor que, temporalmente, não havia durado muito, mas que psicologicamente o marcou por toda sua vida. Assim, conseguiu se aproximar sua filha (de um casamento que não deu certo), ao contar a história de Hannah para ela.

Por fim, é interessante ver o ponto de vista da sobrevivente que processou Hannah. Mesmo com Hannah morta e o dinheiro que recebeu da mesma, ela não a perdoa de seus atos. Mesmo sabendo que ela não era inteiramente culpada pelo que aconteceu, isso não significava que ela era inocente. No fim das contas, ela não aceita o dinheiro para ela mesma, aceitando que ele seja doado em nome de Hannah para um instituto de analfabetizados.

domingo, 14 de março de 2010

Cidade de Deus

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.




É um filme brasileiro lançado em 2002 pelo diretor Fernando Meirelles. É baseado em fatos reais e a história surgiu do livro homônimo de Paulo Lins. Foi eleito um dos 100 melhores filmes do mundo pela revista Time e participou e ganhou prêmio nos Festivais do Peru, Uruguai, Filipina, Cartagena (Colômbia), Havana (Cuba), Guadalajara (México), Marraketh (Marrocos), Santo Domingo (República Dominicana) e Palic (Yugoslávia). Foi seleção oficial do Cannes, também foi eleito pela AFI Fest o “melhor filme aclamado pelo público” e ganhou os prêmios da SECS, ABC e APCA. Ganhou BAFTA pela “melhor edição”. Da British Independent Film Awards, Satellite Awards e NYFCC Awards levou o “melhor filme estrangeiro”. Pela Showest levou o “melhor diretor internacional”. No Grande Prêmio Cinema Brasil levou o “melhor filme”, “melhor diretor”, “melhor roteiro adaptado”, “melhor fotografia”, “melhor montagem” e “melhor som”. Daniel Rezende foi o editor mais jovem a ser indicado ao Oscar.

“O sol é para todos. A praia é para quem merece.”

O filme é altamente inovador, principalmente quando se tem como meio o cinema do Brasil. Muitos dos atores do filme, na verdade são moradores de favelas cariocas que participaram de escolas de teatro criadas para a população carente. Muitas vezes, a imagem do filme nos remete ao western (faroeste norte-americano) pela tensão, selvageria e a falta de lei. As cenas são de impacto, mostrando uma violência que vem de dentro da favela e se expande para fora. Isso faz com que o público seja enfurecido e seduzido ao mesmo tempo pelo filme. A sexualidade é bastante explorada como se todos os atos do filme fossem naturais (estupros, prostituição, posições sexuais polêmicas, etc), mostrando a quebra de muitos tabus da sociedade atual. A estética do filme é pós-modernista trazendo padrões clássicos da narrativa (envolvimento do espectador com o filme) e elementos do cinema de vanguarda (fragmentação temporal e montagem dinâmica). O filme tem o formato “circular” por ele terminar a história com o começo dela. Esses aspectos técnicos e o humor “negro” e pesado faz Meirelles se parecer com o diretor Quentin Tarantino.

“Parece até mensagem de Deus. Se liga, mané. Honestidade não compensa.”

Antes de falar sobre o filme, devo passar um panorama de o que é a Cidade de Deus. É uma comunidade criada nos 60 pelo Estado da Guanabara (Estado do Rio de Janeiro, atualmente) com o intuito de erradicar as favelas da antiga capital do Brasil e transferir a população carente para um lugar com infra-estrutura básica e qualidade de vida melhor que as da favela. Bonito da idéia, mas ficou tudo no papel. No começo não tinha luz, não tinha asfalto e não tinha ônibus (mesmo com a comunidade sendo bem distante da capital). A população empobreceu mais e a violência explodiu. A “imprensa marrom” (vulgo órgão sensacionalista) usou e abusou dos eventos sangrentos que aconteciam por lá e a polícia vivia em busca apenas do lucro pessoal (ficando com as coisas que os ladrões roubavam e até mesmo matando, se for necessário) minimizando, assim, o valor da vida de um cidadão da Cidade de Deus.

“Criança? Eu fumo, eu cheiro, já matei e já roubei. Sou sujeito homem.”

O filme conta a formação de uma Boca de Fumo. Começou com uma senhora viúva dando drogas para molecada em troca de sexo e terminou como a sede de um dos maiores traficantes da comunidade. Mostra também o caminho da droga (desde o fornecedor até o comprador), no qual se encontra várias ironias. O fornecedor entrega para o traficante, que passa para a “equipe de montagem”, no qual se “emprega” várias pessoas e depois volta para o traficante que vende para alguém que tenha coragem de subir na favela (a maioria é classe média). De certa forma, esse caminho tem até plano de carreira, no qual você pode ser “aviãozinho”, “olheiro”, “chefe da Boca”, entre outros. A polícia também faz a sua parte: recebe uma parte do lucro e não perturba o sistema.

“Dadinho é o caralho. Meu nome é Zé Pequeno, porra.”

Dadinho é um psicopata que desde criança tem sede por matar. Num terreiro de candomblé ganhou o nome de “Zé Pequeno” e um cordão que lhe daria todo o poder que desejava, mas com a única condição de nunca tirar e cordão e nunca transar enquanto usar o cordão. Ele transou, perdeu o dinheiro e o poder e morreu, mostrando que o filme tem certa ligação sarcástica com o “espiritual” (sem contar as várias vezes que o filme fez uma mencionou o destino). Ele tinha um companheiro desde a sua infância que se chamava Bedé e era o mais responsável pela boca. No momento em que Bedé resolveu sair da vida de traficante ele enlouquece e acaba se tornando responsável pela morte de seu melhor amigo.

“Ai, tiro no pé ou na mão? Escolhe, moleque.”

Apesar de parecer que não, a favela se tornou um ambiente mais seguro com Zé Pequeno no poder. Havia menos assaltos, estupros, assassinatos e ter alguém no poder davam à população um sentimento de segurança. O problema começou a surgir quando nasceu o grupo de “moleques caixa baixa”, responsável por roubar dentro da favela incansavelmente, levando a polícia a invadir o local e trazer de volta a insegurança para todos que lá moravam. Zé Pequeno conseguiu arruar o grupo e segurar dois moleques. Um deles levou um tiro no pé e ao outro foi dado a sentença de morte. Isso foi o suficiente para dispersar o grupo por algum tempo. Eles voltaram quando Zé Pequeno começou a recrutar pessoas para a guerra do tráfico. Com a perda de Zé Pequeno e a prisão do oponente, esse grupinho matou o antigo “rei” da favela e sobe no poder no final do filme.

“A parada era entre o bonitão do bem e o feioso do mal.”

Buscapé é o outro protagonista do filme e foi o único a não se render ao caminho da violência e das drogas. Estudou e trabalhou para conseguir uma câmera (seu sonho era ser fotógrafo jornalístico), apesar de ser o mais desafortunado (era o que menos tinha dinheiro e nunca arranjava uma mulher). No final, teve um papel importantíssimo ao conseguir fotografar a vida dentro da favela, o confronto entre as duas facções do tráfico e a corrupção dos policiais. Cansado de ser perseguido e viver com medo, preferiu publicar apenas as fotos de Zé pequeno e outros traficantes (que já haviam sido mortos ou presos), deixando a corrupção da polícia de lado.

No final, uma frase dita por Zé Pequeno marca bem a narração do filme:

“Quem cria cobra é picado, morou?”

sexta-feira, 12 de março de 2010

Thelma e Louise

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Thelma and Louise

É uma dramédia estadunidense de 1991 de final trágico. Para mim, um dos melhores filmes voltado para o público feminino. Ganhou o Oscar de “melhor roteiro original”, possui uma trilha sonora fantástica e uma fotografia impecável. Não pode-se esquecer também do carro clássico que é tão protagonista no filme quanto Thelma e Louise: o verde Thunderbird 66 conversível.

“Vá, continue. Simplesmente continue.”

Com essa frase Thelma e Louise terminam a trágica viagem que seria apenas para relaxar e pescar. O desespero e a determinação delas são perceptíveis durante todo o filme, deixando o espectador assombrado e ao mesmo tempo torcendo por elas. De certo modo, o filme é contraditório: elas se tornam vítimas do acaso e ao mesmo tempo tenta driblar um destino que não as a agrada. E encontram a fuga desse destino: a morte.

Thelma é a garota bonita e charmosa da história. Medrosa, mimada, tranqüila e ingênua. É constantemente reprimida pelo marido, apesar de ser sustentada por ele. Como ele foi o único homem da vida dela, se torna totalmente dependente dele. No final do filme, ela se declara independente, se solta e fica esperta. Ela que dá a iniciativa do suicídio.

Louise é a trabalhadora, esperta, grossa e fechada. Tem um namoro que tinha tudo para dar certo – ele a amava,tinha dinheiro e queria desposá-la. O único problema foi ela não amá-lo. Talvez por ter sido antes estuprada no Texas e achar que todo homem é canalha.

As duas desencadearam os problemas: Louise atirou no homem que maltratou a sua amiga; Thelma assaltou a loja por ter pedido o dinheiro da amiga; As duas explodiram o caminhão do cara que as sacaneava toda hora e prendem o policial dentro de seu próprio carro para poder fugir. Os problemas que elas se meteram as atingem tanto que no final do filme elas assumem uma aparência mais selvagem. No começo, elas tinham a aparência tão sóbria que a garçonete da boate onde Louise matou e o carona ladrãozinho que soube do roubo de Thelma não acreditaram que elas eram criminosas. Tanto que o policial que as persegue, percebe a situação em que elas se encontram e tenta ajudá-las no que é possível, mas pela falta de crença que elas tinham na polícia e por saberem que, aos olhos da justiça, elas estavam enrascadas, não o ouviu.

O maior problema delas foi terem se metido cada vez mais em problemas em vez de sair deles, se transformando em uma verdadeira bola de neve. Para escapar de uma realidade cada vez mais certa (a cadeia) elas tentam fugir para o México e quando isso se torna inviável, elas se beijam selando uma forte amizade, apertam as mãos e aceleram o thunderbird no precipício do Grand Cânion. Mas é importante entender que não foi covardia ou inconseqüência, mas sim a impossibilidade de enxergarem uma vida melhor no futuro, até mesmo por nunca terem tido a chance de visualizar isso. Se tornaram uma vítima da vida que lhes foi imposta.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Todo mundo em pânico

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Scary Movie
Filme dos EUA do ano de 2000, é uma comédia de humor negro. Parodiando os filmes de sucesso, têm grande ênfase nos filmes de terror. Apesar de ser pesado, é diversão na certa.

Filmes parodiados:
Pânico 1, 2 e 3
Exorcista
Halloween
Sexta-feira 13
Bruxa de Blair
Sexto Sentido
O Iluminado
Dawson Creek (o seriado norteamericano)
Eu sei o que vocês fizeram no verão passado
Matrix
Titanic
Amistad

segunda-feira, 8 de março de 2010

Fantasma da Ópera

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

The Phantom of the Opera

É um drama musical estadunidense/britânico de 2004, baseado na novela de Gaston Leroux. Foi o filme independente mais caro de todos (96 milhões de dólares) e tem como roteirista o famoso Andrew Lloyd Weber.

“O Fantasma da Ópera está lá, dentro da sua mente.”

É um dos musicais mais queridos e famosos do mundo. Apesar de ser um pouco cansativo por ser inteiramente musical e ter uma longa duração. Possui musicas brilhantes, coreografias animadíssimas e fotografia esplendorosa. Conta a história de um amor impossível, mas não de uma forma clichê e romântica, mas sim sensual e assustadora, chegando a beirar a doença.

“Apareça e cante, meu anjo da música.”

Christine é a Prima Donna por acidente da Ópera de Paris e é filha de um músico que morreu quando ela ainda era jovem. No começo, ela acredita que o fantasma da ópera é o anjo da música enviado pelo seu pai e acredita nele como se fosse um sonho. Ao se apaixonar pelo Visconde – seu amigo de infância – e conhecer o lado ciumento e destrutivo do fantasma, ela descobre que o sonho na verdade era um verdadeiro pesadelo.

“Abandone seus planos e se renda aos seus sonhos.”

O fantasma da Ópera é um gênio da música que vive escondido nas catacumbas na Ópera de Paris por causa de seu rosto deformado. Quando era criança, possuia o apelido de “Filho do Diabo” e era exposto no circo. Ao ser salvo por uma jovem que se compadeceu com ele e o colocou nas tais catacumbas, ele foi afastado da sociedade. Com o passar do filme, percebe-se que a genialidade do fantasma se transforma em loucura. Ele se torna uma pessoa ciumenta, possessiva e inconseqüente – fica totalmente violento e insociável. No final é visível que a maior distorção dele não está no rosto, mas sim na alma.

O filme é também uma verdadeira crítica a uma sociedade que cria os seus monstros e depois os abandonam, não aceitando diferenças e criticas. O fantasma então desaparece e Christine se casa com o Visconde, mas no final deixa no ar se realmente o fantasma não conseguiu ficar com ela – não em vida, mas sim na morte.

sábado, 6 de março de 2010

Memórias de uma Gueixa


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Memoirs of a Geisha
É um filme de Hollywood lançado em 2005 e que fez um grande sucesso apesar de toda a sua polêmica. Ele é do gênero dramático e foi baseado num best-seller da época com título homônimo do autor Arthur Golden. Nas categorias de “melhor figurino” e “melhor fotografia” ganhou um Oscar e um BAFTA. Além disso, levou outro Oscar de “melhor direção de arte” e na categoria de “melhor trilha sonora” levou um Globo de Ouro e mais um BAFTA.

Antes de começar a falar sobre o filme, quero deixar bem claro que apesar de conhecer (até mesmo concordar algumas vezes) com a crítica que foi feita ao filme irei demonstrar a importância dele por ter sido um filme de grande influência no ocidente (pelo menos).

O filme é capaz de quebrar o estigma de uma gueixa ser uma prostituta. Além disso, pôde mostrar um outro mundo de hábitos e costumes que não são valorizados no ocidente. Deixando de lado o romance de cinderela oriental, é possível perceber como o tratamento dado as mulheres eram severos e delicados ao mesmo tempo. Acima de tudo, é possível conhecer um mundo que não existirá nunca mais.

“Não nos tornamos gueixas para termos uma boa vida, mas porque não tivemos outra escolha.”

A palavra gueixa significa artista. Uma gueixa é uma obra de arte em movimento num mundo proibido e frágil. Desse jeito poético mesmo. Elas não vendem seus corpos, mas sim seus talentos. Elas não são cortesãs e não são esposas. Elas são meia-esposas. Companhias da noite. A arte sensual (não se pode chamar de erótica) é praticada nos menores detalhes, no qual um pulso ou um toque acidental de pernas podem levar homens ao êxtase. Não é por acaso que para se tornar uma aprendiz de gueixa (uma maiko), precisa conseguir parar um homem na rua com apenas um olhar.

Numa gueixa, tudo relativo à aparência importa: a postura impecável, a arte de falar, o modo de andar gracioso, ser mestre no quimono, saber como tomar chá sensualmente e saber dançar, cantar e tocar um instrumento são características necessárias. E para alcançar toda essa disciplina, a agonia e a beleza devem andar lado a lado. Apesar de todo o luxo e glamour que as cerca, elas não têm o direito de amar. Gueixas não têm sentimentos.

“Um poeta uma vez escreveu um poema intitulado como ‘Perdas’ e o gravou numa pedra. Depois ele rasurou as suas palavras, para que não possamos ler, e sim sentir.”

É perceptível que naquela época a dignidade e a educação das mulheres eram mais importantes que família e amizade. Era essa educação unida à dignidade que lhe traria um bom futuro.

Com a 2ª guerra mundial e a entrada de americanos no Japão, a sua ocidentalização se formou rapidamente e todo esse mundo misterioso e gracioso sucumbiu. E sucumbiu por si mesmo. Sem os mistérios e os rituais, nada restava. Entrou no lugar a banalização e o preconceito. Assim começou a passar a imagem e gueixa como prostituta. Não haveria como acontecer diferente. Infelizmente.

terça-feira, 2 de março de 2010

Forrest Gump: o contador de histórias


Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Forrest Gump


“Run, Forrest, run!”

É um filme norte-americano do gênero drama lançado em 1994. Estrelado por Tom Hanks e considerado uma grande crítica à sociedade do Estados Unidos (afinal, um cara de QI de 75 ser um herói e fazer parte da história do país?). O filme é recheado de prêmios: na categoria de “melhor filme”, levou Oscar, Globo de Ouro, Prêmio Saturno e Prêmio Eddie; em “melhor ator principal”, levou Oscar, Globo de Ouro e Screen Actors Guild Awards; em “melhor efeitos especiais” levou Oscar e Bafta; em “melhor diretor” levou Oscar e Globo de ouro; em “melhor roteiro adaptado” e “melhor edição” levou Oscar; em “melhor ator coadjuvante” levou Prêmio Saturno.

“A porta da frente nem sempre é a mais bonita”

O filme é uma verdadeira reflexão sobre o destino das pessoas. O personagem Forrest não possui iniciativa própria e é levado por uma correnteza de acontecimentos. As quais são surtiram bons efeitos pela sua personalidade pura, gentil e ingênua. O filme faz reflexões sobre coisas do dia a dia que não pensamos. Por exemplo, o sapato. Através do sapato podemos descobrir muito das pessoas (por onde ela anda, por onde estiveram). Mas a mais importante e silenciosa reflexão foi sobre a pena do começo e do fim do filme. Ela pode ser vista como uma oportunidade: passa por você enquanto está desprevinido, restanto apenas a própria pessoa se vale apena dar-lhe atenção ou a deixar passar adiante. Como o próprio filme diz “Todos têm um destino, mas também somos capazes de flutuar na brisa como uma pena”.

“Eu não sou esperto, mas sei o que é amar.”

Como a frase diz, ser intelectualmente incapaz, não o torna desprovido de amor. E algumas vezes sabe amar mais que os outros. Honrando a palavra ao Bubba (que o tempo quis ter uma vida simples, mas morreu na guerra), mosta sua própria companhia de camarões a partir de um barco e enriquecendo, doa um bom dinheiro à sua família. Fez com que o Tenente Dan reaprendesse a viver, mesmo depois de ter perdido as pernas. E em todos os momentos, foi capaz de amar por toda sua vida a Jenny, fadada a ter um destino cruel, começando do pai que a abusava, depois sendo expulsa da faculdade, tendo que se prostituir, entrar no mundo das drogas, se tornar uma Hippie radical e, por fim, morrer de AIDS ainda jovem. No fim, Forrest fica aliviado por saber que seu filho não tem nenhum problema mental e o ama da mesma maneira que sua mãe o amou por toda a vida dela (mesmo ela não sendo mentalmente incapaz).

“A vida é como uma caixa de bombons, nunca se sabe o que vem dentro.”

O próprio nome de Forrest já tem uma curiosidade: é uma homenagem a um herói de guerra que se tornou um dos principais membros do Ku Klux Klan. Mas um dos pontos essenciais do filme é o uso de efeitos especiais para colocar Forrest dentro da história norte-americana. Guerra do Vietnã, movimento hippie, panteras negras, ingresso dos negros na faculdade, chegada do homem na lua, Elvis Presley, caso Watergate, Furacão Carmen, ações da Apple (antes do estrondoso sucesso dela), Criação de idéias famosas como o “smiles” e “shit happens”, Guerra Fria, inspiração de John Lennon com a música Imagine e os presidentes que Forrest conhece pessoalmente: John Kennedy, Johnson, Nixon e Wallace. Essa participação toda mostra como o personagem foi importante e como ele se tornou capaz de crescer e MUITO na vida.

Acredito que no final, é como a mãe de forrest sempre diz:

“Idiota é quem faz idiotices”