quinta-feira, 25 de março de 2010

Capote

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.


Filme estadunidense de 2005 que tem como objetivo mostrar a vida do famoso escritor Truman Capote no momento em que ele produz seu último e mais conhecido livro: A sangue frio. Philip Seymour Hoffman fez o Capote no filme e ganhou o “melhor ator” no Oscar, BAFTA e Independent Spirit Awards. O filme também ganhou o “melhor roteiro” no Independent Spirit Awards e “melhor filme estrangeiro” no Globo de Ouro.

“Fale. Não importa se irei me interessar ou não. Apenas fale.”

A Sangue Frio foi um livro altamente inovador, marcando época e “inaugurando” o Novo Jornalismo. O livro é um romance de não-ficção contando a história do assassinato dos Clutter em 1959, uma família de fazendeiros pacatos que moravam no interior do Kansas (no Estados Unidos). O maior diferencial do livro foi humanizar os assassinos (sem, claro, inocentá-los). O filme começa com Capote encontrando ao acaso, no jornal, a notícia da morte da família. Intrigado com o motivo do assassinato, foi até a cidade e começou a pesquisar a fundo, construindo um verdadeiro livro (a idéia inicial era que fosse uma reportagem).

“O mundo sempre te verá como um monstro. Eu não quero isso.”

Capote sempre foi um escritor com voz e manias afeminadas. Dono de uma memória fotográfica e bastante manipulador, conseguiu aprofundar ao máximo a sua pesquisa, ainda mais depois da prisão de Perry e Dick, responsáveis pelo assassinato dos Clutter. Fazendo o uso do suborno, conseguiu manter um contato constante com esses assassinos, podendo colocar os seus lados dos acontecimentos. Esses encontros levaram a certa paixão entre Capote e Perry, coisa que nunca foi realmente comprovada, mas que é bastante comentada. A partir desse ponto, a construção do livro levou Capote à glória como escritor, mas definhou sua vida pessoal.

“É como se os tivesse colocado para dormir... e atiraram.”

O cuidado dos assassinos e seus perfis psicológicos intrigaram bastante o Capote. Ao entender que o motivo da morte dos Clutter ia além de uma tentativa de roubo frustrada (não havia dinheiro relevante na casa). Perry era mestiço (a mãe era índia) e vinha de uma família bastante conturbada (dois irmãos haviam se matado e a mãe morrera de tanto se embebedar), fazendo com que Capote entendesse a seguinte frase de uma irmã de Perry que ainda estava viva na época: “Perry usa a mão tanto para apertar a sua quanto te enforcar”. Mas isso não impede o carinho entre os dois. O assassinato ocorreu principalmente por haver uma cessão social. A partir do momento que Perry percebeu que nunca poderia ter o respeito de alguém como o Sr. Clutter, o desfecho se tornou certo: a morte.

“Do que vocês têm medo? Pode acontecer novamente.”

O filme mostra bem o efeito avassalador que um assassinato pode trazer a uma pequena e pacata comunidade. Quando Capote chega à cidade, percebe como a vida era arcaica por lá: todos pediam a cabeça dos assassinos (não se importando se merecem um julgamento justo ou não) e eram repletos de preconceitos (homofóbicos e xenofóbicos). Com isso, o livro se destacou mais, ao trazer os assassinos de volta à condição humana.

“Mas está na hora da coleira.”

Os assassinos são condenados à morte por enforcamento. Nesse momento, Capote entra em um conflito interno: para que o livro pudesse ser terminado, os dois deveriam morrer, mas o amor que ele sentia por Perry não permitia que ele fosse morto. Isso arrastou o escritor ao mundo das bebidas (morrendo, mais tarde, pelo excesso de bebida). Após o enforcamento, Capote se culpou por muito tempo por não conseguir os salvar e, principalmente, por não querer que eles fossem salvos. Depois desses acontecimentos, o escritor não conseguiu terminar mais nenhum livro e lançou uma frase um tanto famosa quanto verdadeira:

“Mais lágrimas são derramadas pelas orações atendidas do que as que não são.”

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