sexta-feira, 19 de março de 2010

Entre dois amores

Atenção: O filme é comentado do início ao fim, podendo conter spolier.

Out of Africa

É um filme dos EUA lançado em 1985 que se baseia na história real de Karen Blixen. É romance épico que tem como plano de fundo o Quênia, na África. Levou Oscar e Globo de Ouro de “melhor filme” e “melhor trilha sonora original”, ganhou mais um Globo de Ouro em “melhor ator coadjuvante” e ficou com o BAFTA e Oscar de “melhor roteiro adaptado”, “melhor fotografia” e “melhor som”, sem contar o “melhor direção de arte” do Oscar. De prêmio, levou o David di Donatello de “melhor filme estrangeiro” e “melhor atriz estrangeira”.

“A terra é redonda para que não possamos ver muito longe.”

Para o começar, o título original é “Out of Africa” que faz mais sentido que os “Entre dois Amores”. Não há no filme uma indecisão entre esses amores, mas sim o surgimento e o término dessas duas paixões inesperadas. Meryl Streep é a atriz que interpreta perfeitamente a Karen Blixen, uma dinamarquesa de família rica que se casa com um amigo por conveniência (ela, para ter o título de Baronesa e ele, para ter o dinheiro). Com esse casamento, o Barão Blixen construiu uma fazenda de café no Quênia. A África é o tempo todo retratada como um refúgio paradisíaco. Um refúgio do surto industrial que acontecia na época e das guerras mundiais que estavam por vir.

“Deus brinca conosco quando ouve nossas orações.”

Karen é retratada como uma mulher bonita, culta, forte, com aptidão para negócios e ousada. Tem um grande prezo pela sua liberdade pessoal e possui um espírito aberto, que tornou possível e fácil sua adaptação num local como a África. Com o casamento, o título de Baronesa se tornou um passaporte para entrar na sociedade e poder ter uma atividade produtiva (ao invés de viver o ócio que era concedido às mulheres da época). Mas o barão lhe é sempre infiel e egoísta, deixando-a sempre sozinha na fazenda. Mesmo assim, ela se apaixonou por ele e fez o possível para se aproximar dele. Isso até o dia em que ela descobriu que contraíra sífilis vinda de seu marido. Com isso teve que voltar à Dinamarca para fazer um tratamento pesado com arsênico e, depois, voltar à África. Nesse ponto, ela descobriu o grande amor que ela sentia pelo Quênia e que perdera sua identidade com a terra natal. Daí para frente, o casamento passou a ser pura aparência, apesar do amor que ela nutria pelo Barão.

“No seu mundo ideal, não existiria o amor.”

Mas o amor mais intenso da história é entre a Baronesa e Denys, um lobo solitário. Amante da natureza e da África, é tranquilo e ágil. Eles são a verdadeira personificação da frase: os opostos se atraem. Grosseiro, espontâneo e aventureiro, mostrou outro lado da vida para a Karen. Entre suas experiências estão o fazer um safári e voar de avião pelas terras do Quênia. Eles chegaram a passar uma boa temporada juntos, como se fossem casados. No fim das contas, o relacionamento não funciona muito bem por ele não querer compromisso. Ficam nesse dilema até a queda do avião, na qual Denys morre.

“Existem coisas que valem à pena, mas elas têm um preço. E eu não quero ser uma delas.”

Durante o filme, é perceptível o escasso dos europeus para com os africanos e suas culturas exóticas. Assim que Karen voltou da Dinamarca (curada da sífilis), ao saber que não poderia mais ter filhos, criou um sistema de educação para os Kikuyu, tribo indígena que morava em suas terras. Contratou um missionário para dar as aulas às crianças pequenas. As maiores não poderiam aprender por ordem do chefe da Tribo. Ele deveria ser o mais inteligente de todos, então as crianças maiores não poderiam aprender, enquanto as pequenas, que até crescerem o líder já terá morrido, poderiam. Mantém-se assim, na tribo, uma hierarquia de respeito. Que deve ser respeitada pelos estrangeiros. Após um tempo, é possível ver que até mesmo a Karen tinha certos preconceitos: enquanto os ingleses achavam que os africanos eram ignorantes demais para aprender, Karen achava que eles precisavam aprender a ler e escrever como europeus para serem inteligentes.

“É um sentimento estranho, a despedida. Há uma certa inveja nela.”

No final do filme, a vida de Karen se transforma numa verdadeira bola de neve de desgraças. Para começar, o Barão pede o divorcio para poder se casar com outra mulher rica (apesar de ele garantir a continuidade da amizade) e ela o dá. A fazenda, que funciona aos trancos e barrancos, consegue produzir a sua melhor safra – que é queimada num incêndio do celeiro, levando assim a Baronesa á falência. Seu amante morre em um acidente de avião, e quebrada financeiramente, têm de vender todas as suas coisas e doar dos objetos sentimentais (como a bússola que Denys lhe deu – para que ela possa encontrar o caminho dela). Para fechar a humilhação com chave de ouro, ela ainda tem que se ajoelhar e implorar ao governador local na frente de todos para que ele arranje uma boa terra para os Kikuyu. E, pelo menos, isso ela consegue. Ao voltar sozinha e pobre para a Dinamarca, ela nunca mais retorna a África, o seu paraíso declarado.

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